ISTO É

As eleições em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais traduziram o desejo por uma nova forma de fazer política, como a do paulista João Doria

As eleições aos governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais traduziram o desejo do eleitor pelo novo. Agora, eles têm quatro anos para provar que a população não se enganou ao aposentar as carcomidas estruturas partidária­s do País

- Germano Oliveira

AA eleição dos governador­es dos três maiores Estados (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais) foi a demonstraç­ão inequívoca de que a política brasileira respira novos ares. A nova política venceu a disputa contra representa­ntes das velhas estruturas partidária­s, confirmand­o a tendência de que o eleitor clamava pelo novo, desde métodos modernos de fazer campanha até propostas de gestão espelhadas na eficiência da iniciativa privada. As vitórias de João Doria (PSDB), em São Paulo, Romeu Zema (Novo), em Minas Gerais, e Wilson Witzel (PSC), no Rio de Janeiro, poderão servir de parâmetro para dar início a uma reformulaç­ão partidária, em que os partidos tradiciona­is terão que ser refundados, com a adoção de recursos mais atuais de participaç­ão popular, principalm­ente pelo uso mais intensivo das redes sociais. A eleição de Doria, por exemplo, deverá deflagrar a reestrutur­ação do PSDB, que sofreu uma de suas piores derrotas à nível nacional nos últimos 30 anos. Com sua vitória, deve ressurgir um PSDB mais à direita, mais contundent­e contra a esquerda lulopetist­a e menos indeciso quanto às posições políticas. “O PSDB vai descer do muro”, disse Doria em entrevista exclusiva à ISTOÉ, contrapond­o-se à atual direção nacional do partido, conhecida por posturas claudicant­es.

APOIO AO GOVERNO BOLSONARO

Doria deixou claro que sua vitória irá mudar a correlação de forças dentro do PSDB nacional. “Vamos liderar, a partir de São Paulo, as mudanças necessária­s no PSDB”, disse o tucano no ato em que comemorou a vitória apertada sobre seu oponente, o socialista Márcio França, a quem derrotou por uma diferença de apenas 750 mil votos (conquistou 10,9 milhões de votos, ou 51,75% do total), Com isso, o

“Só vou receber salário de governador quando os funcionári­os estiverem recebendo em dia” Romeu Zema, governador eleito de Minas Gerais

PSDB permanece no comando do governo de São Paulo por 28 anos consecutiv­os. O tucano avalia que a campanha que o levou ao Palácio dos Bandeirant­es foi “uma das mais sujas”, sobretudo nos últimos dias, em que seus adversário­s montaram filmes eróticos com sua suposta participaç­ão, o que peritos concluíram tratar-se de deslavada farsa.

A eleição de Doria guarda relação com a dos governador­es de Minas Gerais e Rio de Janeiro pela postura adotada ainda no final do primeiro turno, quando percebeu que seu candidato a presidente, Geraldo Alckmin, não tinha respaldo popular. Foi quando lançou o voto “Bolsodoria” – Bolsonaro para presidente e Doria governador, contrarian­do o PSDB nacional. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do partido, chegou a dizer que o ex-capitão do Exército representa­va tudo o que ele mais abominava. Estratégia vitoriosa, Doria confirmou à ISTOÉ que pretende liderar os tucanos para apoiar formalment­e o governo Bolsonaro. Resta saber até quando , já que o tucano pode se transforma­r num dos nomes fortes para concorrer ao Planalto em 2022. “Agora não é hora de tratar da sucessão presidenci­al”, prega Doria.

UM EMPRESÁRIO NO PODER

Em Minas Gerais, o clima de mudanças foi até maior. O empresário Romeu Zema (Novo) nunca havia disputado uma eleição. Dono de uma grande rede atacadista de Minas Gerais, Zema derrotou o tucano Antonio Anastásia por 71,8% (6,9 milhões de votos) a 28,2% (2,7 milhões de votos), na espetacula­r vitória de um desconheci­do contra um exgovernad­or e representa­nte da velha política mineira. “Só vou receber salários como governador quando o funcionali­smo mineiro estiver recebendo salários em dia”, prometeu Zema. Em função da situação caótica do Estado, quadro legado pelo governador petista Fernando Pimentel, que fez uma péssima gestão, recheada por denúncias de corrupção, Zema já sinalizou que vai precisar tomar “medidas impopulare­s”, cujo teor ainda não detalhou.

No vizinho Estado do Rio de Janeiro, a situação não é menos dramática, com o Estado falido e sitiado por tropas das Forças Armadas, para impedir que a violência nas ruas inviabiliz­e o bem estar social. O governador eleito Wilson Witzel (PSC), que recebeu 4,6 milhões de votos (59,8%), já adiantou que vai pedir ao presidente eleito Jair Bolsonaro ajuda para a manutenção da segurança no Estado com o uso de tropas federais. Como ex-juiz, Witzel disse que espera contar com o apoio de todos para tirar o Estado do atoleiro. Os novos governador­es terão, portanto, quatro anos para provar que o eleitor não se enganou ao aposentar a velha política.

A associação a Bolsonaro catapultou Doria ao governo de São Paulo, do mesmo modo que contribuiu para as vitórias de Romeu Zema e Witzel em Minas e no Rio

 ??  ??
 ??  ?? ACELEROUA vitória de João Doria em São Paulo o credencia para se tornar o maior líder nacional do PSDB
ACELEROUA vitória de João Doria em São Paulo o credencia para se tornar o maior líder nacional do PSDB
 ??  ?? QUEBRADO O novo governador mineiro admite adotar medidas impopulare­s para conter a crise fiscal
QUEBRADO O novo governador mineiro admite adotar medidas impopulare­s para conter a crise fiscal
 ??  ?? INSEGURANÇ­A Witzel quer que Bolsonaro mantenha tropas federais no Rio
INSEGURANÇ­A Witzel quer que Bolsonaro mantenha tropas federais no Rio

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil