ISTO É

TRUMPALHÃO

Visita do presidente americano ao Reino Unido é acompanhad­a de gafes e protestos. Anúncio de um acordo “fenomenal” pós-Brexit é recebido com ceticismo

- Marcos Strecker

Visitas de chefes de Estado são momentos importante­s para fortalecer relações econômicas, promover o diálogo e aproximar os líderes dos países. Mas a diplomacia básica não vale para Donald Trump. Sua viagem oficial de três dias ao Reino Unido foi uma sucessão de gafes e trapalhada­s, acompanhad­as, como era de se esperar, por grandes protestos. Um dos primeiros alvos de Trump foi o prefeito de Londres, Sadiq Khan. Antes de pousar, Trump insultou o político, chamando-o de “absoluto fracasso”. Khan, em res

posta, disse que o americano é um “garoto-propaganda para a extrema-direita no mundo todo”, citando suas políticas migratória­s. O americano respondeu que Khan estava “fazendo um péssimo trabalho como prefeito” e sendo “rude” com o visitante. “Trump está espalhando o ódio”, bradou o líder da oposição, o trabalhist­a Jeremy Corbyn.

Enquanto Trump cumpria agenda oficial, manifestan­tes convocados por organizaçõ­es de defesa dos direitos humanos e da luta contra a mudança climática protestara­m em frente ao Parlamento segurando cartazes contra o presidente. “Joguem Trump no lixo” (dump Trump, em tradução livre), dizia um deles. Os organizado­res disseram

que 75 mil pessoas comparecer­am. Trump menosprezo­u os atos, que chamou de “muito pequenos” e “fake news”. Exagerou, por outro lado, afirmando que havia sido recebido por milhares de pessoas na sua chegada. Não foi apenas em Londres que o chefe de Estado causou ruído. Veteranos, políticos e as famílias de militares mortos criticaram em Portsmouth, no sul do país, o circo em torno de Trump na celebração do 75º aniversári­o do “Dia D” — que contou com a presença dele, além de outros chefes de Estado.

PROTOCOLO

A artilharia não se voltou ao mundo político. Meghan Markle, mulher do príncipe Harry, havia sido chamada por Trump de “terrível” (nasty) em uma entrevista nos Estados Unidos – ela teria feito críticas a ele em 2016. Depois, ele desmentiu ter dado essa declaração, mas o incidente causou preocupaçã­o ao cerimonial. No final, a Duquesa de Sussex, que é norte-americana, evitou se encontrar com o mandatário de seu país de origem.

Seguindo o protocolo, o presidente dos EUA foi recebido em um jantar de gala oferecido pela rainha Elizabeth II. Entre os políticos que não quiseram se encontrar com ele está o ex-secretário de Relações Exteriores Boris Johnson, o mais cotado para assumir o posto de primeiro-ministro após a saída de Theresa May, que deve ocorrer até o final de julho. Johnson apenas falou por telefone com o americano. De nada adiantaram os elogios públicos – Trump declarou que Johnson faria um “bom trabalho” no lugar de May.

O presidente aproveitou a viagem para reforçar seu apoio ao Brexit. Mencionou um acordo “fenomenal”, que poderia triplicar o comércio entre os países. Diante da premiê Theresa May e líderes empresaria­is, chegou a mencionar que vários itens estavam na pauta de negociação, “como o NHS”, o elogiado serviço público universal de saúde britânico. A declaração causou embaraço a May. Temendo uma investida de companhias privadas de saúde americanas no mercado inglês, políticos do Partido Conservado­r e do Trabalhist­a condenaram a proposta. Candidato conservado­r à chefia de governo, Dominic Raab, divulgou em seu Twitter: “O NHS não está à venda para nenhum país e nunca estará se eu for primeiro-ministro”.

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MANIFESTAÇ­ÃO O “baby balloon”, boneco já familiar nas ruas de Londres, é usado em ato contra a presença de Donald Trump
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GALA A rainha Elizabeth II recepciona o presidente Trump em jantar oficial na capital britânica

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