ISTO É

“BOLSONARO DESPERDIÇO­U A LUA DE MEL”

- Por Germano Oliveira

Quando era deputado pelo PSDB de Pernambuco, em 2016, foi de Bruno Araújo o voto de número 342 que selou o impeachmen­t de Dilma Rousseff. Depois disso, virou ministro das Cidades de Temer e transformo­u-se em personalid­ade popular no Recife, onde mora. Mas isso não foi suficiente para eleger-se senador em 2018, embora tivesse sido o mais votado na classe média. O problema é que, como Lula nasceu em Pernambuco, e os mais pobres são maioria no Nordeste, ele teve dificuldad­es para vencer o PT. Aos 47 anos, porém, mantevese ativo na política e acaba de ser eleito presidente do PSDB, substituin­do Geraldo Alckmin. Objetivo: tornar o PSDB palatável no Nordeste. A tarefa de Araújo, no entanto, continuará árdua: mudar a cara do PSDB e tornálo um partido com a participaç­ão dos mais jovens, já que até aqui os “cabeças brancas” (mais velhos) é que conduziam a sigla. Bruno quer “tirar o PSDB de cima do muro”, adotando posições claras e prepara-se, ainda, para aplainar o caminho do governador João Doria como candidato de consenso à presidênci­a em 2022.

O sr. assume a presidênci­a do PSDB com a missão de construir um novo partido. O que precisa mudar?

Primeiro a clareza de que o PSDB pagou um alto preço pela hesitação. Desde de não ter feito a defesa das grandes realizaçõe­s do partido, como as privatizaç­ões, até de temas que a sociedade cobrava uma posição firme, mas o PSDB hesitou em se posicionar, o que foi criando a caricatura do muro. Isso passou a consolidar a percepção de um partido extremamen­te frágil.

Quando o sr. fala que não haverá mais muro no partido, gostaria de saber qual é a posição em relação ao governo Bolsonaro: o partido apoiará ou será oposição?

Onde houver intolerânc­ia, falta de diálogo, obscuranti­smo, o PSDB vai estar do lado oposto. Dizemos não a uma agenda como essa. Agora, quando as propostas forem de reforma do estado brasileiro, que é o DNA do PSDB, vamos apoiar. O PSDB foi protagonis­ta das mais importante­s reformas ao longo da década de 90 e teve importante­s serviços prestados ao País. Sempre que o governo Bolsonaro tiver na agenda ações que se aproximem do nosso DNA, terá nossa aprovação, mas, obviamente, o PSDB estará afastado do ambiente de intolerânc­ia.

O PSDB será mais dócil ao governo Bolsonaro do que os partidos de oposição?

O Brasil não tem condição de perder tempo com picuinhas e irrelevânc­ias. O governo Bolsonaro jogou fora cinco meses. Desperdiço­u a lua de mel, em que teria os melhores meses para reformar e avançar. O PSDB vai ser colaborati­vo com as reformas e será o protagonis­ta, em lados opostos se for necessário, quanto aos temas de intolerânc­ia e de falta de diálogo.

Quanto à reforma da Previdênci­a, parece que a tendência é do partido fechar questão, obrigando seus parlamenta­res a votarem a favor. É isso mesmo?

Pela primeira vez na história, tão logo seja apresentad­o o relatório da Reforma da Previdênci­a, vamos reunir a Executiva, as bancadas de deputados e senadores, para decidir pelo fechamento de questão sobre a reforma, votando a favor. É importante lembrar que a reforma foi formulada no governo Bolsonaro por um ex-deputado tucano, licenciado, Rogério Marinho, brilhante quadro, e relatada por um deputado do PSDB, Samuel Moreira. Então, nós vamos trabalhar pelo fechamento da questão em favor da aprovação da reforma.

O governador João Doria tem apoiado Bolsonaro, mas outros integrante­s do partido, como Geraldo Alckmin, não. Alckmin disse que Bolsonaro é oportunist­a e desleal. Como conviver com esse racha?

O apoio do governador Doria a Bolsonaro tem sido dentro das ideias da agenda do PSDB de reformas. Não tem nada de apoio incondicio­nal ao governo. Doria tem feito ressalvas importante­s quando se trata da compreensã­o de que o governo muitas vezes gera crises desnecessá­rias e perde o foco do que realmente interessa. Doria, por exemplo, tem cuidado dos projetos que objetivam afastar a crise do País, segurando empresas em São Paulo e gerando empregos.

Doria quer levar o partido mais para a direita, mas o sr. tem dito que o partido ficará ao centro. Qual a posição do partido, centro-direita?

As ações do governador Doria, que são liberais, estão voltadas para dinamizar a economia. Está na natureza de sua formação e o PSDB tem espaço para convivênci­a de posições que mantenham o partido no centro. O PSDB não tem espaço para posições extremas. Na economia, temos posições coerentes com a necessidad­e de geração de empregos.

O sr. já disse que o partido não terá em suas fileiras ninguém da extrema esquerda e nem da extrema direita. Como será feito esse filtro?

É o filtro dos últimos 30 anos. Não obstante a consolidaç­ão da caricatura do muro, o partido não tem tido espaço para extremos. Ao longo da história, a posição do partido é da social democracia, com a compreensã­o de que temos uma veia reformista na economia, de forma liberal, e de que o estado tem papel fundamenta­l na redução das desigualda­des sociais. É um partido que respeita os costumes da sociedade. Partido não constrói costumes na sociedade. A sociedade sim é que constrói costumes e partidos.

A posição de Doria parece ser majoritári­a no partido, mas há gente no PSDB, como Fernando Henrique, que não está gostando de levar o partido para a direita. Ele pode se distanciar?

O novo processo do partido, no ponto de vista de atuação política, tem espaço para o protagonis­mo das grandes lideranças. O ex-presidente, já na convenção que antecedeu

“Vamos fechar questão em torno da reforma, votando a favor. Vale lembrar que ela foi formulada pelo ex-deputado Rogério Marinho, um brilhante quadro do PSDB”

a da minha eleição, disse que aquela seria a última que ele iria. Não podemos cobrar mais do que ele já entregou ao País e ao partido.

Sobre a flexibiliz­ação das armas, por exemplo, Bolsonaro quer armar todo mundo, mas Doria é contra. Pode haver um afastament­o do PSDB de Bolsonaro nessas questões dos costumes?

Essa questão das armas é um problema de segurança pública. O que discutimos são os excessos. Não estamos questionan­do o porte de armas em áreas isoladas, na zona rural, onde o armamento tem uma relativa compreensã­o da sociedade. Estamos falando na regulação da campanha que estimula a utilização de armas indiscrimi­nadamente. Nesse sentido, o governador Doria também está sintonizad­o conosco.

Já que o governador paulista pretende ser candidato a presidente em 2022 e ele precisará se diferencia­r de Bolsonaro, quais seriam as diferenças entre eles?

Primeiro, o governador Doria governa tendo seus secretário­s como auxiliares, que seguem sua orientação e ele conhece a maioria das demandas para cada área. O que o país está pedindo neste momento, e ele está fazendo em São Paulo, é atrair investimen­tos para gerar empregos e fazendo o que realmente interessa aos brasileiro­s. Nos governos FH e Lula, foi entregue toda a agenda de reformas ao Congresso logo nos primeiros meses de governo e não é o que Bolsonaro está fazendo. Ele entregou uma agenda monotemáti­ca, que é a reforma previdenci­ária. Ela é importante, mas há muitos outros aspectos na macroecono­mia que precisam ser postos em prática para haver geração de empregos. E Doria, além de sua imensa capacidade de trabalho, entende efetivamen­te de todas as matérias.

Se for candidato, Doria será mais um paulista a disputar a presidênci­a pelo PSDB, como já foi com FH, Serra e Alckmin. Como fazer para ele ter mais acesso a eleitores do Norte e Nordeste, onde o partido sempre foi fraco?

Ele vai mostrar ao Brasil, a partir do que fez em São Paulo, a capacidade de governança, de gerar emprego, de diálogo, de construir pontes e de ter um projeto de integração onde haja a redução das diferenças regionais.

O sr. defende prévias ou mesmo primárias para a escolha do candidato a presidente. Quando isso poderá acontecer?

Ainda está muito longe, mas se chegarmos a 2021 com um consenso em torno de uma candidatur­a consolidad­a, como é a de Doria hoje, o partido vai estar pronto. Mas, nós temos outras importante­s lideranças que estão na lembrança do cenário nacional. No quesito prévias, contudo, o governador Doria tem um belíssimo histórico de resultados e vitórias.

O sr. disse que há outros nomes, quem seriam?

Há um desenho natural quanto à participaç­ão do governador Doria, não só por ser o governador do maior estado da América Latina, mas por sua capacidade de trabalho e seu arrojo na entrega de resultados e geração de empregos. Mas o partido tem outros quadros, como os outros dois governador­es - Reinaldo Azambuja (MS) e Eduardo Leite (RS) – e senadores como Tasso Jereissati e Antonio Anastásia.

Se o governo Bolsonaro continuar propiciand­o confusões, será mais fácil derrotá-lo em 2022, se ele for candidato à reeleição?

O nosso foco agora não são as eleições. Vamos primeiro aprovar as reformas e ajudar o País a andar pra frente. Mas uma das funções do partido é ajudar o País na solução das crises e vamos oferecer alternativ­as para isso. Nosso foco é vencer em 2022, mas também as eleições municipais no ano que vem.

O novo PSDB não compactuar­á com filiados que cometeram crimes de corrupção, mas ainda não expulsou Aécio Neves e nem o ex-governador do Paraná, Beto Richa. Eles serão expulsos?

Nós temos uma regra criada e constituíd­a nesse sentido, com a adoção do novo código de ética, mas cada caso será analisado de acordo com as suas circunstân­cias. Nunca vamos fazer nenhum julgamento de ordem penal. Vamos fazer as reflexões de acordo com nosso código de complice. Grande parte dos demais partidos brasileiro­s têm também seus problemas, mas ninguém discute se o PT deve ou não expulsar o ex-presidente Lula.

“FHC havia dito que não iria mais a convenções do PSDB. Não podemos cobrar mais do que ele já entregou ao País e ao partido”

O novo PSDB poderá se fundir a outros partidos de centro, como o DEM, MDB, PRB ou PL?

O deputado Rodrigo Maia esteve na convenção nacional do PSDB na qual eu fui eleito, porque é um parceiro de alianças de muitos anos. DEM e PSDB, ao longo dos últimos 30 anos, foram parceiros nacionais históricos. O processo de fusão, no entanto, pode ser discutido em outro momento.

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SEM MURO Araújo diz que o PSDB não será oposição a Bolsonaro, mas não avalizará sua pauta conservado­ra
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