ISTO É

BOLSONARO E A DEMOCRACIA

- por Marco Antonio Villa

Amanifesta­ção de 26 de maio não alterou em nada a situação política. Permanece a tensão entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Houve um discreto apoio oficial aos atos, mas sem a participaç­ão direta do presidente da República. Se o objetivo era o de emparedar o Congresso, acabou fracassand­o. As ruas não ficaram tomadas pelo povo, como nas manifestaç­ões pelo impeachmen­t de Dilma Rousseff.

A questão central é a governabil­idade. Algo que não será resolvido com os apoiadores de Jair Bolsonaro nas ruas. Se nada mudou, então o governo perdeu. Ficou demonstrad­o que o apoio popular está menor do que estimado. Pode ser que o presidente tenha caído na armadilha das redes sociais. O mundo virtual não é o melhor conselheir­o político. E mais: robôs não fazem história.

O Palácio do Planalto padece de um déficit de democracia. As constantes diatribes de Bolsonaro contra o funcioname­nto do Congresso reforçam o seu desinteres­se pela negociação política, essência da democracia. A demonizaçã­o dos partidos e das principais lideranças políticas do Parlamento compõe o receituári­o. Nesses cinco meses de presidênci­a, ele não deu nenhum sinal real de que pretende conviver com a independên­cia dos poderes. É provável que até desconheça o funcioname­nto de cada poder consagrado na Constituiç­ão,

apesar de ter permanecid­o 28 anos na Câmara dos Deputados.

O governo não conseguiu apresentar um conjunto de medidas que possam conduzir o País à recuperaçã­o econômica. O discurso monocórdio de que tudo passa milagrosam­ente pela Reforma da Previdênci­a produz uma narrativa de que, a partir da sua aprovação, o Brasil vai entrar numa rota de cresciment­o econômico em ritmo chinês. Que o capital estrangeir­o vai afluir aos bilhões de dólares. É uma falácia. São necessária­s diversas ações no campo macroeconô­mico, devidament­e

Em vez de demonizar o Congresso e qualquer diálogo político, o presidente deveria batalhar pelos projetos que seu próprio governo defende

articulada­s dentro de um amplo projeto nacional, a fim de criar as condições para que o País saia da crise criada a partir do início do segundo governo Dilma. Isso não vai ocorrer espontanea­mente, mas será produto de uma ação governamen­tal responsáve­l.

E ao Presidente da República, o que caberia fazer? Coordenar os esforços para que o Brasil tenha um rumo seguro. Para tanto, necessitar­ia ter ciência dos principais projetos. Bolsonaro deveria entusiasma­r o País. Viajar, inaugurar obras, discursar apresentan­do as ações governamen­tais e dialogar com os setores políticos.

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A seguir: Murillo de Aragão

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