DANIEL TOLEDO
Especializado em direito internacional, possui um canal no YouTube com mais de 85 mil seguidores que traz dicas para quem deseja morar, trabalhar ou empreender fora do País. É membro efetivo da Comissão de Relações Internacionais da OAB São Paulo.
A maneira como tratamos a vacinação influencia a imagem do País no exterior?
É indiscutível a omissão do governo federal. Tivemos a decisão do STF [em dezembro, de conceder aos estados autonomia para
importar vacinas] e a impressão foi a de que, a partir disso, o presidente Jair Bolsonaro virou e disse: ‘Bem, então eu lavo as minhas mãos’. Mas estamos falando de vidas. Paralelamente, também não se pode ignorar que nos estados houve problemas graves, ao longo do ano passado, com várias denúncias de corrupção e desvio de dinheiro que deveria ser de combate à pandemia.
E o reflexo disso no cenário internacional...
Passamos uma grande vergonha.
Muitas vezes na política internacional as bravatas e disparates podem ter reflexos apenas no médio ou longo prazo. Ou existem efeitos concretos mais imediatos?
Vou citar pelo menos um. Quando houve restrição de viagem de brasileiros para os Estados Unidos a medida [suspensa apenas na segunda-feira (18), mas que deverá ser revista por
Joe Biden] incluiu o Brasil e não o México.
E olha que para Donald Trump o México era quase o inimigo, ele se elegeu falando da construção do muro... Estamos nessa por causa do número crescente de casos e por causa do descontrole da situação, que foi decisivo.
Nem a parceria Bolsonaro-Trump evitaria?
Essa aproximação foi pessoal e não fruto de política internacional. Não foi uma aproximação de países. O que acabou sendo muito ruim e deixamos de ter vários vínculos positivos com os Estados Unidos.
Em relação ao nosso principal parceiro, a China, como estão as coisas? Será possível passar por cima das rusgas?
A relação Brasil-China é comercial mesmo. Não tem nada de pessoal. Houve um monte de farpas e críticas trocadas a partir do presidente Bolsonaro, mas nas relações dos meus clientes com a China, por exemplo, não houve qualquer estremecimento na questão comercial.
No geral, o saldo é...
Nossa visibilidade global virou a de um País de terceiro mundo.