O Nordeste conquista Cannes
Os filmes “Bacurau” e “A vida invisível de Eurídice Gusmão” ganham troféus inéditos no Festival de Cannes, enquanto as leis de incentivo à cultura estão em xeque no Brasil
“Não deixa de ser irônico”, diz à ISTOÉ o diretor Kleber Mendonça Filho. Ele e o parceiro Juliano Dornelles, pernambucanos, arrebataram o prêmio do júri por “Bacurau” no Festival Internacional de Cinema de Cannes, que terminou em 18 de maio. Também o diretor
cearense Karim Aïnouz levou o prêmio de melhor filme do segmento paralelo Um Certo Olhar, com “A vida invisível de Eurídice Gusmão”. São prêmios inéditos para o Brasil.
A ironia é que as vitórias se dão no momento em que as leis de incentivo à cultura no Brasil estão em xeque. “É também um triunfo nordestino”, afirma Aïnouz. “São filmes que receberam incentivo de Pernambuco e Ceará e mostram a qualidade de produções regionais subestimadas.”
LUTAR OU MORRER
Os três diretores definem seus filmes como de gênero: “Bacurau” segue o western e “Eurídice” é inspirado no dramalhão das telenovelas de Janete Clair.
Mas são, acima de tudo, políticos. Para Dornelles, enfrentam temas tabus: “A alegoria da invasão do Brasil por forças externas está em ‘Bacurau’. ‘Eurídice’ denuncia o patriarcado”. “Bacurau” retrata uma comunidade sertaneja ameaçada. Estreia no Brasil em 29 de agosto. “A comunidade escolhe entre lutar e morrer”, diz Kleber. “Eurídice” narra o conflito entre duas irmãs e a opressão machista. Deve estrear em novembro.
“Os cineastas brasileiros estão vencendo festivais, mas não encontram janelas de exibição no Brasil”, afirma Aïnouz. Eles esperam reconquistar o mercado por causa dos prêmios.
“Você faz política toda vez que diz não” Kleber Mendonça Filho, cineasta