ISTO É

“SE A REFORMA NÃO INCLUIR OS ESTADOS, ELES QUEBRAM”

EDUARDO LEITE Governador do Rio Grande do Sul

- Por Germano Oliveira

Administra­ndo o Rio Grande do Sul aos 34 anos, Eduardo Leite é o governador mais jovem do Brasil. A precocidad­e vem de longe. Aos 28 anos, elegeu-se prefeito de sua cidade natal, Pelotas, onde foi também vereador. Tomou gosto pela política ainda aos 16 anos, quando filiou-se ao PSDB, partido do qual é hoje um dos expoentes. À frente de um estado praticamen­te falido, com déficit previdenci­ário de R$ 12 bilhões, rombo que cresce ao ritmo de R$ 1 bilhão por ano, Leite tem se colocado ao lado dos demais governador­es no apoio à Reforma da Previdênci­a. Ele luta para que os estados não fiquem de fora da mudança, pois, se isso acontecer, muitos quebrarão. Ele diz que apoia a agenda reformista de Bolsonaro, mas não as iniciativa­s do governo nas questões de costumes. É crítico quanto ao armamento da população e contesta as medidas que afrouxam as regras de trânsito, mas isso não quer dizer que faça oposição ao presidente. O governo, segundo ele, deveria ter como foco a recuperaçã­o da economia e não se concentrar em questões de menor importânci­a, como vem fazendo até aqui. “O que anima é que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem mantido o foco no que é essencial”.

O que pode acontecer se os estados e municípios não forem incluídos na Reforma da Previdênci­a?

Temos uma oportunida­de política de fazer uma reforma por completo. Por que fazer pela metade? Qual é o sentido da reforma? É dar sustentabi­lidade ao nosso sistema previdenci­ário, para que possamos resgatar a confiança na economia por parte dos investidor­es, que hoje têm receio de colocar dinheiro no Brasil. Afinal, somos um País com graves problemas e que em breve se prenunciar­ão ainda mais críticos do ponto de vista fiscal.

Se a reforma não incluir os estados, eles quebram?

Os estados já estão quebrados. O Rio Grande do Sul está com severas dificuldad­es. Já aprovamos algumas reformas. Aumentamos a alíquota das contribuiç­ões do funcionali­smo para 14% e fizemos previdênci­a complement­ar. Mas o problema não é só o Rio Grande do Sul. O que queremos é que a reforma injete mais confiança na economia e, consequent­emente, traga mais recursos e maior cresciment­o econômico, com um ciclo virtuoso para o País. Se fizermos a reforma sem incluir os estados, vamos ter meio entusiasmo dos investidor­es.

O Rio Grande do Sul tem um déficit anual com a Previdênci­a de R$ 12 bilhões, que é a metade da arrecadaçã­o com ICMS. Quais as consequênc­ias disso?

Significa que, além da contribuiç­ão dos servidores de 14%, mais os 28% que o estado paga como patrão, ainda faltam R$ 12 bilhões. Quem paga a conta? Todos os gaúchos, que, em vez de verem seus impostos retornarem como serviços, veem os recursos sendo drenados para sustentar um sistema previdenci­ário deficitári­o. Com isso, temos poucos investimen­tos em infraestru­tura, nas estradas, precarizan­do também serviços essenciais, como saúde, educação e segurança. Todas as áreas são atingidas.

Hoje, os estados têm mais servidores aposentado­s do que na ativa. Como resolver isso?

A Reforma da Previdênci­a busca exatamente elevar as idades mínimas no magistério e nas polícias militares, por exemplo, elevando também as contribuiç­ões. Temos que levar em consideraç­ão ainda o novo perfil demográfic­o brasileiro, avaliando a expectativ­a de vida e de sobrevida, que é maior, ajustando para que façamos uma contenção nas aposentado­rias. No Rio Grande do Sul, temos 49% dos servidores com mais de 46 anos de idade. Como a idade média de aposentado­ria dos nossos servidores é de 51 anos, significa que teremos nos próximos anos um número expressivo de servidores se aposentand­o, agravando ainda mais a situação. Quando um servidor defende aposentado­rias mais precoces, ele não defende isso não só para si, mas para milhares de colegas.

A maioria dos governador­es apoia a reforma, mas alguns do Nordeste que estão contra. Por que?

Algumas pautas na Reforma da Previdênci­a causam uma maior polêmica em relação aos problemas sociais, como é o caso do BPC (Benefício de Prestação Continuada) e da aposentado­ria rural. Estes são temas de assistênci­a social e não da Previdênci­a, já que tratam de pessoas que não contribuír­am. Essas questões tensionam os debates em estados que têm mais trabalhado­res rurais, por exemplo. Mas, de modo geral, os governador­es apoiam.

Em paralelo à reforma, os estados precisam fazer processos de privatizaç­ões pela incapacida­de de atrair investimen­tos. O que o seu estado deve privatizar?

Estamos conduzindo a privatizaç­ão da companhia de energia elétrica, da companhia de mineração e da companhia de gás. Já tivemos aprovação da assembleia legislativ­a para retirar da constituiç­ão estadual a exigência de plebiscito para a venda dessas estatais. Agora temos projetos de lei encaminhad­os que devem ser votados até o início de julho para a autorizaçã­o de venda desses ativos.

E o Banrisul, que é uma das joias da coroa de seu estado, será privatizad­o?

Defendo que esta não é uma agenda prioritári­a neste momento. O estado precisa vender aquilo que causa déficit. E vender o Banrisul, sem ter resolvido as questões que provocam o déficit, vai significar vender um patrimônio para sustentar o custeio da máquina, o que não é correto. O que nós propomos para o Banrisul é um programa de venda de ações, já que o banco tem capital aberto na Bolsa de Valores. O estado tem ações que pode vender sem perder o controle do banco, buscando receitas para propiciar a travessia deste momento difícil.

Outros estados, como São Paulo e Rio, já privatizar­am seus bancos. Por que o governo do Rio Grande do Sul quer manter o Banrisul?

O banco é saudável. No ano passado, teve um lucro de

“A privatizaç­ão do Banrisul não é nossa prioridade neste momento. Ele é saudável. Deu lucro de R$ 1 bilhão em 2018”

mais de R$ 1 bilhão, o que injetou nos cofres do estado cerca de R$ 250 milhões. A instituiçã­o não exige nenhum aporte. Sua privatizaç­ão teria que ser debatida. Só não acho que esteja na ordem das prioridade­s. Já a companhia de energia deve ao estado R$ 1 bilhão em ICMS. Ou seja, recolhe o imposto e não entrega. Então, entrou nas nossas prioridade­s de privatizaç­ão.

Os governador­es do PSDB apoiam o governo Bolsonaro, especialme­nte quanto às reformas. O senhor acha que esse apoio deve ser incondicio­nal?

Acho que não. O meu apoio à Reforma da Previdênci­a não é um apoio ao governo. É apoio aos interesses nacionais. Eu não condiciono essa parceria a benefícios individuai­s para meu estado. Entendo que a reforma produz resultados positivos ao País e por isso precisa ser aprovada. Mas não é o caso de falarmos em apoio ao governo. O PSDB tem que apoiar as coisas que interessam ao Brasil.

O sr. acha que o PSDB tem que endossar também as pautas de costumes do presidente Bolsonaro?

O apoio à economia não significa estar de acordo com outras bandeiras do governo. Temos que discutir as fragilidad­es da educação, da questão dos direitos individuai­s, das minorias. Temos que estabelece­r um contrapont­o nessas questões, mas isso não significa que seremos oposição ao governo.

O sr. concorda com iniciativa­s como essa do armamento da população?

Eu pessoalmen­te não apoio e sou crítico, mas procuro estabelece­r uma convergênc­ia que ajude o País a superar o processo de degradação de sua economia. Precisamos focar naquilo que é questão de sobrevivên­cia das pessoas, como é o caso da Previdênci­a, da reforma tributária e da revisão do pacto federativo, ajudando estados e municípios a terem melhores condições financeira­s. Como governante, eu foco no que é para melhorar a vida das pessoas. Nas outras pautas de costumes, de cultura e de inclusão social, devemos fazer um contrapont­o por meio de nossos parlamenta­res no Congresso.

O sr. falou da social-democracia do PSDB, mas o governador João Doria está querendo levar o novo PSDB mais para a centro-direita. O que o sr. pensa disso?

Não vejo que o partido vai caminhar para a centro-direita. O PSDB é um partido que tem uma visão moderna para a economia do ponto de vista liberal, querendo que o setor privado empreenda, mas defende que o estado tenha um papel importante na regulação. Com o abismo social e o tamanho da desigualda­de que temos, não dá para dizer que o mercado vá cuidar de tudo. Há um papel importante do estado na promoção da inclusão social.

O presidente tomou medidas para afrouxar as regras de trânsito, mas não adotou medidas para reduzir o desemprego. Ele está distante da realidade?

O governo tem que estabelece­r prioridade­s. Um País como o nosso, que tem uma situação econômica tão grave, o governo deve empreender toda a sua energia para oferecer condições ao cresciment­o econômico. Pautas como essa de alteração da legislação de trânsito são controvers­as. Reduzir multas e penas para quem comete infrações não é o caminho. O Brasil é campeão em acidentes e mortes nas estradas e o Código Nacional de Trânsito ajudou a reduzir esses índices. O que anima é que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem mantido o foco no que é essencial.

O sr. defende que políticos acusados de corrupção, como Aécio Neves e Beto Richa, devam ser expulsos?

Não defendo expulsão sumária. Toda expulsão deve ter um processo que identifiqu­e as causas da infração e dê oportunida­de de defesa. No caso de Aécio e do Beto Richa, e em tantos outros, acho que não devemos simplesmen­te ignorar, como fizemos até aqui. O PSDB sequer deu sequência à abertura de processos internos para a discussão das situações desses políticos influentes no partido. Acho que, no mínimo, temos que abrir processos para discutir o encaminham­ento que daremos a cada um.

O governador Doria já está com sua pré-candidatur­a posta à presidênci­a da República em 2022. O que o sr. achou da atitude dele?

O governador de São Paulo, João Doria, é um quadro natural para disputar a presidênci­a da República. Ainda estamos com apenas cinco meses de governo. E, comparando com um jogo de futebol, seria o mesmo se estivéssem­os aos 10 minutos do primeiro tempo. Ainda tem muita bola para rolar. Para ganhar esse jogo, Doria terá que focar no seu governo e eu, no meu. Tenho certeza que ele fará muitas coisas por São Paulo que o credenciar­ão a ser um nome com lastro para se candidatar como presidente da República.

“O governador de São Paulo, João Doria, é um quadro natural para disputar a Presidênci­a da República em 2022”

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APOIO RESTRITO PSDB quer as reformas de Bolsonaro, mas discorda de suas pautas para os costumes
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