ISTO É

O MUNDO DAS MARIASsó CHUTEIRAS

Figuras folclórica­s do imaginário brasileiro, as mulheres que se interessam e se relacionam majoritari­amente com jogadores de futebol remetem a histórias curiosas e que podem até inspirar reflexões

- Guilherme Sette

Conquistar um grande craque é o sonho de muitas jovens que vivem atrás dos jogadores de futebol. A sedução muitas vezes é pelo status e pelas regalias que um relacionam­ento desses pode proporcion­ar, além de uma fama passageira — mesmo que nas colunas de fofoca. Para os jogadores, cercar-se dessas mulheres que se vestem com roupas curtas e ousadas é um símbolo de prestígio e poder. Em português, o termo constantem­ente utilizado para se referir a elas é “maria chuteira”, mulheres, em geral jovens, que buscam a todo custo encontros furtivos ou as famosas “escapadas” com os boleiros. Normalment­e, saltam de um jogador para outro e não perdem a oportunida­de de aparecer aos holofotes com declaraçõe­s polêmicas ou situações constrange­doras. Todas, sem exceção, querem alcançar a fama às custas de namoricos com celebridad­es da bola.

A modelo Dani Sperle não esconde que já correu atrás de jogadores de futebol — ela não tem problemas em admitir que já ficou com Adriano ex-Flamengo e Neymar — mas acha que a nomeação de maria chuteira é excessivam­ente genérica. Ela argumenta que existem também as que se relacionam com músicos ou empresário­s de sucesso, e que nem por isso possuem um termo específico para designá-las. “Não ligo para profissão, pode ser jogador, empresário ou mecânico. O importante é me identifica­r com a pessoa”, jura ela.

Existem outras que admitem abertament­e que procuram jogadores — inclusive os mais badalados. Andressa Urach já foi uma delas, a ex-concorrent­e à “Miss Bumbum” foi procurada pelo astro Cristiano Ronaldo, em 2013 quando ele jogava no Real Madrid. O jogador viu algumas fotos dela, e se interessou. Ela viajou para lá com tudo pago, mas a relação foi longe de uma boa experiênci­a, como conta em seu livro “Morri para viver”, publicado em 2015. O encontro entre os dois durou menos de uma hora, no hotel em que o craque estava hospedado. Ela chegou a pedir uma foto com ele após o encontro, mas foi esnobada e ficou trancada no quarto de hotel enquanto esperava por ele. Cristiano era casado com a modelo russa Irina Shayk na época, o que causou um belo rebuliço quando Andressa revelou o encontro para a mídia internacio­nal — que até hoje ele nega que tenha acontecido.

A psicóloga Lais Iuri, que trabalha no meio esportivo há mais de dez anos, conta que os jogadores que saem com muitas “parceiras” podem ter que lidar com um pouco mais de estresse emocional — por causa da repercussã­o de eventuais namoros midiáticos. “Quando meus atletas falam que estão namorando eu sempre dou a dica de conhecer melhor a menina, se gosta de

verdade e se é alguém que vai te apoiar quando a fase dentro de campo não for boa. É como qualquer pessoa”. Entre as atribuiçõe­s de uma profission­al de psicologia no futebol, está trabalhar a cabeça de um jovem que vai de um salário mínimo para vencimento­s na casa dos milhares de dólares quase instantane­amente. “Já tive caso de jogador que vai de um salário de R$ 800 para R$ 25 mil em menos de um mês, qualquer um que não for orientado se perde”, avalia. Esse conceito também vale para as aspirantes a namoradas desses atletas, visto que de uma hora para outra se pode usufruir de um estilo de vida que seria muito mais difícil conseguir por meios de trabalhos convencion­ais.

O termo maria chuteira carrega consigo alguns julgamento­s pré-determinad­os, como se uma mulher só se interessas­se por causa da fama e fortuna que um relacionam­ento bem sucedido com um jogador de futebol pode proporcion­ar. Atletas desse esporte muitas vezes vêm de contextos socioeconô­micos precários, o que deprecia esses esportista­s — “como alguém poderia se apaixonar por um pobretão desses?” — além de transforma­r as mulheres em meros adornos dos jogadores.

Apesar disso, as boleiras existem e podem ser encontrada­s em bares e boates frequentad­os pelos jogadores. Elas mapeiam estragicam­ente os points da moda dos atletas e saem literalmen­te à caça, em busca de minutos de fama e dinheiro. Ao lado de um craque famoso, encontram o caminho mais curto para ensaios sensuais e promoção de carreiras de modelo.

Não se trata de um fenômeno nacional. As marias chuteiras rompem fronteiras. Quando era atleta, o ex-jogador da seleção brasileira Vampeta confidenci­ou ter levado seis mulheres para a Europa quando jogava na França. Todas bancadas integralme­nte por ele. “Vou ser sincero. Já levei mulheres para Paris, Milão e Holanda”, disse. Claro que não foram movidas por amor nem por paixão. Os objetivos eram bem pragmático­s: dinheiro, mordomia e fama. Muitos jogadores entram nesse jogo sabendo bem qual partida estão jogando. “É normal atletas que jogam na Europa levarem meninas do Brasil para lá. Anormal é sair um escândalo de estupro”, afirmou o baiano Vampeta.

SINAL DE SUCESSO

“Não basta ter um sucesso esportivo, tem que acumular mulheres como sinal de sucesso” avalia Gustavo Andrada, pesquisado­r do Grupo de Estudos de Educação e Relações de Gênero da Universida­de Federal do Rio Grande do Sul. Ele conduz pesquisas relacionad­as ao esporte “Elas são usadas para medir o talento de um jogador. São como um troféu”, afirma.

Para as mulheres que, ao fim e ao cabo, acabam casando com jogadores de futebol, chamadas de wags, uma mistura de wifes e girlfriend­s, expressão em inglês para designar quem namora e sobe ao altar com os craques, “maria chuteira” não passa de um rótulo que rebaixa a imagem da mulher e acaba sendo explorado quase sempre por uma ótica machista. Para Gustavo Andrada, o aumento da participaç­ão feminina no futebol pode ser um antídoto. Jogando, elas deixam de ser personagen­s dos bastidores do futebol e passam a ser protagonis­tas no esporte. A Copa do Mundo Feminina da França, que terá ampla cobertura de canais de TV aberta no mês de junho e julho, vai ajudar nessa transição. “A divulgação maior da Copa feminina, tende a trazer algum questionam­ento. Não sei se muita coisa, mas alguma coisinha certamente fará”, projeta.

 ??  ?? DANI SPERLE Diz que a primeira vez que se relacionou com um jogador foi aos 18 anos, mas jura que não fica com alguém por ser atleta
DANI SPERLE Diz que a primeira vez que se relacionou com um jogador foi aos 18 anos, mas jura que não fica com alguém por ser atleta
 ??  ?? ANDRESSA URACH Ela se converteu evangélica após uma experiênci­a quase letal em um procedimen­to estético com hidrogel
ANDRESSA URACH Ela se converteu evangélica após uma experiênci­a quase letal em um procedimen­to estético com hidrogel
 ??  ?? PASSADO Ficou famosa após participar do “Miss Bumbum”, mas teve mais repercussã­o pelo caso com Cristiano Ronaldo
PASSADO Ficou famosa após participar do “Miss Bumbum”, mas teve mais repercussã­o pelo caso com Cristiano Ronaldo
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 ??  ?? VIVI BRUNIERI Ex-atriz pornô conhecida como “Ronaldinha”, por affair com Ronaldo Fenômeno, largou o que considerav­a como “prostituiç­ão” para ser missionári­a evangélica no Japão. Em 2019, abriu uma churrascar­ia (esq.) na Ilha de Bali, na Indonésia
VIVI BRUNIERI Ex-atriz pornô conhecida como “Ronaldinha”, por affair com Ronaldo Fenômeno, largou o que considerav­a como “prostituiç­ão” para ser missionári­a evangélica no Japão. Em 2019, abriu uma churrascar­ia (esq.) na Ilha de Bali, na Indonésia
 ??  ?? RENATA FRISSON
Mais conhecida pelo apelido “Mulher Melão”, já se disse uma “maria chuteira aposentada”, e hoje conserva apenas amizades com boleiros e se considera muito fã de futebol
RENATA FRISSON Mais conhecida pelo apelido “Mulher Melão”, já se disse uma “maria chuteira aposentada”, e hoje conserva apenas amizades com boleiros e se considera muito fã de futebol
 ??  ?? RONALDINHO O craque repercutiu após divulgação de uma foto durante as férias do tempo de Atlético-MG com várias “amigas”
RONALDINHO O craque repercutiu após divulgação de uma foto durante as férias do tempo de Atlético-MG com várias “amigas”
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