TRUMPALHÃO
Visita do presidente americano ao Reino Unido é acompanhada de gafes e protestos. Anúncio de um acordo “fenomenal” pós-Brexit é recebido com ceticismo
Visitas de chefes de Estado são momentos importantes para fortalecer relações econômicas, promover o diálogo e aproximar os líderes dos países. Mas a diplomacia básica não vale para Donald Trump. Sua viagem oficial de três dias ao Reino Unido foi uma sucessão de gafes e trapalhadas, acompanhadas, como era de se esperar, por grandes protestos. Um dos primeiros alvos de Trump foi o prefeito de Londres, Sadiq Khan. Antes de pousar, Trump insultou o político, chamando-o de “absoluto fracasso”. Khan, em res
posta, disse que o americano é um “garoto-propaganda para a extrema-direita no mundo todo”, citando suas políticas migratórias. O americano respondeu que Khan estava “fazendo um péssimo trabalho como prefeito” e sendo “rude” com o visitante. “Trump está espalhando o ódio”, bradou o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn.
Enquanto Trump cumpria agenda oficial, manifestantes convocados por organizações de defesa dos direitos humanos e da luta contra a mudança climática protestaram em frente ao Parlamento segurando cartazes contra o presidente. “Joguem Trump no lixo” (dump Trump, em tradução livre), dizia um deles. Os organizadores disseram
que 75 mil pessoas compareceram. Trump menosprezou os atos, que chamou de “muito pequenos” e “fake news”. Exagerou, por outro lado, afirmando que havia sido recebido por milhares de pessoas na sua chegada. Não foi apenas em Londres que o chefe de Estado causou ruído. Veteranos, políticos e as famílias de militares mortos criticaram em Portsmouth, no sul do país, o circo em torno de Trump na celebração do 75º aniversário do “Dia D” — que contou com a presença dele, além de outros chefes de Estado.
PROTOCOLO
A artilharia não se voltou ao mundo político. Meghan Markle, mulher do príncipe Harry, havia sido chamada por Trump de “terrível” (nasty) em uma entrevista nos Estados Unidos – ela teria feito críticas a ele em 2016. Depois, ele desmentiu ter dado essa declaração, mas o incidente causou preocupação ao cerimonial. No final, a Duquesa de Sussex, que é norte-americana, evitou se encontrar com o mandatário de seu país de origem.
Seguindo o protocolo, o presidente dos EUA foi recebido em um jantar de gala oferecido pela rainha Elizabeth II. Entre os políticos que não quiseram se encontrar com ele está o ex-secretário de Relações Exteriores Boris Johnson, o mais cotado para assumir o posto de primeiro-ministro após a saída de Theresa May, que deve ocorrer até o final de julho. Johnson apenas falou por telefone com o americano. De nada adiantaram os elogios públicos – Trump declarou que Johnson faria um “bom trabalho” no lugar de May.
O presidente aproveitou a viagem para reforçar seu apoio ao Brexit. Mencionou um acordo “fenomenal”, que poderia triplicar o comércio entre os países. Diante da premiê Theresa May e líderes empresariais, chegou a mencionar que vários itens estavam na pauta de negociação, “como o NHS”, o elogiado serviço público universal de saúde britânico. A declaração causou embaraço a May. Temendo uma investida de companhias privadas de saúde americanas no mercado inglês, políticos do Partido Conservador e do Trabalhista condenaram a proposta. Candidato conservador à chefia de governo, Dominic Raab, divulgou em seu Twitter: “O NHS não está à venda para nenhum país e nunca estará se eu for primeiro-ministro”.