ISTO É

A REFORMA E 2022

- por Mário Simas Filho

Muitos ainda acreditam que, dada a total falta de preparo e de vocação para o cargo, o presidente Jair Bolsonaro não se encontre com o Papai Noel no Palácio do Planalto. Pode ser. Interlocut­ores que conversam frequentem­ente com a cúpula militar — os da ativa, aqueles que realmente contam — asseguram que há uma enorme insatisfaç­ão com o capitão e seus herdeiros, tanto que não seria necessária sequer uma delação premiada para motivar um processo de impeachmen­t. Por essa ótica, a persistire­m os números negativos na economia, o governo será breve. Mas, teorias conspirató­rias à parte, o certo é que cinco meses depois da posse de Bolsonaro, o que efetivamen­te movimenta a agenda dos atores políticos é a sucessão presidenci­al. E o tabuleiro montado para esse xadrez é a Reforma da Previdênci­a.

Na ponta-esquerda, o PT insiste em construir uma narrativa que o coloque como vítima das elites preconceit­uosas, recusa um mea-culpa e aposta no Lula Livre para tentar a hegemonia na construção de uma candidatur­a. Como fez ao longo de sua história até 2002, o partido se recusa a participar de qualquer movimento que aponte para uma solução capaz de aglutinar e unificar um bloco não extremista. Em 1985, se recusou a participar do Colégio Eleitoral que pôs fim a ditadura, agora se coloca quase como observador distante da reforma. Assim, facilita a vida da extrema-direita e faz Bolsonaro sorrir,

pois para manter-se vivo no jogo, basta a ele insistir na bobagem do perigo vermelho e apontar o dedo para Lula. Nesse sentido, pouco importam as retaliaçõe­s que a Reforma da Previdênci­a venha a sofrer no Congresso.

Na Câmara e no Senado, porém, o jogo é mais profission­al e os grupos de interesse mostram suas forças. E, na queda de braço de quem ganha e quem perde com as mudanças na Previdênci­a é que vai se construind­o uma alternativ­a presidenci­al mais ao centro para 2022 — ou antes. Algo que não foi possível em 2018, quando o tabuleiro era a Lava Jato. Agora,

No perde e ganha com as mudanças na Previdênci­a é que vai se construind­o uma alternativ­a presidenci­al

Rodrigo Maia, João Doria, ACM Neto e outros, em nome da reforma, buscam reunir centro-direita e centro-esquerda em um bloco. Claro, quem vai pagar a conta dos acordos é o assalariad­o, o cidadão que já perdeu os direitos trabalhist­as e na Previdênci­a perderá mais, pois está sub-representa­do e os sindicatos, todos moribundos. Ganharão o mercado, os bancos e as corporaçõe­s de servidores públicos que já têm privilégio­s e força política no Parlamento. Enfim, a reforma deve sair. Mas, com certeza, retroceder­emos algumas décadas como sociedade democrátic­a.

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A seguir: Luís Antônio Giron, Sérgio Pardellas, Antonio Carlos Prado, Vicente Vilardaga, Germano de Oliveira

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