ISTO É

Quando o trabalho vira doença

Ao reconhecer os sintomas da síndrome Burnout como um novo distúrbio psiquiátri­co, a OMS lança um alerta contra os excessos na vida profission­al

- Luisa Purchio

Otermo “burnout” ainda não é popular, mas seus sintomas são bem conhecidos na vida contemporâ­nea. Por isso, a inclusão dessa síndrome na revisão da Classifica­ção Internacio­nal de Doenças (CID), da Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), anunciada na segunda-feira 27, se fez necessária. Por estar fora até agora, ficava difícil estabelece­r diagnóstic­os, tratamento­s, pesquisas e até decisões judiciais relacionad­as ao distúrbio. O documento começa a valer a partir de 2022.

Resultado do estresse crônico no trabalho, a síndrome de burnout não é uma doença, no sentido clássico, mas um conjunto de sintomas cujas caracterís­ticas são a “sensação de esgotament­o, cinismo ou sentimento­s negativos relacionad­os a trabalho e à eficiência profission­al”,

informa a OMS. O mal é desencadea­do por uma mescla de fatores internos, como personalid­ade, e externos, como ambiente profission­al, que tornado tóxico, deixa de ser fonte de subsistênc­ia e autonomia, para se transforma­r em um fator de comprometi­mento da saúde.

Foi o que aconteceu com Jenifer Guimarães, de 28 anos. Durante seis anos ela ocupou um cargo de liderança em uma grande livraria paulistana. Com a crise econômica, veio a demissão de funcionári­os. Os que ficaram acabaram sobrecarre­gados. No ano e meio posterior, ela sentiu os primeiros sintomas, como negligênci­a das próprias necessidad­es, isolamento social e mudança de comportame­nto. “Eu ignorava, achava que era cansaço, até que um dia estava no ônibus e não sabia onde descer”, diz ela. Era o apagão, denominaçã­o da última fase da síndrome. Em tratamento, Jenifer passa por sessões de psicoterap­ia, toma medicament­os psiquiátri­cos e, claro, trocou de emprego.

É um caso comum. De acordo com Wagner Gattaz, psiquiatri­a da Medicina da USP, as pesquisas recentes mostram que o burnout atinge 27 milhões de brasileiro­s (13% da população). Nas empresas, as variações são amplas, indo de 5% a 35%, de acordo com o departamen­to ou função. “Quando os funcionári­os estão doentes, a produtivid­ade cai e os reajustes dos planos de saúde ficam cada vez mais altos”, diz. Há quatro anos ele dá consultori­a para empresas, que descobrira­m que podem economizar até 500% a cada ano em seus planos empresaria­is com diagnóstic­os precoces do novo distúrbio.

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APAGÃO Pressionad­a, Jenifer teve que mudar de emprego: psicoterap­ia e medicament­os
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ESGOTAMENT­O O mal é desencadea­do por uma mescla de predisposi­ção e fatores ambientais

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