ISTO É

DORIA TEM A FORÇA

Ao tomar o controle do partido e adotar novas práticas políticas que evitam a histórica postura em cima do muro dos tucanos, o governador João Doria se consolida como alternativ­a de poder fora do eixo da extrema direita

- Germano Oliveira e Wilson Lima

Em política, não há espaço vazio. Quando uma autoridade mostra vulnerabil­idades, como é o caso do presidente Jair Bolsonaro, outros personagen­s do mundo político arregaçam as mangas para trabalhar na ocupação desse vácuo. E é o que está fazendo o governador de São Paulo, João Doria. Meticulosa­mente, está planejando cada passo para pavimentar a estrada que o leve a concorrer em condições de vencer as eleições presidenci­ais de 2022. Primeiro, montou um governo recheado por ex-ministros, com reconhecid­a eficiência no cenário nacional, e está desenvolve­ndo ações que o destacam da ineficiênc­ia do governo federal, atraindo empresas para o Estado e gerando empregos.

Depois, tomou o controle de seu partido, o PSDB, colocando aliados em todos os diretórios, do estadual ao nacional. Emplacou na semana passada o ex-ministro das Cidades, Bruno Araújo, como o novo presidente nacional, em substituiç­ão ao ex-governador Geraldo Alckmin, com quem não vinha se dando bem desde as eleições do ano passado. Em uma tacada só, Doria afastou os “cabeças brancas” (mais velhos), que dominavam o partido há 30 anos, e anunciou que vai levar a agremiação para a centro-direita, com a adoção de políticas liberais na economia, mas não conservado­ras nos costumes, diferencia­ndo-se do bolsonaris­mo. Ao bancar Araújo, quebrou outro paradigma: ele é pernambuca­no, terra onde o PSDB sempre perdeu eleições. Doria sabe que um paulista só terá chances de se eleger presidente se for bem votado no Nordeste.

ISTOÉ apurou no Congresso que a intenção a partir de agora é o partido consolidar a sigla como alternativ­a à extrema direita do PSL. Tanto assim que durante a convenção que elegeu Araújo, na sexta-feira 31, estiveram presentes líderes de vários partidos do chamado Centrão, incluindo o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de dirigentes do MDB, PRB e PL, que vêm sendo ofendidos por Bolsonaro. Deu-se início, assim, à eventual formalizaç­ão de uma frente

que pode apresentar um candidato viável à sucessão. Para integrante­s do partido, a ideia é que esse grupo se posicione, desde já, em relação às inconstânc­ias do presidente. O partido também não ficará mais em cima do muro. Isso não significa que o PSDB vai se colocar como oposição, mas saberá reconhecer as boas iniciativa­s do governo, como é o caso da Reforma da Previdênci­a. E, principalm­ente, mostrar que é possível governar com pautas liberais, sem, no entanto, esquecer a preocupaçã­o com o social. O foco é na implementa­ção de boas práticas políticas.

LIBERAL E DEMOCRÁTIC­O

Descontent­e com o fato de Doria pretender levar o PSDB mais para a direita, FH nem foi à convenção. O governador, no entanto, diz que o projeto não está sendo bem compreendi­do. “O PSDB será um partido de centro, liberal democrátic­o, a favor da economia de mercado. Um partido do emprego e da oportunida­de, que vai respeitar o seu passado, mas que será protagonis­ta do seu futuro”, disse Doria à ISTOÉ. Na mesma linha, o vice-líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF), explica que o momento é de o partido se renovar. “Tivemos no ano passado um momento atípico, em que sofremos uma dura derrota, mas está na hora de exaltarmos a nossa herança histórica, como o Plano Real e as conquistas sociais”. Resta saber se o novo PSDB, com Doria no comando, terá força para retomar as vitórias da década de 90, onde os tucanos elegeram e reelegeram FHC.

 ??  ?? O LIBERTÁRIO Doria quer reconstrui­r o PSDB com uma política liberal na economia, mas sem os atrasos do conservado­rismo nos costumes
O LIBERTÁRIO Doria quer reconstrui­r o PSDB com uma política liberal na economia, mas sem os atrasos do conservado­rismo nos costumes
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LIDERANÇA O PSDB de Doria quer transforma­r a gestão de São Paulo em laboratóri­o para o Brasil

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