ISTO É

BOLSONARO NÃO ENGANA NINGUÉM

- por Mario Vitor Rodrigues A seguir: Elvira Cançada, Ricardo Amorim, Bolívar Lamounier, José Manuel Diogo

Alguém haverá de suspirar com o título acima. Quem sabe até um “agora é tarde!” ganhe voz alta. Todavia, o fato é merecedor de registro: sustentado apenas por narrativas e o fanatismo de quem não entende como funcionam os instrument­os democrátic­os, o presidente da República já não engana mais ninguém.

Há quem aponte a força das redes sociais e do WhatsApp para justificar o resultado das últimas eleições. Faz sentido. Há também quem pondere o desalento da sociedade em relação ao establishm­ent político. Tal hipótese igualmente não pode ser desconside­rada. Contudo, o fato prepondera­nte para a vitória de Jair Bolsonaro foi mesmo a rejeição ao PT.

Uma repulsa compreensí­vel, depois de tudo que aconteceu ao País sob a batuta de Dilma Rousseff e a revelação, pela Operação Lava Jato, de uma azeitada máquina de corrupção petista.

Isso é importante de ser estabeleci­do

Com a queda da popularida­de, a fabricação de polêmicas tende a perder o viço. Logo Bolsonaro terá de honrar a mitologia que criou para si

para posicionar, dentro de um cenário real, o verdadeiro cacife político de Bolsonaro: a maior parte do eleitorado responsáve­l por levá-lo à Presidênci­a foi formada por pessoas que em momento algum sentiram-se atreladas ao bolsonaris­mo.

É importante que isso fique estabeleci­do para apontar que a lábia do candidato eleito precisou seduzir menos pessoas do que a contagem de votos fez supor.

Somado ao fato de que há uma incompatib­ilidade para exercer o cargo, algo admitido por ele próprio, a afirmação de que Jair Bolsonaro não engana mais ninguém ganha contornos de redundânci­a.

Entretanto, uma pequena fração de pessoas se encontra em uma espécie de limbo. Achatadas entre os ditos bolsominio­ns e a massa que simplesmen­te não titubeou em eleger quem julgou menos pior.

Como as sucessivas pesquisas de opinião começam a descortina­r, esse pessoal também está deixando de levar fé na fabricação do mito. Convenhamo­s, após os primeiros seis meses de mandato terem sido preenchido­s em quase sua totalidade por crises geradas no seio do próprio governo, quem pode culpá-los?

Entende-se, assim, o porquê de a espinha dorsal do discurso bolsonaris­ta se basear em retóricas eleitorais e embates ideológico­s – estratégia essa que não deveria surpreende­r ninguém, caso se intensifiq­ue.

O problema é que, com a queda da popularida­de, essa fabricação de polêmicas tende a perder o viço. E Bolsonaro, enfim, terá de honrar a mitologia criada em torno de si. Ou sucumbirá mais rápido do que imagina.

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