DE QUE PIB ESTAMOS FALANDO?
Um certo frenesi tomou conta do mercado e colocou em revisões sistemáticas as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Boa nova: os cálculos revistos apontam, invariavelmente, para cima e agora situam-se na casa de 3% no ano. Não é ainda para soltar rojões, mas, decerto, muito mais promissor que as apostas na casa de 1,5% a 2% que giravam entre analistas no início do ano. O movimento desta feita é uniforme: o FMI assenhorou, aumentando a projeção de 1,7% para 2,8%, um ajuste que não é pequeno. Bancos e associações de indústria foram atrás e a onda otimista prevaleceu. A Confederação Nacional da Indústria fala em 3,1%. Para se ter uma ideia de como ela teve de fazer um rearranjo considerável de esticada da margem de erro, a expectativa anterior, em julho passado — portanto, nem há tanto tempo assim — era de magros 1,4%. No tocante ao setor que responde, a virada é ainda mais significativa. Ela previa, no informe conjuntural, que o crescimento no chão de fábrica não passaria de 0,2% no ano. Agora cravou uma marca de 2% para o período de 2022. Está se falando de um patamar dez vezes maior. Em tempos de erro de pesquisas eleitorais, os números até aqui apontados como de tendências para o PIB também estiveram bem aquém. Os bancos, tradicionalmente mais conservadores, falam em algo entre 2,9% e 3%, ante a média de 2,3% inicialmente prevista. Os indicadores de confiança, os ajustes de preços de tarifas — mesmo que artificialmente montados — e os incentivos distribuídos a diversos segmentos explicam boa parte da rebordosa. Em Brasília, os novos indicadores são festejados pelo governo como vitória da tática de transmitir uma sensação de melhora em tempos de escolha nas urnas. Não há como negar, nesse aspecto foram bem-sucedidos. Vão conseguir manter a toada? Está se falando de um crescimento sustentável ou de um voo de galinha? Novamente, quem acompanha e trata de avaliar os movimentos do PIB converge para a ideia de que não haverá bonança de longo prazo nesse aspecto. Ao contrário: a retração já está contratada e precificada. Para 2023, as contas não são nada animadoras e situam-se na casa de 1% a 1,2%. E tem muitas variáveis metidas na equação quase negativa, a começar pelo estouro da conta do Orçamento Secreto, seguindo com o festival de benesses e concessões eleitoreiras, desonerações fiscais e demais facilidades à custa da saúde do caixa público, que deve pesar lá adiante. Mas como o que vale é a reação presente, não há como escapar de uma atenção mais detida sobre o fenômeno. As mudanças recentes de cenário, com a parcial normalização das cadeias de suprimentos e mesmo o ambiente de guerra entre Rússia e Ucrânia acabaram por favorecer o Brasil. Investidores em geral estão pouco a pouco se convencendo que, com a escassez de alternativas estáveis pelo mundo — risco de recessão generalizada e de inflação fora dos trilhos nas economias ditas desenvolvidas —, o mercado brasileiro se converteu numa excelente alternativa. O PIB do qual estamos falando no momento é decorrente dessa conjunção especialmente favorável, com fatores combinados que não estavam inicialmente no radar. A questão é que eles não são perenes e nem devem se prolongar daqui por diante. Ao contrário, podem refluir.