Viviane Isabela de Oliveira Martins
escritórios do cliente. E havíamos adotado essa prática antes da pandemia, com algumas pessoas optando por trabalhar em casa alguns dias por semana. Isso tem benefícios, porque traz flexibilidade nos deslocamentos. Aumenta a eficiência. Mas, como dizemos, eficiente não é suficiente.
Por quê?
Adotado de forma integral, o home office tolhe a colaboração. A empresa tem de criar e manter sua cultura, tem de desenvolver outras competências, e isso só é possível de forma presencial. O que percebemos com os colaboradores dos nossos clientes passando a trabalhar em casa? Notamos mudanças profundas nas relações de trabalho. Quando os funcionários vão para casa, as empresas que exerciam liderança baseada apenas na base do controle tiveram de mudar. Sabe aquele líder que pensava que tinha de estar ali fiscalizando o funcionário para ele produzir?
Esquece.
Como os líderes terão de atuar? A partir de agora, o líder terá de alinhar as expectativas da equipe com as necessidades da empresa. Ele vai enxergar só os resultados finais e parciais de entrega. Alguns líderes arcaicos poderiam até dispensar a presença física, mas controlavam o processo em cada detalhe. Queriam saber os meios, definiam até a planilha que o funcionário estava usando. Agora, as exigências serão diferentes. O colaborador terá muito mais autonomia. Ele vai executar a tarefa na hora em que se organizar para isso. A autonomia vai crescer, e o controle será cada vez mais frágil. As relações de confiança são cada vez mais importantes e têm de ser fortalecidas.
Vocês são interlocutores privilegiados das empresas. Qual o sentimento para 2021? Em geral, as empresas estão começando a pensar em retomar o crescimento. O otimismo não é tão grande quanto nós gostaríamos, mas notamos que as companhias já começam a se mover. A capacidade de adaptação do empresário brasileiro é elevada. Além disso, as pequenas e médias empresas são muito maduras quando fazem a gestão de seu caixa.
Todo empresário sabe que caixa tem relação com sobrevivência. Por isso, mesmo passando um aperto no começo da pandemia, muitos conseguiram se adaptar.
Quais os setores promissores e quais os arriscados?
Poucos setores passaram ilesos. O agronegócio teve um desempenho excepcional em 2020, mas é preciso tomar cuidado em 2021. O sucesso do ano passado não vai se repetir, pois a chuva está atrasada e o câmbio não deverá estar tão favorável. As empresas mais voltadas para o consumo se entusiasmaram com o auxílio emergencial no inicio da pandemia. E as companhias de bens de capital, de automóveis e de bens de consumo durável têm um desafio adicional, que é o de reorganizar suas cadeias de suprimento. Muitas delas se desestruturaram durante a pandemia. No caso do setor automobilístico, religar a cadeia não é apenas apertar um botão.
A pandemia mudou algo na Vicente Falconi? Aceleramos um processo de transformação interna que vínhamos conduzindo há algum tempo e lançamos dois negócios. Um deles é voltado para o desenvolvimento de pessoas. Nessa área as coisas acontecem rápido. Por isso, há dois anos, fizemos uma aposta em uma plataforma para o desenvolvimento de competências. O outro é uma solução especifica para médias empresas. Descobrimos que muitas companhias aspiravam a ser nossos clientes, mas elas não conseguiam pagar. Nosso negócio é muito intensivo em mão de obra muito especializada, e esse formato de atendimento não cabe no bolso da maioria das empresas. Assim, fomos pesquisar os formatos e desenvolvemos uma plataforma tecnológica que reduz os custos. Montamos um produto para atender esses clientes em três grandes fases. Quando precisam profissionalizar, quando há momentos de consolidação em seus setores e quando há questões de sucessão e de governança para resolver. Isso eliminou muita frustração, pois nossa missão é transformar a vida das empresas.
“O agronegócio teve um desempenho excepcional em 2020, mas esse sucesso não vai se repetir em 2021, pois a chuva está atrasada e o câmbio não deverá estar tão favorável”