CAPITÃO ENCRENCA
Todo o mundo sabe que a política é a arte do possível, mas no Brasil é também a do impossível. Qualquer extraterrestre que aterrisse hoje em Brasília sem pós-doutorados em arte dramática, ciência política e exibicionismo antropológico, não vai entender nada do que está acontecendo.
Quando os políticos esquecem que em democracia as instituições são o lugar certo para resolver os conflitos e, em vez disso, se dedicam a transportá-los para a rua e para as mídias, usando o povo como arma de arremesso, apenas uma coisa é certa: mais cedo do que pensam o povo deixará de os apoiar.
A solução não está em ruas cheias de cor apoiando o Juiz, o Capitão e os seus zeros. Nem nos excessos de alguns grupos que pedem a suspensão do STF e do Congresso. A democracia aguenta tudo e até permite que os mais radicais se exprimam contra a liberdade. A solução está em resolver
Desse jeito o Brasil se aproxima mais de Caracas do que de Lisboa. E isso não é apenas ridículo, é por demais perigoso, já que pode escancarar uma incompetência imperdoável
a fragilidade da economia que resulta da corrupção de décadas e de um sistema de Previdência desadequado da realidade. Se ninguém fizer nada rapidamente, talvez nem a democracia possa ser salva.
Como o Brasil não investiu em valorizar a sua população, decidindo viciá-la em subsídios, os problemas para resolver ficaram maiores e mais complexos que há três décadas. Para poder sair da crise e alcançar o sucesso é preciso efetuar transformações radicais no “mecanismo” que ainda hoje é o padrão funcional no jogo político do Brasil. Continuar usando o mesmo “aplicativo” não vai dar. É preciso inovar, “baixando” outro. E isso é um enrosco.
Sem acordo para mudar as leis de trabalho e da aposentadoria, a economia do Brasil nunca vai conseguir, por exemplo, exportar produtos de qualidade para a Europa. Apenas vai conseguir continuar despachando para lá seus talentos. É uma pena ver tantos profissionais competentes saindo do País. Por fim, há também a questão da confiança. Não aprovar a reforma ministerial seria um sinal de enorme incapacidade. E até os militares sabem que, para os investidores internacionais, a corrupção não é pior que a incompetência.
Quando a principal estratégia no jogo político é um presidente defendendo a voz das ruas contra o Congresso, o Brasil fica bem mais perto de Caracas que de Lisboa e isso, nos dias que correm, não é apenas ridículo, é também perigoso. Com atos assim, o Capitão rapidamente vai transformar seu rolo num enrosco. Vai ser uma encrenca!