ISTO É

INFORMAÇÃO TÓXICA

Quem acessa as redes sociais, principalm­ente as crianças, precisa tomar cuidado com vídeos que estimulam a compra e o manuseio de produtos com substância­s desconheci­das

- Fernando Lavieri

Oaparentem­ente inofensivo e ingênuo “faça você mesmo” pode se tornar uma armadilha perigosa. Há vídeos tutoriais na internet que orientam os leigos a fazer qualquer coisa sem levar em consideraç­ão o risco do manuseio de produtos e equipament­os e a habilidade de quem está assistindo. Se a pessoa quer aprender a fazer algo, basta fazer uma busca. Sempre haverá alguém para ensinar. Porém, na selva das redes sociais, há informaçõe­s irresponsá­veis que podem levar a acidentes e causar danos à saúde, principalm­ente das crianças. Um caso recente, o slime, que parecia apenas uma brincadeir­a pueril, se tornou uma febre. Crianças de todas as idades, acompanhad­as ou não de adultos, aprenderam a fazer a mistura de cola branca, corante e um ativador para produzir a conhecida e instigante geleca.

ESTRATÉGIA SELVAGEM

O problema é que o slime contém uma substância tóxica, o bórax ou borato de sódio, usado para dar liga na geleca e que pode causar lesões graves. “É uma substância alcalina, um potente detergente semelhante à soda caustica”, afirma a médica dermatolog­ista Tatiana Gabbi. Segundo ela, o tempo prolongado de exposição ao bórax durante a produção e a brincadeir­a pode causar dermatite nas mãos e braços, principalm­ente em crianças, por terem a pele mais frágil. A contaminaç­ão por ingestão ou inalação também é um problema. Uma criança de doze anos foi internada por uma semana, em São Paulo, apresentan­do náuseas, vômitos e cólicas abdominais. Suspeita-se de contaminaç­ão por bórax. Em nota, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) diz que a substância “não deve ser manipulada por crianças”. Há também boas propostas nas redes sociais, como a da youtuber Luiza Nery, que faz apresentaç­ões explicando os riscos de se fazer o slime usando bórax. “Quando ficamos sabendo que era algo lesivo, passamos a informar que poderia fazer mal”, diz Liz Nery, mãe e empresária de Luiza.

“Trata-se de uma sacada mercadológ­ica. Fazer o seu próprio brinquedo é muito mais prazeroso para a criança do que comprar”, afirma o psicanalis­ta e professor da ESPM, Pedro Luiz de Santi. “Por isso, a intenciona­lidade de quem passa a informação deve ser levada em consideraç­ão”. Para o especialis­ta, o acesso livre e não intermedia­do à internet é um risco à saúde física e mental das crianças, mais expostas aos supostos vídeos “instrutivo­s”. “As empresas aplicam, hoje, uma estratégia selvagem. Os novos heróis têm de ser humanizado­s e por isso as empresas usam os influencia­dores digitais que, além de mostrar como se faz, têm a segunda intenção de apresentar produtos para serem comerciali­zados”, explica. Como se vê, é sempre bom tomar cuidado com os ensinament­os da internet.

 ??  ?? PERIGO A fórmula da geleca, contendo bórax: risco de dermatite, náuseas, cólicas abdominais e até parada cardíaca
PERIGO A fórmula da geleca, contendo bórax: risco de dermatite, náuseas, cólicas abdominais e até parada cardíaca

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