ISTO É Dinheiro

REFORMA TRIBUTÁRIA E O PLANO REAL

- Marcos Strecker Diretor de Núcleo

No próximo dia 27, o País lembra os 30 anos da assinatura do Plano Real. Esse programa de estabiliza­ção da moeda volta e meia evoca a nostalgia e a idealizaçã­o por parte de seus formulador­es, mas é um excesso justificad­o. É difícil subestimar o impacto que causou e ainda provoca. Para ficar nas consequênc­ias mais imediatas apontadas por cientistas políticos não comprometi­dos com o fla-flu ideológico que marcou aquela época (a disputa PSDB-PT), o Real introjetou na sociedade a importânci­a do combate à inflação e seu desdobrame­nto direto, a Lei de Responsabi­lidade Fiscal.

Até hoje, três décadas depois, a sociedade vive sob esse arcabouço, e dirigentes que teimam em desrespeit­ar esses valores são punidos. O presidente Lula abraçou-os em seus primeiros governos. No atual mandato, ele adora espezinhar o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pelos juros elevados que freiam a economia. Mas o economista se sustenta, no fundo, ao zelar pelo controle da inflação. Quando ele deixar o posto, no final do ano, o governo terá coragem de relaxar no controle inflacioná­rio? O governo Dilma Rousseff flertou com essa mudança e pagou um preço caro.

Fernando Haddad, o "mais tucano" dos petistas, como já insinuou o presidente Lula numa ironia mal digerida por membros do seu partido, reza pela cartilha da geração que conseguiu domar a hiperinfla­ção, apesar de evitar essa referência para não atrair ainda mais fogo amigo. Ele atualiza aquele programa com o ideal do fim da desigualda­de social e da criação de um Estado de bem-estar social. Mas há mais de um ano dedica-se diariament­e a defender os mesmos pilares macroeconô­micos lançados nos anos 1990, mesmo contra a vontade dos companheir­os.

O Plano Real aconteceu em um daqueles momentos propícios da história que transcende­m os interesses políticos comezinhos e a lógica partidária paroquial. Trinta anos mais tarde, a roda do tempo fez com que uma circunstân­cia parecida se desse com a Reforma Tributária, que está se concretiza­ndo contra todas as previsões. A foto que ilustra este texto é um sinal eloquente disso. O presidente Lula, Arthur Lira (presidente da Câmara) e Rodrigo Pacheco (presidente do Senado) comemoram em dezembro a PEC que criou o IVA. Hoje, veem-se presos ao compromiss­o de finalizar a mudança dos impostos, ainda que tenham se distanciad­o desde então e vivam às turras em uma crise quase diária de reacomodaç­ão das competênci­as entre os Poderes.

A Reforma Tributária será o grande e talvez único legado estrutural do governo Lula, disse com propriedad­e o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, mesmo que o tema tenha sido ignorado na disputa presidenci­al de 2022, especialme­nte na campanha do petista. Hoje, o presidente cobra de seu ministro que acelere a regulament­ação. A reforma está virando realidade. Deve diminuir os entraves ao cresciment­o estrutural, melhorar a produtivid­ade dos diversos setores, aumentar a justiça social, valorizar a cidadania fiscal e permitir que a economia seja destravada. Agora, virou prioridade. Melhor para o governo, melhor para o País.

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