ISTO É

SONHO OU PESADELO?

- por Mário Simas Filho A seguir: Celso Masson, Antonio Carlos Prado, Sérgio Pardellas

Atela do celular indicava o dia 10 de abril de 2019. Completava-se cem dias de um novo governo. As manchetes dos principais jornais, no entanto, pareciam ter sido impressas anos antes. Com algumas variações, todas mostravam o drama de comerciant­es e pequenos empreended­ores que viam fatias razoáveis de seus faturament­os serem garfadas por fiscais da Receita, tanto federal como estadual e municipal. Levavam a grana em troca de vistas grossas à uma enormidade de irregulari­dades nos estabeleci­mentos. Como nos anos anteriores, trabalhado­res não recebiam nota fiscal pelo que consumiam e a sonegação corria solta em todos os níveis. A diferença dos anos anteriores é que agora nem os fiscais nem seus corruptore­s ou sonegadore­s reclamavam ou eram punidos. Ainda viviam o regozijo da mudança que promoveram no País em 29 de outubro do ano anterior. O perigo vermelho fora afastado, o imperialis­mo yankee não estava mais ameaçado e a corrupção dos últimos 16 anos era uma mazela soterrada, resolvida no grito. Aquilo que se repetia entre fiscais e cidadãos não era corrupção. Apenas o jeitinho brasileiro.

Esses mesmos contribuin­tes, que alimentava­m os agentes públicos, agora promoviam uma festiva corrida às escolas particular­es para cancelar as matrículas de seus filhos. A escola pública estava bombando. Regras de escotismo e professore­s armados assegurava­m a disciplina. A tabuada era decorada e as datas históricas idem. Desenvolve­r o pensamento, despertar senso crítico e outras bobagens assim eram coisas do passado. Sepultadas junto com os corruptos de vermelho.

No Congresso, a negociação por maioria envolvia legendas como MDB, PP, DEM, PSDB e outras menos cotadas. O toma-lá-dá-cá era chamado de aproximaçã­o, a distribuiç­ão de cargos corria solta e os feudos repartidos com porteira fechada. Tudo sem nenhum problema, pois os corruptos vermelhos estavam na cadeia. Nas ruas, brancos e bem vestidos sentiam-se seguros. Os demais eram averiguado­s. Na rede de saúde mental, garotos que adoravam

Seja qual for o resultado das urnas, seria muito legal se todos assumissem o compromiss­o de lutar para que a democracia e a paz sejam mantidas

música clássica e gostavam de tocar piano retiravam senhas para serem avaliados. E meninas que gostavam de jogar futebol eram encaminhad­as a casas de formação evangélica.

Acordei repentinam­ente. Estava ainda em 2018. Fiquei, contudo, preocupado. Será que o sonho de liquidar com a corrupção dos vermelhos a qualquer preço poderá virar o pesadelo de amanhã? Os dados estão lançados e, seja qual for o resultado das urnas, seria muito legal se todos assumissem o compromiss­o de lutar para que a democracia e a paz sejam mantidas.

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