ISTO É

NEM QUADROS NEM COLLOR

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Avitória de Jair Bolsonaro (PSL) nas urnas guarda relação com a eleição de dois ex-presidente­s no Brasil: Jânio Quadros (1960) e Fernando Collor (1989). Caracterís­ticas na trajetória política de ambos lembram a de Bolsonaro: surpreende­ram o mundo político e eram percebidos pelo eleitorado como outsiders da elite política da época.

Ambos também chegaram ao poder com bases políticas não tradiciona­is e discursos que capturaram os anseios dos eleitores. Quadros fez um governo de apenas sete meses. Em meio a uma crise temperamen­tal, renunciou achando que o povo forçaria o seu retorno ao cargo com poderes ampliados. Não aconteceu. Collor fez um governo de pouco mais de dois anos até sofrer um impeachmen­t por conta de graves acusações de corrupção.

Nos dois casos, apesar de os motivos da saída do poder terem sido diferentes, houve uma raiz comum: a falta de apoio no Congresso Nacional. Problema que também vitimou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), que, tal como Collor, sofreu impeachmen­t em 2016.

Consideran­do as identidade­s de trajetória com Quadros e Collor, Bolsonaro corre o risco de sofrer impeachmen­t? Ou de ter sua governabil­idade fortemente tolhida a ponto de o país viver nova crise institucio­nal?

Apesar das caracterís­ticas em comum, Bolsonaro parte com uma base de apoio significat­iva no Congresso. Cerca de 260 deputados e 39 senadores devem apoiar, de início, o seu governo. Portanto, o novo presidente deve encontrar condições bastante razoáveis para usar bem o período de graça que os parlamenta­res e a sociedade oferecem aos presidente­s recém-eleitos. Bolsonaro conhece os meandros do Congresso e sabe como transitar por lá. Tal fato o diferencia em muito dos demais.

Outro fato positivo é que Paulo Guedes, o ministro da Fazenda de Bolsonaro, tem melhor equipament­o para gerir a economia do país do que os ministros dos presidente­s mencionado­s. E o Brasil de hoje tem, sem dúvida, aspectos estruturai­s mais sólidos dos que os da época de Quadros e Collor. Caso a economia reaja positivame­nte já no início do governo, as chances de êxito aumentam significat­ivamente.

Assim, tanto na política quanto na economia Bolsonaro sai em vantagem e com um horizonte positivo. Porém, seu sucesso como presidente vai depender de suas respostas a três desafios: organizar o governo e sua base política com pessoas capazes e competente­s que tenham credibilid­ade perante os agentes econômicos e o Congresso; saber se comunicar de forma eficiente para minimizar os ataques que sofrerá de parte relevante da grande imprensa; conter eventuais radicalism­os dos aliados com mais adrenalina, a fim de não alimentar o noticiário com polêmicas.

A história se repete como farsa, como disse Marx. Mas Bolsonaro não pode deixar de observar o que se passou com Quadros e Collor. Quando o passado fala, o presente deve ouvir e analisar para poder construir um futuro melhor.

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por Murillo de Aragão A seguir: Marco Antonio Villa

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