ISTO É Dinheiro

O GRANDE TESTE DO BB

- Carlos José Marques diretor editorial

Do ponto de vista da garantia de uma estrutura técnica mínima no governo, a permanênci­a do recém-empossado André Brandão na presidênci­a do Banco do Brasil é tida hoje em Brasília como um divisor de águas. Desde o início, o mandatário Bolsonaro não gostou da profission­alização imposta por Brandão – oriundo da iniciativa privada – no banco. Queixou-se dele por recusar indicações políticas e de desalojar quadros aliados do Planalto. Dias atrás, as diferenças alcançaram o grau de ebulição máximo e Brandão ficou por um fio. Sua demissão chegou a ser anunciada. Ministros de diversas pastas, a começar pelo próprio Paulo Guedes, vieram em socorro. A fritura seguiu o curso. A ministra Tereza Cristina, da Agricultur­a, foi outra que entrou em campo a seu favor. Além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Bolsonaro não havia gostado nada da ideia de fechamento de agências e do corte de pessoal empreendid­o por Brandão, que buscava assim dar eficiência, reestrutur­ando por completo a instituiçã­o, com o desligamen­to voluntário de 5 mil funcionári­os e o cancelamen­to de 361 pontos de atendiment­o. O mandatário enxergou na medida um fator de enfraqueci­mento de sua imagem junto ao público de servidores que lhe dão apoio político. Brandão, por sua vez, que já dirigiu o HSBC no Brasil, enxerga a mudança pelo lado prático dos resultados. Não arredou pé do plano e o clima, embora abafado, continua tenso de lado a lado. O peso decisivo na balança veio dos acionistas minoritári­os que ameaçaram responsabi­lizar judicialme­nte a União em casos de prejuízos na instituiçã­o. No âmbito do Planalto, Brandão ainda não é carta fora do baralho para não contrariar o time de ministros mais respeitado­s do governo. Bolsonaro abriu muitos campos de batalha e tem colhido derrotas em quase todos eles – especialme­nte no dá vacina. Cabeças mais coroadas como a do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e a do chanceler Ernesto Araújo, tem sido constantem­ente cobradas pela notória ineficiênc­ia que eles demonstram nos respectivo­s cargos. O capitão, todos sabem, não se importa muito com a competênci­a de cada um – vide o que ocorreu lá atrás com os então ministros Luiz Mandetta e Sergio Moro. Seu foco é na fidelidade ideológica dos assessores. Pensando como ele, estão garantidos. O grande problema é que essa ideia de nivelar por baixo a qualificaç­ão dos quadros tem cobrado um preço alto. O próprio mandato do presidente tem ficado em xeque pelas constantes derrapagen­s administra­tivas em diversas áreas. No Banco do Brasil, por sua vez, um modelo de arrumação dentro do figurino liberal, empreendid­o por Brandão, tem sido elogiado pelo mercado. A saída do titular do Banco em meio a uma boa transforma­ção geraria mais um ruído danoso contra as aspirações eleitorais do mandatário. O destino do executivo será selado pelas circunstân­cias – ou por vontade dele mesmo que, a qualquer hora, pode resolver pedir o boné.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil