NA LUTA CONTRA A FOME
Apresentadora de TV, autora, chef, dona de um dos mais prestigiados restaurantes veganos de São Paulo e fundadora do Instituto Comida e Cultura, Bela Gil entra também na política defendendo a acessibilidade de alimentos
Epode ser reconhecida por vários feitos. Um herdado, mas os demais conquistados por mérito. Bela Gil é filha de Gilberto Gil, fato que, ao contrário de lhe pesar pela pressão de ter um pai considerado um ícone da cultura brasileira, é sempre abordado por ela com evidente orgulho. Mas essa capricorniana que completa 35 anos em 3 de janeiro conquistou espaço único e exclusivo no empreendedorismo da alimentação. Popularizou o veganismo na televisão, abriu um restaurante que expressa seu estilo de vida em São Paulo e neste ano fundou o Instituto Comida e Cultura, além de ter sido convidada para compor o Governo de Transição de Luiz Inácio Lula da Silva. “Olhando para trás fiz bastante coisa este ano”, afirmou Bela à DINHEIRO.
Uma de suas grandes vitórias como empreendedora do mundo físico — Bela já havia alcançado sucesso inquestionável como apresentadora dos programas Bela Cozinha, Vida Mais Bela e Refazenda exibidos no GNT — foi a inauguração do restaurante Camélia Òdòdó, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, em abril de 2021. O nome é uma junção de camélia, flor usada na lapela por abolicionistas no século XIX, e òdòdó, que significa flor na língua iorubá. Vinte meses depois de abrir as portas, a chef ressalta que foi nos últimos 12 que aconteceu a verdadeira consolidação da iniciativa. “O restaurante foi uma surpresa muito boa. As pessoas adoram e está sempre cheio. Foi uma grande conquista na minha vida e na minha carreira também.”
Com o negócio encaminhado, espaços na agenda foram abertos para novos projetos. Um deles foi a participação no reality show Em Casa com Gil, que deu a oportunidade à Bela de fugir um pouco do assunto da cozinha e passar um tempo em família. “Érala
mos 30 pessoas viajando juntas pela primeira vez na vida, foi incrível.” A série original da Amazon produzida pela Conspiração e com direção-geral de Andrucha Waddington teve cinco capítulos e foi exibida em dezenas de países. Gravada na casa de campo da família, é possível ver Bela em diversos papéis, como na cozinha, é claro, mas também como backing vocal e sobretudo como uma mulher, filha e mãe.
Na sua relação com seus filhos, retratada na série e em suas redes sociais, deixa claro outro lugar do qual não se esquiva: de uma cidadã com posições políticas bem consolidadas. Além de feminista, é ativista de uma alimentação acessível, saudável e sustentável como mostra em cenas gravadas desde que Flor e Nino eram ainda bebês. O que era uma preocupação pessoal com a nutrição das crianças se tornou o Instituto Comida e Cultura. Lançado em fevereiro, sua missão é instrumentalizar educadores infantis para que ajudem alunos de escolas públicas e privadas a se reconectarem com alimentos. Como instrumento usam práticas culinárias com resgates lúdicos da história, da cultura e da biodiversidade do País. Resultado de sua dedicação ao tema: recebeu o convite para participar do Governo de Transição de Lula.
Aceita a proposta, Bela Gil compôs o grupo de Desenvolvimento Social e Combate à Fome ao lado de outros sete integrantes. Entre eles, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), terceira colocada no primeiro turno da eleição presidencial; as ex-ministras do Desenvolvimento Social Tereza Campello e Márcia Lopes; e o coordenador do Centro de Referência em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Ceresan), Renato Sérgio Jamil Maluf. Nesse assunto, não esconde o otimismo. “Tenho muita esperança com esse terceiro mandato de Lula que garantiu o enfrentamento à fome e à má alimentação junto da luta pela saúde e contra as mudanças climáticas”, afirmou.
Para o ano que começa, garante que dará continuidade ao trabalho. “Em 2023 estarei perto do governo dialogando e discutindo a segurança e a soberania alimentar”, disse. Quer ajudar no fortalecimento de programas sociais que foram enfraquecidos nos últimos quatro anos, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). O objetivo é voltar aos índices do Fome Zero, criado em 2003, durante o primeiro mandato de Lula quando, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil conseguiu reduzir a fome de 10,6% de sua população (cerca de 19 milhões de pessoas) no início dos anos 2000 para menos de 2,5% em 2010. Hoje são 33 milhões de brasileiro na situação. Outros planos incluem o lançamento do livro Quem Vai Fazer Essa Comida, e a volta às telinhas. Desta vez reativando o canal do YouTube. Com um ano assim, não restam dúvidas que Bela tem múltiplas receitas que com a minúcia de uma chef de cozinha vai servindo a seus vários públicos.