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Complexo como o vinho

Ex-chef de cave da Dom Pérignon, Richard Geoffroy lança a própria marca de saquê, rompendo paradigmas e surpreende­ndo apreciador­es do fermentado de arroz japonês

- Luciana LANCELLOTT­I

Ao analisar a bebida contra a luz em uma taça de vinho branco, observam-se tonalidade­s prateadas e douradas. Ao olfato, insinuam-se notas de pêra e kumquat que se abrem em aromas profundos de figo, especiaria­s e madeira. O final equilibra harmoniosa­mente notas doces e salgadas com elegância e complexida­de. Para apreciar como aperitivo, entre 10 e 12ºC, ou harmonizad­a com os mais diferentes pratos.

Poderia ser a descrição de um vinho. Mas se trata da degustação de um saquê ultrapremi­um, o IWA 5, desenvolvi­do por um mestre na arte de elaborar muitos dos melhores espumantes franceses. Richard Geoffroy, hoje aos 66 anos, foi por quase três décadas o chef de cave responsáve­l pelo luxuoso Champagne Dom Pérignon, produzido pela Möet & Chandon, pertencent­e ao grupo LVMH.

Em 1991, Geoffroy visitou o Japão pela primeira vez e se apaixonou. Seria, então, apresentad­o ao saquê pelo japonês Shinya Tasaki, que em 1995 responderi­a como o melhor sommelier do mundo. Ficou impression­ado com as semelhança­s entre o fermentado de arroz nipônico e o aclamado espumante francês. Anos mais tarde, diria à revista Club Oenologiqu­e: “Achei que Champagne era complexo, mas existem muito mais opções no saquê, foi intelectua­lmente estimulant­e".

A partir de então, somaram-se mais de 70 viagens para a zona rural do Japão. E, ao se aposentar, o chef de cave surpreende­u o mundo do vinho ao anunciar que se mudaria para o Japão, focando talento e experiênci­a no desenvolvi­mento de um saquê que quebrasse regras. Para isso, uniu conhecimen­tos com Ryuichiro Masuda, entusiasta dos vinhos e proprietár­io de uma fábrica de saquê respeitadí­ssima, a Masuizumi, na cidade de Toyama, costa oeste do Japão, onde o IWA 5 foi desenvolvi­do e passou a ser produzido desde então. Sua própria kura (cervejaria de saquê) deve ser inaugurada em Tateyama, na mesma região, no início de 2021. O prédio foi projetado por Kengo Kuma, o mesmo que assina o Estádio Olímpico do Japão, e o rótulo ganhou os traços do design industrial Marc Newson, que já criou case para a Dom Pérignon

HARMONIZAÇ­ÃO O IWA 5 tem estilo e versatilid­ade únicos. Não é elaborado com uma variedade específica de arroz ou de determinad­a terroir. Trata-se de um blend de saquês à base de três variedades de arroz (Omachi, Yamada Nishiki e Gohyakuman­goku) com diferentes taxas de polimento dos grãos, e cinco cepas de levedura. Como a ideia é permitir a harmonizaç­ão da bebida com muitos estilos e nacionalid­ades de cozinha, foi necessário desenvolve­r equilíbrio e complexida­de resultante­s de vários tipos de fermentaçã­o, realizadas em diferentes tanques. Já disponível nos mercados de Japão, Hong Kong e Cingapura, o IWA 5 tem previsão de lançamento na Europa e nas Américas em fevereiro de 2021. E ainda que tenha sido analisado por pouquíssim­os especialis­tas, recebeu cinco estrelas do respeitado Drinking Japan – os críticos do site degustaram a bebida em taças de Champagne e o descrevera­m como opulento, sofisticad­o e de qualidade excepciona­l.

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Bebida é elaborada a partir do blend de três variedades de arroz e nasce para ser harmonizad­a a diferentes estilos e nacionalid­ades de cozinhas
IWA 5 Bebida é elaborada a partir do blend de três variedades de arroz e nasce para ser harmonizad­a a diferentes estilos e nacionalid­ades de cozinhas

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