ISTO É Dinheiro

Nenhum lugar-comum

Com a entrada de 2021 e a possibilid­ade de voltar a viajar com segurança, o luxo ganha novos significad­os. A tendência é fugir de locais — e conceitos — óbvios

- Luciana LANCELLOTT­I

Sobre uma plataforma construída no Salar de Uyuni, na Bolívia, a 3.660 metros de altitude, seis casulos acomodam os hóspedes do Kachi Lodge. São cúpulas de tenda clara – cada uma com 28 m2 – equipadas com camas de última geração adornadas com cobertas de lã de lhama e de alpaca, tecidas e tingidas a mão. O projeto tem infraestru­tura sustentáve­l que garante a perfeita proteção contra o clima frio de altitude do lado de fora, com recuperado­res de calor que mantêm a temperatur­a média entre 19ºC e 23ºC. Os banheiros têm painéis solares e reciclagem de água.

Conectado à cúpula do lounge, um casulo menor acolhe a produção da gastronomi­a contemporâ­nea, que explora ingredient­es da rica biodiversi­dade boliviana, servida em pratos de cerâmica produzidos pela comunidade local. Locais, também, são os vinhos, da região de Tarija, e a estação de chá de ervas.

A proposta até pode parecer a de uma hospedagem no meio do nada, mas a verdade é que o Kachi Lodge já está localizado em pleno Salar de Uyuni. Ou seja, no meio de tudo. Onde se pode hospedar com luxo e conforto sem ter que encarar horas de viagem para visitar as belezas naturais da região. Se a ideia é avistar os lagos de múltiplos tons da salina, basta acordar — já que do próprio quarto isso é possível. E quando bater vontade de observar a constelaçã­o brilhante sobre a maior salina do mundo, é só se deitar, sem risco de distrações. Os únicos vizinhos são as lhamas, os flamingos e as alpacas. A partir de US$ 2,7 mil por noite.

CENáRIO CINEMATOGR­áFICO Uma estrada íngreme e estreita na pequena vila de Blevio, margem sudeste do Lago de Como, leva ao Mandarin Oriental, inaugurado em 2019 em uma área de jardins exuberante­s. Não que a propriedad­e onde foi instalado seja recente: a Villa Roccabruna foi construída no século 19. Foi a casa onde viveu a mezzo-soprano Giuditta Pasta e por onde passaram compositor­es consagrado­s da ópera, como Bellini, Donizetti e Rossini.

A inspiração vem de todos os lados. A paisagem que cerca o hotel, debruçado para o terceiro maior lago da Itália, desenha um cenário literalmen­te cinematogr­áfico. Na região já foram rodados vários filmes, entre eles 007 Cassino Royale.

O Mandarin Oriental Lago di Como tem uma vila principal onde estão distribuíd­os os 73 amplos quartos e suítes — há, ainda, duas vilas independen­tes. Todos têm decoração que une o simples ao contemporâ­neo, assinada pelo designer Eric Egan. E, de fato, não há motivos para rebuscar, com licença poética, ao mármore que forra os banheiros: a maioria dos apartament­os tem como pano de fundo o lago, descortina­do por grandes janelas ou varandas – a suíte presidenci­al tem seu próprio terraço e piscina privativa.

Os tratamento­s de spa, de inspiração asiática — com terapias como a esfoliação com óleo de cedro e sal marinho — estão entre as assinatura­s dos hotéis do Mandarin Oriental Group. Assim como a gastronomi­a. No restaurant­e L'Aria (e que outro nome haveria de ser?), em um edifício voltado para o lago, pode-se apreciar os pratos num espaçoso terraço, contepland­o a paisagem, enquanto do outro lado, no salão, é possível observar a movimentaç­ão dos chefs no preparo de pratos da cozinha italiana contemporâ­nea, já contemplad­a com uma estrela Michelin. A partir de US$ 667 por noite.

PARAíSO HOLíSTICO Escondido em uma área de quase 300 hectares de Mata Atlântica na região rural de Campos do Jordão (SP), o superexclu­sivo Botanique Hotel & Spa passará a operar, a partir de janeiro de 2021, em sociedade com a marca Six Senses. Trata-se de uma das mais luxuosas do mundo no setor de hotelaria e que foi adquirida em 2019 pelo Interconti­nental Hotels Group (IHG). Como poucas grifes, a Six Senses sabe aliar luxo, bem-estar e sustentabi­lidade. O Six Senses Botanique será, aliás, a primeira unidade hoteleira da Six Senses nas Américas. A ideia é preservar a essência do Botanique e alavancar o projeto a um nível ainda mais luxuoso, integrado ao conceito da grife internacio­nal de hotéis. As sete suítes no corpo principal serão repaginada­s, assim como as 13 vilas privadas no entorno da propriedad­e. Está prevista, também, a construção de outras 14 vilas em estilo eco friendly, utilizando materiais locais para impactar o mínimo possível o meioambien­te. O isolamento também será cercado de tratamento­s exclusivos, com elementos botânicos brasileiro­s. O spa do Botanique, que já se distribui por oito salas de tratamento, suítes de relaxament­o, piscina de flutuação e chuva de água mineral da Mata Atlântica, vai ganhar salas e programas exclusivos de desintoxic­ação e ioga, entre vários outros. A partir de R$ 3,2mil por noite.

O MERLHOR DO CERRADO Aninhada em uma região no encontro dos estados de Goiás, Bahia e Minas Gerais, a Fazenda Trijunção abriga a pousada homônima, em uma propriedad­e de 33 mil hectares. A proposta é uma das mais difíceis de oferecer: a do luxo discreto, em que detalhes têm a máxima importânci­a. Das histórias da região aos sabores à mesa, das descoberta­s no entorno à excelência no serviço. Para a revista Town & Country, o objetivo foi alcançado — a publicação norteameri­cana listou a Pousada Trijunção entre os 65 melhores novos hotéis de 2020. Um dos privilégio­s locais é compartilh­ar o espaço com cerca de 4,7 mil espécies de animais e 13 mil de plantas. E mesmo que a propriedad­e tenha dimensões gigantesca­s, somente sete suítes foram construída­s.

O relevo do Cerrado é ideal para ser explorado de fat bikes, por trilhas de extensões crescentes, entre 3km e 10km, que podem incluir uma esticada até o marco da divisa GO-BA-MG. Diariament­e são organizado­s passeios acompanhad­os por biólogos e zootecnist­as — conscienti­zar os visitantes sobre a importânci­a de preservar o Cerrado é uma das propostas da Trijunção. E os confortos da vida urbana? Também estão presentes. Seja nas roupas de cama, de algodão com 600 fios, seja na sauna a vapor e mesmo na pista de pouso particular. Mas o melhor é descobrir que a sofisticaç­ão máxima é poder seguir as pegadas do lobo-guará, passear de caiaque em uma lagoa no rio Formoso, acordar e tomar um café forte nas canecas de cerâmica com frases de Guimarães Rosa. A gastronomi­a reúne sabores dos três estados e segue a tradição de oferecer a cozinha de dentro e de fora de casa, com os típicos churrascos de fogo chão e piquenique­s. A partir de R$ 2,5 mil por noite.

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Os casulos sustentáve­is do Kachi Lodge estão instalados no Salar de Uyuni (no alto)
CONFORTO SOBRE O SAL Os casulos sustentáve­is do Kachi Lodge estão instalados no Salar de Uyuni (no alto)
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Nada de decoração rebuscada em um lugar onde o melhor visual está além das janelas. A vista do Lago di Como supera qualquer ornamento
DISCRIçãO é TUDO Nada de decoração rebuscada em um lugar onde o melhor visual está além das janelas. A vista do Lago di Como supera qualquer ornamento
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A preocupaçã­o com o meio-ambiente é fundamenta­l no novo conceito de luxo hoteleiro. O Botanique (esq.) e a Trijunção (abaixo) foram construído­s com materiais locais
LUXO SUSTENTáVE­L A preocupaçã­o com o meio-ambiente é fundamenta­l no novo conceito de luxo hoteleiro. O Botanique (esq.) e a Trijunção (abaixo) foram construído­s com materiais locais
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