O novo xerife do Brasil
Em quatro anos à frente da Lava Jato, o juiz Sergio Moro colocou mais de 140 pessoas na cadeia, entre elas o expresidente Lula, políticos e empreiteiros. Agora, o magistrado vai ter superpoderes para continuar o combate à corrupção
Depois de condenar e prender Lula por corrupção, cujo processo tirou o ex-presidente da sucessão presidencial deste ano, o juiz federal Sergio Moro aceitou nesta quinta-feira 1 o convite do presidente eleito Jair Bolsonaro para transformar-se em superministro do novo governo. Moro não será apenas ministro da Justiça, mas terá sob seu comando a Segurança Pública, a Polícia Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras, o temido Coaf, que monitora toda a movimentação financeira suspeita. A Transparência e a Controladoria-Geral da União estão em negociação. Com esse poder todo, o juiz, de 46 anos, torna-se o xerife do Brasil, a quem estarão subordinados todos os órgãos de combate à corrupção.
Moro já vinha sendo sondado por Bolsonaro ainda no segundo turno. Em meados de outubro, o economista Paulo Guedes, que também será superministro da Economia, foi a Curitiba e reuniu-se com o juiz. Moro gostou da idéia, embora tenha deixado claro que preferia ser indicado para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). No início de 2020, o ministro Celso de Mello completará 75 anos e terá que se aposentar. Moro chegou a pensar em transmitir a Bolsonaro que a prioridade era o STF, mas depois de falar com amigos concluiu que uma coisa não descartava a outra. “O Ministério da Justiça poderá ser o caminho
para chegar ao STF”, disse Moro à ISTOÉ. Guedes levou essa expectativa a Bolsonaro. Na segunda-feira 29, um dia após vencer a eleição, o novo presidente tornou público o convite, por meio de uma entrevista ao Jornal Nacional. Moro levou dois dias refletindo sobre a proposta e, na quarta à noite, resolveu aceitar. Na quinta-feira 1, o martelo foi batido.
O COMBATE à CORRUPÇÃO CONTINUA
Depois de duas horas de conversas na casa de Bolsonaro no Rio, em que o juiz voltou a falar de sua pretensão para ocupar uma das 11 vagas no STF, Moro confirmou a ida para o Ministério da Justiça. Disse que a audiência foi um misto de tristeza e alegria. Lamentou por ter de deixar a Justiça Federal, depois de 22 anos, mas ficou envaidecido por poder continuar a exercer na nova função a missão de combate à corrupção. “A perspectiva de implementar uma forte agenda anticorrupção e anticrime organizado, com respeito à Constituição, levaram-me a tomar esta decisão. Ela consolida os avanços contra o crime e a corrupção dos últimos anos e afasta riscos de retrocessos por um bem maior”, disse Moro, numa nota oficial que ele escreveu ainda dentro do carro da PF que o transportou da casa de Bolsonaro ao aeroporto. Ele não conseguiu falar com os jornalistas que se aglomeravam na porta do condomínio, pois uma pequena multidão de seguidores se juntou aos repórteres. Ele dará uma entrevista coletiva na terça-feira 6.
“Aceitei o convite porque apesar de todos os esforços feitos pela Lava Jato, a corrupção ainda não acabou. Precisamos aprimorar dispositivos que reduzam ainda mais essa prática lamentável”, acrescentou Moro à ISTOÉ. Em quatro anos à frente da Lava Jato, Moro proferiu 215 condenações, contra 140 pessoas, entre elas o ex-presidente Lula. Como ele garante que já se afastou de todos os casos que vem tocando, caberá à juíza Gabriela Hardt, sua substituta na 13ª Vara Federal do Paraná, proferir a nova sentença contra Lula no caso de favores que ele recebeu da Odebrecht para a compra de um duplex no prédio onde mora e de um terreno para o Instituto Lula. Ela também irá conduzir o interrogatório do ex-presidente no próximo dia 14 para tratar do Sítio de Atibaia. Moro não atuará mais na Justiça Federal, pois não quer ser chamado de parcial. Afinal, seus detratores vem acusando-o de ter feito o que fez nas ações de combate à corrupção apenas por perseguição política ao PT. Moro deseja preservar sua credibilidade. Até porque a grande maioria das pessoas o identifica como responsável pela maior operação de limpeza ética já feita no País.
“Aceitei o convite porque, apesar de todos os esforços feitos pela Lava Jato, a corrupção ainda não acabou” Sergio Moro, juiz federal