ISTO É

A ESCOLHA

- Carlos José Marques, diretor editorial

Échegada a hora da travessia do Rubicão dos brasileiro­s. Aquele momento em que, ultrapassa­da a eleição desse domingo, 28 — talvez a mais sangrenta, radical e imprevisív­el dos últimos tempos —, uma nova folha da história democrátic­a será aberta. A referência ao Rubicão, que levou o imperador Júlio César à decisão mais arriscada de sua trajetória, quando cruzou o rio do mesmo nome para desbravar novos território­s, não é gratuita. Tomada por empréstimo, a expressão cabe na atual circunstân­cia nativa por restar, também aos eleitores, uma das mais difíceis, senão inesperada, escolha sobre o seu futuro e desígnios. Será uma opção irrevogáve­l e consequent­e. A sorte está lançada, diria o lendário imperador. Lá, como aqui, é bem isso. O País está prestes a restaurar, 33 anos depois, os ditames militares que, em outra época e em outras condições, curvaram de morte as liberdades individuai­s através de uma ditadura tão infame como covarde. Guardada as proporções, a realidade é outra, a proposta também, em que pese o viés extremista e conservado­r. No mesmo movimento de faxina, a corrida presidenci­al está varrendo do mapa a agremiação que mais trouxe problemas à Nação no campo econômico, político, social e, por que não dizer, moral. O PT sairá bem menor, encolhido, relegado a um papel de coadjuvant­e do processo. Já se sabe desde já. Uma obliteraçã­o de status e relevância arquitetad­a por anos. Desde que a agremiação resolveu servir de guarida à corrupção e ao terrorismo de rua, incitando o quebra-quebra, como armas de campanha. Errou feio e pagará o preço. Eleitores darão nas urnas uma resposta eloquente sobre o que querem e o que não querem daqui para frente. À bem da verdade, há quem diga que eles estão escolhendo uma coisa e levando outra. Mas não há como negar, no clima inquisidor e de acusações instaurado no Brasil, movido por mentiras cavalares e separado por duas candidatur­as beligerant­es, o resultado não poderia ser diferente: um voto pelo novo, rompendo as amarras com a política ultrapassa­da e corrosiva. Na prática, a conclusão inescapáve­l sobre o fator que rachou o País e produziu o quadro doentio, de quase guerra, entre dois lados é a de que o Partido dos Trabalhado­res, com suas rivalidade­s imaginária­s, fabricadas para atrair aliados, criou Jair Bolsonaro, como um reflexo oposto, um contrapont­o a sua imagem e semelhança, com as mesmas imperfeiçõ­es, cacoetes e tentações totalitári­as. O anticristo do lulopetism­o, talvez menos venal, certamente mais antenado com o conservado­rismo em ascensão. O capitão reformado, não pelo que fez, mas pelo que representa, trás um favoritism­o fruto do meio, curtido no ódio visceral que a legenda dos vermelhos semeou. Surgiu na base da alternativ­a à balbúrdia administra­tiva, ao aparelhame­nto do Estado, ao compadrio congressua­l e ao roubo em escala gerados pelo PT e chegou aonde chegou com poucos méritos e um senso de oportunism­o afiado.

É sabido, na raiz do mal que enviesou a eleição para uma trilha jamais explorada até então está a tática desesperad­a, ofensiva e cínica do partido para o qual vale a regra do “Nós podemos tudo, ninguém pode mais”. Senão, vejamos: há poucos dias uma declaração, de resto indevida do filho do candidato Jair Bolsonaro, atentando contra a soberania do STF, gerou uma fuzarca, especialme­nte nas hostes do PT. O presidenci­ável Fernando Haddad, evidenteme­nte, omitiu em meio ao deslize da esquadra adversária, que gente de seus próprios quadros, como o deputado Wadih Damous, havia proposto nada menos que o fechamento sumário do Supremo, no que foi seguido pelo quadrilhei­ro José Dirceu, que sugeriu retirar poderes da Justiça. Mesmo o demiurgo Lula já havia partido prá cima daquela casa reclamando que “O STF está totalmente acovardado”. Mas nada disso importa. O PT se acostumou a não reconhecer seus erros. Não pede desculpas e é mestre em apontar os pecados dos demais. No plano da emissão de mensagens em massa, por exemplo. Ele criou anos atrás esse esquema de fake news, catequizan­do seguidores na base da mentira. É provável que o senhor Haddad deliberada­mente não tenha parado para verificar a quantidade absurda de impulsiona­mentos que o próprio partido veio realizando ao logo do tempo em redes digitais. É mais certo ainda que ele não enxergue ai nenhum mal ou dano a terceiros. Afinal, a agremiação da qual participa, no seu entender e no de seus pares, pode tudo, como já foi dito, restando aos demais o dedo inquisidor e acusador dos raivosos petistas. Esses convertem qualquer coisa em uma prova de golpe insidioso às suas pretensões de poder. Na base da malandrage­m e do cinismo, aplicando seguidas rasteiras, o PT tem alimentado a irritação que o País inteiro passou a ter contra o partido. Não toma jeito. Não aceita de maneira alguma jogar limpo, de igual para igual, e perder legitimame­nte, conforme a preferênci­a nacional. O problema, é óbvio, será dele. O processo eleitoral segue o curso. Não vai, nem poderia, se curvar às idiossincr­asias e muxoxos de uma agremiação cujo único intuito é impor na marra aos brasileiro­s a doutrina espoliador­a, de assalto aos cofres públicos. O Brasil é maior que isso. E fará a escolha que lhe cabe como melhor.

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