CEO do Lide China
precisará fazer o que ainda não fez: negociar com os asiáticos. “Pode estar em jogo a participação da Huawei. A China é importante não só no âmbito de importação e exportação, mas no intercâmbio de tecnologia”, afirmou Luz Júnior.
Para isso, o Brasil precisa emitir sinais de que adotará uma postura mais pragmática e menos ideológica com seu principal parceiro comercial. Sem ataques como os que foram feitos pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro. “Os chineses não estão exigindo retratação, mas certamente eles gostariam que o Brasil parasse com esses comentários desrespeitosos para um resgate da relação de confiança”, afirmou.
DINHEIRO – A dificuldade que o Brasil teve de obter insumos para produção de vacinas contra a Covid-19 reflete o fracasso da diplomacia brasileira em relação à China? JOSÉ RICARDO DOS SANTOS LUZ JÚNIOR — Historicamente, a relação entre Brasil e China é de amizade, profícua e duradoura. A China não vê o Brasil só por um mandato de quatro anos. Eles enxergam a longo prazo. Tanto que um dos pilares da China é o planejamento. Estamos na fase de discussão de um plano decenal 2022-2031 entre os países, que é elaborado pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban). Esse é um mecanismo político, que no caso do Brasil é dirigido pelo vice-presidente Hamilton Mourão. Nesse sentido, o Brasil está bem representado.
Mas existiram desavenças...
Tivemos, sim, por causa da ideologia. É uma relação muito boa, mas que precisa ser nutrida. Quando o deputado federal Eduardo Bolsonaro e o então ministro da
Educação Abraham Weintraub causaram situações de desconforto, vimos a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, falar em construir pontes, tamanho era a preocupação do empresariado do agronegócio brasileiro. E eu acredito que o Mourão possa ser o interlocutor para solucionar desgastes como o que ocorreu com a China. Hoje, ele é a pessoa mais adequada para fazer essa aproximação.
Essas desavenças não ficam mais graves quando a provocação parte do filho do presidente da República?
Evidentemente que é inadequada a postura. Porque estamos falando do nosso maior parceiro comercial. Ele tem uma figura representativa institucional muito forte, como deputado e como filho do presidente. A China é importante não só no âmbito de importação e exportação, mas no intercâmbio de tecnologia.
Falando nisso, a questão da participação da Huawei no leilão do 5G no Brasil pode voltar à mesa como forma de reciprocidade pela liberação dos insumos das vacinas?
Na questão do 5G, por exemplo, há três grandes players no mundo que fornecem tecnologia. A finlandesa Nokia, a sueca
Ericsson e a chinesa Huawei. Diversos países fizeram críticas à Huawei, o que fez surgir especulações sobre o veto da empresa no leilão que será realizado no Brasil. Eu entendo que esse assunto pode ser abordado entre as autoridades. A China já está começando a demonstrar sua insatisfação pelas recorrentes manifestações na esfera federal.
E o que eles querem, além de colocar a Huawei na discussão do 5G?
Os chineses não estão exigindo retratação, mas certamente eles gostariam que o Brasil parasse com esses comentários desrespeitosos para resgatar a relação de confiança. Entendo que a China pode, sim, abordar a questão do 5G nesse processo de liberação dos insumos. Pode estar em jogo a participação da Huawei no leilão.
“Evidentemente é inadequada a postura de Eduardo Bolsonaro, que tem uma figura institucional forte, como deputado e filho do presidente”
A China pedirá que o Brasil baixe o tom?
O embaixador chinês Yan Wanming já disse que não há condições de negociar com o chanceler brasileiro Ernesto Araújo. A relação Brasil-China passa por um desgaste, mas entendo que seja momentâneo. O governo brasileiro mostrou, na última semana, que a condução da relação estava aquém do esperado. Isso mostra que o Brasil percebeu que precisa melhorar.
O governo federal criticou reuniões de autoridades como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com representantes chineses. Mas isso não parte da própria ausência de porta-voz oficial?
Chinês é muito protocolar e sempre se manifesta por meio de um porta-voz. Em que pese essa boa vontade de algumas autoridades em resolver o impasse, temos já definido o interlocutor, que não só conhece a China, como preside o fórum