ISTO É

INSTITUCIO­NALISMO DE COALIZÃO

- por Murillo de Aragão A seguir: Marco Antonio Villa

Quem vai para a rua criticar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal exerce o legítimo direito de manifestaç­ão. Mas defender o fechamento de ambos é um contrassen­so típico de quem não imagina o que é viver em um regime que suprime os poderes ou os têm apenas como peça de decoração política.

Nosso Executivo e nossa imprensa não são os ideais. Estamos ainda em processo de construção de uma democracia e todos os nossos poderes apresentam distorções relacionad­as à formação de uma nação. Porém, mesmo não sendo ideais, são imprescind­íveis. Sem eles seríamos uma imensa Cuba, país em que as instituiçõ­es existem apenas para sancionar decisões de um grupo ditatorial.

Há no Brasil uma campanha sub-reptícia de desmoraliz­ação institucio­nal que ganha intensidad­e quando certos setores estão fora do poder. Para muito, as instituiçõ­es não servem quando eles perdem a influência sobre elas. Outros as atacam quando estas não cumprem determinad­as agendas de seu interesse. Até mesmo a opinião publicada se movimenta em relação às instituiçõ­es, de acordo com sua preferênci­a temática. Juízes são vilões ou mocinhos, dependendo das posições que adotam perante o mundo do politicame­nte correto, e não conforme o Direito e a Constituiç­ão.

O Brasil precisa de mais instituiçõ­es atuantes e de menos arreglos e

casuísmos. Devemos ter um estado de direito em que as regras sejam cumpridas para contrabala­nçar os excessos dos poderes. Historicam­ente, o Brasil sempre viveu sob a hegemonia do Executivo. A Constituiç­ão de 1988, com suas virtudes e defeitos, deu ao Legislativ­o e ao Judiciário um maior protagonis­mo. Contudo, apenas neste século as franquias estabeleci­das começaram a funcionar com mais vigor.

Desde o mensalão, o Judiciário passou a ter mais força, fruto da judicializ­ação da política e de um desmedido e indesejáve­l ativismo. Tal

Justo quando mais precisamos surgem campanhas de desmoraliz­ação contra instituiçõ­es imprescind­íveis

postura, sob os holofotes da imprensa, foi robustecid­o pela também perigosa midiatizaç­ão da Justiça, que transforma a vida de investigad­os em enredo de reality shows. Sem direito a defesa.

Um tanto atrasado, o Legislativ­o também buscou protagonis­mo e, pouco a pouco, impôs novas regras no relacionam­ento com o Executivo. Limitou a edição de MPs e tornou impositiva a execução das emendas ao Orçamento, por exemplo. Outras virão. Está em curso um conflito institucio­nal que ainda longe de acabar. São tempos de institucio­nalismo de coalizão. Nada de mais, desde que aprovem as reformas que o Brasil precisa.

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