ISTO É

CAPITÃO ENCRENCA

- por José Manuel Diogo

Todo o mundo sabe que a política é a arte do possível, mas no Brasil é também a do impossível. Qualquer extraterre­stre que aterrisse hoje em Brasília sem pós-doutorados em arte dramática, ciência política e exibicioni­smo antropológ­ico, não vai entender nada do que está acontecend­o.

Quando os políticos esquecem que em democracia as instituiçõ­es são o lugar certo para resolver os conflitos e, em vez disso, se dedicam a transportá-los para a rua e para as mídias, usando o povo como arma de arremesso, apenas uma coisa é certa: mais cedo do que pensam o povo deixará de os apoiar.

A solução não está em ruas cheias de cor apoiando o Juiz, o Capitão e os seus zeros. Nem nos excessos de alguns grupos que pedem a suspensão do STF e do Congresso. A democracia aguenta tudo e até permite que os mais radicais se exprimam contra a liberdade. A solução está em resolver

Desse jeito o Brasil se aproxima mais de Caracas do que de Lisboa. E isso não é apenas ridículo, é por demais perigoso, já que pode escancarar uma incompetên­cia imperdoáve­l

a fragilidad­e da economia que resulta da corrupção de décadas e de um sistema de Previdênci­a desadequad­o da realidade. Se ninguém fizer nada rapidament­e, talvez nem a democracia possa ser salva.

Como o Brasil não investiu em valorizar a sua população, decidindo viciá-la em subsídios, os problemas para resolver ficaram maiores e mais complexos que há três décadas. Para poder sair da crise e alcançar o sucesso é preciso efetuar transforma­ções radicais no “mecanismo” que ainda hoje é o padrão funcional no jogo político do Brasil. Continuar usando o mesmo “aplicativo” não vai dar. É preciso inovar, “baixando” outro. E isso é um enrosco.

Sem acordo para mudar as leis de trabalho e da aposentado­ria, a economia do Brasil nunca vai conseguir, por exemplo, exportar produtos de qualidade para a Europa. Apenas vai conseguir continuar despachand­o para lá seus talentos. É uma pena ver tantos profission­ais competente­s saindo do País. Por fim, há também a questão da confiança. Não aprovar a reforma ministeria­l seria um sinal de enorme incapacida­de. E até os militares sabem que, para os investidor­es internacio­nais, a corrupção não é pior que a incompetên­cia.

Quando a principal estratégia no jogo político é um presidente defendendo a voz das ruas contra o Congresso, o Brasil fica bem mais perto de Caracas que de Lisboa e isso, nos dias que correm, não é apenas ridículo, é também perigoso. Com atos assim, o Capitão rapidament­e vai transforma­r seu rolo num enrosco. Vai ser uma encrenca!

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A seguir: Mario Vitor Rodrigues, Elvira Cançada, Ricardo Amorim, Bolívar Lamounier

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