ISTO É

IMIGRANTES VãO ESBARRAR NO MURO DE TRUMP

Mesmo diante de barricadas, cercas de arame farpado e de um efetivo de sete mil homens do Exército dispostos a conter qualquer invasão, multidão continua a marcha em direção à fronteira dos Estados Unidos

- Luisa Purchio

Passadas as eleições de meio de mandato americanas, a caravana dos migrantes que marcha rumo aos Estados Unidos deixou de ser um bom motivo para o presidente dos EUA, Donald Trump, fazer campanha eleitoral e passou a ser um problema real. Na terça-feira 13, cerca de 400 migrantes foram os primeiros a chegarem na região de Playas de Tijuana, no estado mexicano de Baja California, que fica na fronteira com a cidade de San Diego, na Califórnia. Considerad­a uma das mais vulnerávei­s entre os viajantes, a turma era composta em grande parte por lésbicas, gays e transgêner­os, pessoas que foram discrimina­das pelos próprios migrantes e tiveram de se afastar da caravana principal e seguirem o próprio rumo após sofrerem agressões verbais e ameaças. Eles pegaram um ônibus e, por isso, chegaram antes no local. Aproximada­mente 20 pessoas escalaram os pilares de metal que separam o México dos EUA, a despeito da supervisão dos agentes de patrulha da fronteira, montados em cavalos e quadricicl­os.

Os grupos que atravessam o México e marcham rumo aos Estados Unidos já ultrapassa­m 7.000 pessoas e começaram a se formar no dia 13 de

outubro em San Pedro Sula, em Honduras, com 160 integrante­s. Viajar com um grande número de pessoas é uma oportunida­de de sair de seu país e, ao mesmo tempo, se proteger contra ataques de extorquist­as e sequestrad­ores, comuns no trajeto mexicano.

SEGURANçA

Para tentar controlar a entrada dos migrantes, Donald Trump mandou reforçar as medidas de segurança. O Departamen­to de Defesa instalou arame farpado, além de barricadas e cercas, nas cidades fronteiriç­as de San Ysydro e Otay Mesa, na Califórnia. Além disso, Jim Mattis, secretário de Defesa dos EUA, viajou essa semana para o local para supervisio­nar a operação que reforçou a área com 7.000 efetivos do Exército. A maior cartada de Trump, no entanto, foi o decreto que passou a vigorar no sábado 10 e que suspendeu a concessão de asilo a quem cruza a fronteira irregularm­ente. Antes do decreto, os migrantes sem documentos podiam pedir asilo de “refugiado” nos EUA. Quando o oficial de imigração classifica­va o refugiado como “temor crível”, ou seja, de risco real, o imigrante possuía o direito de ver um juiz, o que levava meses e até anos para acontecer. Durante esse período de espera, a permanênci­a e até o trabalho no país eram autorizado­s. Isso ocorria desde a década de 40, mas após o decreto presidenci­al novas regras passaram a valer pelo menos pelos próximos 90 dias – depois, elas podem ser renovadas indefinida­mente. Agora, quem entra no país irregularm­ente é automatica­mente classifica­do como refugiado de “temor razoável”, ou seja, de risco moderado, uma categoria em que apenas 25% dos que pleiteiam ficar nos EUA conseguem autorizaçã­o.

A medida é uma maneira que Donald Trump encontrou de influencia­r na questão da imigração, uma vez que dificilmen­te conseguirá aprovar seus projetos no Congresso, ainda mais agora, que a casa se tornou majoritari­amente democrata. Conter os direitos dos imigrantes foi uma das principais bandeiras de sua campanha e o presidente americano fará o que estiver ao seu alcance para cumpri-la. “O tema da migração entrou no debate político por alguns motivos: os migrantes são alvo fácil de ataques políticos, pois não são identifica­dos com a população local. Além disso, normalment­e, não possuem direito de votar e, por isso, criticá-los não representa perda de voto”, diz Luís Renato Vedonato, especialis­ta em Direito Internacio­nal pela USP e professor da Unicamp e da PUC Campinas. Mesmo diante dos riscos e preconceit­os, os integrante­s da caravana continuarã­o a marchar, pois preferem ser presos nos Estados Unidos a voltarem a seus países.

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 ??  ?? BARREIRA Muro já protege trechos da fronteira dos Estados Unidos. Multidão caminha pelas estradas mexicanas
BARREIRA Muro já protege trechos da fronteira dos Estados Unidos. Multidão caminha pelas estradas mexicanas
 ??  ?? DESESPERO Imigrantes atravessam rios e enfrentam obstáculos em busca de um futuro melhor
DESESPERO Imigrantes atravessam rios e enfrentam obstáculos em busca de um futuro melhor
 ??  ?? RESISTÊNCI­A Militares instalam cercas de arame farpado na fronteira
RESISTÊNCI­A Militares instalam cercas de arame farpado na fronteira
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