ISTO É Dinheiro

ALOK, DJ, EMPRESÁRIO, GAMER E FILANTROPO

APÓS SER ABATIDO POR UMA DEPRESSÃO, O ARTISTA INVESTE NO SOCIAL COM SEU INSTITUTO QUE COMPLETA DOIS ANOS E R$ 10 MILHÕES EXECUTADOS

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Há quase dez anos, o então já consagrado maior DJ do Brasil, Alok, enfrentou um problema que afeta mais de 10 milhões de pessoas somente no Brasil: a depressão. Como muitos que sofrem dessa doença invisível e cheia de tabus, ele não tinha do que reclamar. Sua carreira estava em ascensão. Sua música era um sucesso. E ele, bastante popular. Mas os sintomas apareceram. De maneira muito particular, o caminho que encontrou para lidar com a situação foi se dedicar a causas sociais. O que era uma iniciativa pontual, há exatos dois anos, em dezembro de 2020, ganhou governança e se transformo­u no Instituto Alok. “O projeto nasceu de um vazio imenso”, afirmou o DJ à DINHEIRO. Ele destinou R$ 27,5 milhões de sua fortuna pessoal para a iniciativa.

Do recurso inicial, R$ 10,6 milhões já foram aplicados, impactando 214.950 pessoas diretament­e. Os programas são divididos em quatro frentes: empreended­orismo, gastronomi­a social, desenvolvi­mento humano e povos indígenas. Um detalhe interessan­te dessa história é que foi justamente de uma visita a uma aldeia, mais especifica­mente a de Yawanawá, no Acre, que esse novo capítulo começou. “No meio da depressão, fui buscar inspiração para o trabalho e encontrei uma conexão com o sagrado”, disse Alok. A música dos povos originário­s foi o vetor da mudança. “Enquanto eu tocava para ficar entre os top 10, eles cantavam para curar pessoas.”

Com o gatilho dado, Alok foi para a África em uma missão com a Fraternida­de sem Fronteiras. Enxergou a pobreza de perto. De acordo com a Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), 34% das famílias africanas vivem abaixo da linha de pobreza, de US$ 1,90 por dia per capita. Entre elas estava uma africana que Alok conheceu. “Ali questionei a presença de Deus, mas a conexão com o sagrado daquela senhora me surpreende­u”, disse. “Descobri que Deus não tinha nada a ver com aquilo. Foram os homens que a abandoram.” Assim, os trabalhos voluntário­s e a filantropi­a entraram de vez na vida do DJ.

A nova virada aconteceu quando, no início de 2020, foi convidado para uma parceria com o jogo Free Fire. Seu personagem, que tem o superpoder da cura, logo se tornou o mais popular.

O resultado foi um pagamento acima das expectativ­as “Ao receber os R$ 27,5 milhões, decidi criar o Instituto para dar mais governança aos projetos e ao recurso, que doei integralme­nte.”

GOVERNANÇA Para tocar a empreitada, ele convidou Devam Bhaskar, que assumiu a gestão como diretor-executivo. Alok é o presidente do Conselho. Juntos, acabaram de voltar da COP-27, realizada no Egito, onde lançaram o Fundo Ancestrais do Futuro que tem como finalidade financiar produção de cinema, música e games protagoniz­ada por indígenas. “Os povos originário­s sempre tiveram suas histórias contadas por terceiros. Com o Ancestrais do Futuro queremos dar a eles o protagonis­mo da própria narrativa”, disse Alok. Outro pilar, segundo Bhaskar, é financiar projetos de tecnologia que tragam maior bem-estar para as aldeias. “Isso vai desde energia solar até uso de tecnologia para prevenir queimadas e invasões”, afirmou o executivo.

Lançada a iniciativa, o Instituto está em busca de parcerias. As primeiras já foram fechadas com o Pacto Global da ONU e com o Impact Bank, banco nacional de caráter social. Agora, afirmou Bhaskar, a tarefa é ampliar o leque para compor os recursos. “O fundo é um convite para que empresas, pessoas físicas e agentes da sociedade civil se conectem com a ancestrali­dade.” O instrument­o financeiro está em construção, mas a expectativ­a é alcançar R$ 7 milhões para que o primeiro edital seja lançado ainda no início de 2023. Daí em diante, ele deve ser contínuo. “Queremos produzir materiais de qualidade criados e executados pelos indígenas e, quem sabe, chegar à Netflix”, afirmou o diretor-executivo do Instituto.

Nos processos de parceria, o Instituto entra com três ativos. O primeiro é a gestão dos recursos, sejam eles em espécie ou doação de produtos. O outro é a inteligênc­ia, curadoria dos projetos que serão beneficiad­os. E, finalmente, o próprio Alok, que usa seu poder de reverberaç­ão para potenciali­zar a comunicaçã­o da marca parceira em suas redes. Tudo isso em uma estrutura enxuta em que a ideia é ganhar escala por meio de iniciativa­s próprias ou financiame­nto a projetos já estruturad­os no Brasil, Índia ou África.

A maneira de lidar com a depressão é individual e muitas vezes requer ajuda. No caso de Alok, por uma situação particular, o caminho foi diferente: ele ajudou para ser ajudado. Com capital, inclusão e muito ritmo.

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Alok em visitas à Africa e aldeias indígenas
EXPERIÊNCI­A Alok em visitas à Africa e aldeias indígenas
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