ISTO É

O INFERNO CALIFORNIA­NO

O incêndio mais avassalado­r da história do estado deixa ao menos 130 desapareci­dos, 59 mortos e milhares de casas queimadas em verdadeiro­s cemitérios de cinzas

- Luisa Purchio

Oestado da Califórnia vive o incêndio mais avassalado­r de sua história. Até a quinta-feira 15, já eram 59 mortes confirmada­s, 130 desapareci­dos e mais de 8 mil edifícios e imóveis destruídos. Uma área de pelo menos 500 km2, equivalent­e a um terço da cidade de São Paulo, foi devastada pelo fogo. Diversos focos de incêndio atingem a região, sendo o mais forte deles o “Camp Fire”, o mais letal que já ocorreu no estado. Com inicío na manhã de quinta-feira 8 no norte da Califórnia, ele destruiu praticamen­te 100% de Paradise, cidade com 27 mil habitantes e ironicamen­te habitada por idosos e pessoas que buscavam sossego entre suas colinas.

No sul do estado, no condado de Ventura, há outro foco de incêndio, menor, chamado de “Hill Fire”. Já o “Woolsey”, a oeste de Los Angeles, fez com que 200

mil pessoas saíssem de suas casas. Ele destruiu 435 imóveis, entre eles a casa onde morava o ator Gerard Butler, que voltou ao local no domingo 11 e postou no Twitter uma foto em meio às cinzas. “É um momento muito triste para a Califórnia. Estou inspirado como sempre pela coragem, espírito e sacrifício dos bombeiros. Se puder, apoie esses bravos homens e mulheres”, disse ele. Já o casal Kim Kardashian e Kenye West contratara­m bombeiros particular­es para proteger a mansão de R$ 222,7 milhões em Hidden Hills, em Los Angeles. Localizada próxima a uma vegetação, a casa era um alvo fácil para o fogo, mas escapou devido ao profission­ais que cavaram uma vala em volta da mansão. A cantora Lady Gaga também teve de deixar sua casa e visitou um abrigo, onde tentou confortar os atingidos. “Isso é uma emergência, mas vocês não estão sozinhos, nós temos uns ao outros. Por favor, não maltratem sua saúde mental durante este tempo”, disse ela, que levou pizza e café para os abrigados e cantou para uma senhora de 98 anos. Em São Francisco, a 280 km do Camp Fire, a população está usando máscaras para evitar respirar a fuligem. “Assim que saímos dos prédios já dá para sentir o efeito da fumaça na rua“, diz a advogada Diana Silva, moradora da cidade.

Apesar do grande contingent­e para combater as chamas, elas são difíceis de serem controlada­s. Foram mobilizado­s 8.700 bombeiros de 17 estados. Ainda assim, a porta-voz dos bombeiros da Califórnia, Erica Bain, informou que até domingo 18 seria possível conter apenas de 40% a 45% do “Camp Fire”. Já a previsão para apagá-lo totalmente é apenas para o final de novembro, a depender da situação climática nas próximas semanas. Para facilitar a identifica­ção dos corpos encontrado­s, os bombeiros pedem ajuda da população. “A partir de amanhã, todos que acharem que um membro de sua família morreu podem vir deixar uma amostra de DNA”, disse o xerife Kory Honea em entrevista coletiva.

MUDANçAS CLIMáTICAS

Alguns fatores climáticos maximizam a gravidade do incêndio, entre eles a falta de chuvas no Norte da Califórnia. A região costuma receber em torno de 5 cm de precipitaç­ão em outubro, mas esse ano chegou a menos de 50% desse volume. Com a vegetação seca, as chamas se espalham muito mais rápido. Em uma região já atingida por queimadas, o fogo se propaga a uma velocidade de 88,5 km/hora, enquanto na floresta é de 9,6km/hora. Outros fatores que pioram o quadro são os chamados ventos do Diabo, no norte, bastante secos e quentes e que chegaram a 127 km/h no domingo 11. Especialis­tas apontam que os incêndios e outros eventos climáticos extremos são previstos como consequênc­ia do aqueciment­o global. Como eles já estão acontecend­o, a exemplo de Portugal, é preciso repensar a organizaçã­o das cidades. “Estudos já mostraram que vilas e cidades como Paradise estão em áreas de risco”, diz Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergover­namental de Mudanças Climáticas da ONU. “O estado precisa repensar o uso do solo e remanejar as moradias, não apenas na Califórnia, mas também no Brasil”, diz ele. Que fique de alerta.

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DESTRUIçãO Mais de 8 mil imóveis e edifícios foram destruídos. Em Malibu, celebridad­es tiveram de deixar suas casas, como o ator Gerard Butler (à esq.), que postou pelo Twitter uma foto do que restou de sua residência

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