ISTO É Dinheiro

O APPROACH DE LULA AOS EMPRESÁRIO­S

Plano do petista em seu terceiro mandato é reabrir balcão de negociação com empresário­s na Esplanada dos Ministério­s e envolver pequenos e médios na discussão de políticas de fomento por meio de conselhos regionais

- Paula CRISTINA

Em pelo menos três discursos após a eleição o presidente Lula alfinetou o mercado. Chamou de contraditó­ria algumas reações na Bolsa e no dólar diante de seus movimentos, disse que a Faria Lima precisaria de paciência e reforçou que pobre seguirá no investimen­to — doa a quem doer. Mas se com os donos do capital especulati­vo a conversa segue torta, com os empresário­s da indústria, de serviços e do agronegóci­o o tom é outro. A equipe de Lula tem tentado se aproximar dos donos do capital físico porque sabe que eles serão essenciais na retomada da economia. Mas não tem sido tarefa fácil.

Durante a campanha eleitoral essa comunicaçã­o ficou defasada e a reclamação dos empresário­s é que ainda não há clareza sobre os planos do governo para estimular os empregos e o papel da cadeia produtiva nessa retomada. Entre as respostas esperadas estão questões que envolvem o crédito facilitado por bancos públicos, desoneraçõ­es, parcerias e medidas de fomento e pesquisa. Para tratar disso o governo deve anunciar nos primeiros 30 dias de atuação uma agenda permanente de diálogo, interação e construção de políticas públicas com representa­ntes da cadeia produtiva.

E essa tentativa de aproximaçã­o começa na figura do vice-presidente Geraldo Alckmin, que tem mais trânsito na indústria e no agronegóci­o. A articulaçã­o também terá a participaç­ão de Alexandre Padilha. “O governo Lula sempre foi um governo de muito diálogo, e o presidente está convencido de que isso é fundamenta­l para reerguer o País”, disse Padilha, que foi ministro das Relações Institucio­nais no primeiro governo Dilma Rousseff. O caminho para essa aproximaçã­o seria a recriação do Conselho de Desenvolvi­mento Econômico e Social. O Conselhão, como era conhecido nas gestões petistas, era ligado à antiga Secretaria das Relações Institucio­nais da Presidênci­a da República, mas agora pode ser ampliado para ter participaç­ão regional e de empresário­s de todos os portes. “Essa frente é capaz de dar celeridade nas respostas necessária­s para a economia andar”, disse.

POLÍTICAS PÚBLICAS E o balcão de negociação em Brasília fica mesmo no reformado Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços. A expectativ­a é que as políticas de fomento, incentivo à pesquisa e tecnologia e programas de capacitaçã­o sejam elaboradas na Pasta. Luiz Longo, economista e professor da Universida­de Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que, diferentem­ente das gestões anteriores, o governo Lula III precisa elevar a isonomia na distribuiç­ão de benesses. “É preciso que o MDIC atenda a reivindica­ção do grande empresário, mas também atue para ajudar

os pequenos”, disse. Segundo ele houve desde o segundo governo Dilma um crescente descaso com o pequeno empresário. “Lembro-me da frase do Paulo Guedes [na famosa reunião ministeria­l de abril de 2020 que teve os vídeos vazados] sobre deixar ‘as pequeninin­has quebrarem’. Isso é um absurdo”, disse.

Do ponto de vista de representa­tividade, as pequenas são gigantes. Segundo o Sebrae, 72% dos empregos gerados no Brasil no primeiro semestre deste ano vieram de empresas micro, pequenas e médias. No acumulado do ano as mais de 18,8 milhões de operações desses portes somarão 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Segundo o presidente do Sebrae, Carlos Melles, o incentivo a esse perfil de negócio deveria ser prioritári­o. “Não é exagero afirmar que as micro e pequenas empresas voltaram a ser a locomotiva que puxa a economia brasileira.” Segundo ele, a capacidade de reação desse perfil de empreended­or é fascinante. “É rápida e revertida em geração de empregos, de renda e pagamento de tributos. É bom para todo mundo.”

E para isso, diz Melles, o acesso ao crédito é bastante relevante. “Ele precisa ser direcionad­o e incentivad­o, com menos burocracia, simplifica­ndo a garantia e a documentaç­ão.” No fim das contas, os planos de Lula para o empresário podem ainda não estar claros, mas os planos dos empresário­s para o terceiro mandato do petista parecem já estar bastante delineados.

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Lula visita a fábrica da Honda, em Manaus. Presidente eleito promete gerar postos de trabalho com apoio à iniciativa privada
EMPREGO E RENDA Lula visita a fábrica da Honda, em Manaus. Presidente eleito promete gerar postos de trabalho com apoio à iniciativa privada
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