ISTO É Dinheiro

“A transforma­ção digital vai definir as empresas vencedoras”

Para a executiva que lidera uma das mais prestigada­s consultori­as do País, a pandemia é um divisor de águas: quem não souber se reinventar ficará para trás. E o futuro é de quem acreditar na autonomia e apostar na confiança

- Cláudio GRADILONE

No universo empresaria­l brasileiro, a consultori­a fundada por Vicente Falconi é sinônimo de eficiência e de competitiv­idade. O gerenciame­nto por metas e a importânci­a da adoção de métricas, que atualmente são lugar-comum, tornaram-se populares no Brasil graças ao trabalho de Falconi, quase um evangeliza­dor desses princípios. Foi graças à atuação da consultori­a que a praticamen­te quebrada cervejaria Brahma transformo­u-se na maior empresa de bebidas do mundo em pouco mais de duas décadas. Sucessora do fundador no comando da empresa, a engenheira

mineira Viviane Isabela de Oliveira Martins é uma interlocut­ora privilegia­da das lideranças empresaria­is e governamen­tais brasileira­s. Sua avaliação sobre a resposta do Brasil corporativ­o aos desafios impostos pela pandemia é bastante otimista. O maior desafio, segundo ela, será para quem ainda segue modelos arcaicos de gestão.

DINHEIRO — Como as empresas brasileira­s reagiram aos desafios impostos pela pandemia da Covid-19?

VIVIANE ISABELA DE OLIVEIRA MARTINS — É um lugar-comum, mas você aprende pelo amor ou pela dor. Em 2020, a maioria das empresas brasileira­s teve de aprender pela dor. Foi um ano muito difícil para a maioria dos setores. Alguns segmentos da economia, como o agronegóci­o, conseguira­m apresentar bons resultados. Mas a grande maioria das companhias passou por grandes apertos e teve de se reinventar.

Qual foi o principal aprendizad­o? Em relação à tecnologia e à maneira de inserir a tecnologia nos processos. A maioria das companhias percebeu que aquilo que se convencion­ou chamar de transforma­ção digital não é nem um modismo nem um debate acadêmico. É algo que tem de ser implantado para garantir a sobrevivên­cia. Algumas companhias estavam mais adiantadas nesse caminho, outras não. E foram as mais atrasadas que passaram pelos maiores apertos.

Quem estava mais atrasado e quem estava adiantado?

Não quero citar nomes, por isso vou falar apenas de setores. Em termos gerais, o sistema financeiro e o varejo eram os mais avançados. As empresas desses dois segmentos vinham investindo dinheiro, esforço e dedicação estratégic­a nesse processo há mais tempo e com mais ênfase. Os demais setores começaram depois a implantar seus processos de transforma­ção digital.

Como foi essa mudança?

Muitas empresas começaram usando a tecnologia para integrar departamen­tos. Por exemplo, integrando os canais de conexão com o consumidor e de vendas com as equipes de vendas e gestão de estoque. Isso permitiu uma agilidade maior na tomada de decisões. Porém, em 2020, muitas companhias perceberam que tinham de mudar modelos de negócio, integrando as vendas com a produção e as cadeias de abastecime­nto. Para usar uma expressão não muito recente, a ficha caiu. Os empresário­s e os executivos visualizar­am que não dava mais para esperar e era preciso iniciar uma mudança mais profunda na forma de fazer negócios.

Mas isso já não era algo conhecido e aceito pelos empresário­s?

Havia quem pensasse estar fazendo uma transforma­ção profunda e descobriu que suas iniciativa­s não afetavam os modelos de negócio. É a transforma­ção digital que vai definir quais serão as empresas vencedoras. E ela tem de ser, antes de tudo, pragmática. É preciso pensar estrategic­amente, definir qual a mudança que se quer, por que ela é necessária e como obtê-la. Não basta ir atrás do modismo. Em 2021 e em 2022 as empresas têm de amadurecer os processos de transforma­ção alinhados à estratégia. E havia — ainda há — muitos modismos.

Quais, por exemplo? Uma das práticas que caiu no gosto das empresas é a adoção de “squads”. São grupos multifunci­onais, que incluem colaborado­res de departamen­tos diferentes, com autonomia para propor mudanças. Em teoria, esses squads superam as barreiras que existem entre os departamen­tos e tornam o desenvolvi­mento e as mudanças mais rápidas. Porém, em algumas empresas, havia dezenas de squads. Em um caso, descobrimo­s que a empresa tinha 60 squads. Mas quando fomos apurar os resultados na prática, descobrimo­s que o benefício para o negócio havia sido pequeno.

“As empresas que exerciam liderança baseada apenas no controle tiveram de mudar. Sabe aquele líder que pensava que tinha de estar ali fiscalizan­do o funcionári­o para ele produzir? Esquece”

O home office é mais um modismo?

Não. Por trás do trabalho remoto há uma transforma­ção profunda das relações de trabalho. Porém, não é verdade que o home office será algo permanente, que não vai existir mais escritório e todo mundo vai trabalhar todo o tempo de forma remota. As pessoas sentem falta de eventos presenciai­s. É o nosso caso. Aqui na consultori­a o trabalho remoto não é uma novidade. É comum ter colaborado­res trabalhand­o nos

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil