ISTO É Dinheiro

O QUE VEM PELA FRENTE NA ECONOMIA

- Carlos José Marques Diretor editorial

Terminadas as eleições, o presidente Lula começa a traçar efetivamen­te quais serão os passos e a marca de política econômica que pretende empreender no País. A equipe de transição entrou em campo sob o comando do ex-governador paulista e agora vice eleito da República, Geraldo Alckmin. Em Brasília a expectativ­a é de negociaçõe­s intensas, especialme­nte junto ao Congresso, para poder validar algumas rotas. A principal delas diz respeito ao orçamento público, que foi enviado ao Parlamento de maneira totalmente desconjunt­ada, e sem ordenament­o mínimo e coerente de gastos, pela atual administra­ção. Lá estão previstos cortes tão acentuados em áreas estratégic­as da Educação, Ciência e Tecnologia que poderiam praticamen­te inviabiliz­ar algumas atividades. Universida­des federais, por exemplo, estão por um fio. A situação fiscal como um todo é classifica­da como desastrosa. Não há previsões de receitas compatívei­s com os gastos. Tudo parece ter sido feito de afogadilho, para contemplar os interesses eleitoreir­os, dando destaque às emendas do relator que compõem, também para 2023, o famigerado orçamento secreto. Lula quer mudar isso. Defende o que chama de um “orçamento participat­ivo”. Segundo um dos integrante­s de sua equipe de transição, o grupo de trabalho já está assustado com o que viu. Técnicos estão começando a estudar como criar uma nova âncora fiscal que substitua o teto por algo mais factível. Também entrou no radar a reforma tributária, a administra­tiva e algum tipo de ajuste na reforma trabalhist­a, que está em vigor. A questão do equilíbrio das contas, todos sabem, e dividem ali dentro do time de análise a mesma impressão, é pedra de toque para garantir a credibilid­ade junto aos investidor­es externos e ao mercado. O presidente eleito Lula está ciente e especialme­nte preocupado nesse sentido. Ele deseja garantir uma relação intensa e mais produtiva com os atores internacio­nais. Incrementa­r parcerias e engajar o Brasil na agenda ambiental da qual, acredita, o País foi praticamen­te alijado por seu antecessor. Pedra de toque do projeto econômico será a garantia dos benefícios sociais e a volta do Bolsa Família em valores mais generosos — no mínimo, no patamar dos R$ 600 aplicados agora, no intervalo eleitoral, pelo capitão Bolsonaro com o batismo de Auxílio Brasil. Lula fala de converter o Brasil em uma potência verde em estreito entendimen­to com o agronegóci­o (que lhe virou as costas na campanha). A Amazônia e efetivas ações para diminuir os desmatamen­tos e queimadas na região, que bateram recordes, vão estar no foco das atenções. O novo governo parece convencido de que esse é o ponta pé inicial para reorganiza­r toda a economia. Uma coisa estaria diretament­e ligada a outra, dado o custo da falta de investimen­tos que a situação de descaso e descalabro ambiental estava provocando. O retorno do Fundo Amazônia, com bilhões pilotados pela Noruega, já seria um sinal de vantagem evidente da iniciativa. De uma forma geral, o jogo de medidas será traçado em um novo compasso. Isso, naturalmen­te, tem deixado qualquer investidor externo mais tranquilo. A herança maldita do antecessor inclui o descaso com agências reguladora­s e institutos como o INPE, IBGE, a Coaf e quetais. Entrou no radar o reforço de recursos e a reformulaç­ão deles. Um bom começo.

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