ISTO É

A PREVIDÊNCI­A E SEUS MITOS

- por Marco Antonio Villa A seguir: Murillo de Aragão

Ninguém discute a necessidad­e de ser aprovada uma reforma da Previdênci­a. É imperioso enfrentar o grave problema das contas públicas. Contudo, o que está em questão é o que deve ser alterado nas regras atuais. É impossível obter, como deseja o governo, uma economia de R$ 1,2 trilhão em dez anos. A PEC retira direitos dos mais pobres, isto é inegável. Rico não solicita, nunca usufruiu e não sabe o que é o Benefício de

Prestação Continuada (BPC). Também não é possível imaginar que o “andar de cima” deseje algum um dia obter a aposentado­ria rural ou receber o abono do PIS. A capitaliza­ção, que deve financiar a Nova Previdênci­a, não será aprovada, inclusive porque até hoje o governo não explicou como vai funcionar. Argumentou que enviará ao Congresso Nacional como projeto de lei. Assim, sua aprovação será, literalmen­te, um cheque em branco a ser preenchido pela equipe econômica. Alguém imagina que os parlamenta­res vão aprovar? Vale destacar que a Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) apresentou um relatório analisando trinta países que adotaram o regime de capitaliza­ção. Em dezoito deles o modelo já foi abandonado. Não causa estranheza? Se esta é a solução para os nossos problemas, qual seria a razão para seu fracasso em tantos lugares? E sem a capitaliza­ção, como irá funcionar a Nova Previdênci­a?

O governo insiste na versão de que fez a sua parte. Agora caberia ao Congresso

aprovar a reforma, como se o Legislativ­o estivesse a serviço do Executivo, sem, portanto, ter vida própria, ignorando solenement­e o que dispõe a Constituiç­ão. Só que não há uma administra­ção superior imperial. Na mesma urna que elegeu o Presidente da República foram também eleitos os deputados e senadores. Portanto, os dois poderes têm a mesma legitimida­de, a do voto popular. E cada poder funciona com dinâmica própria. A do executivo federal, pela vontade exclusiva do Presidente da República. No caso do Congresso é necessário

Se a reforma é a solução para os nossos problemas, qual é a razão para seu fracasso em 18 países? Em vez de discursos, precisamos de um projeto nacional

ouvir os 513 deputados federais e 81 senadores. Ou seja, são processos distintos e cada um deve ser respeitado. Se o Palácio do Planalto tinha tanta pressa, porque não enviou a PEC em fevereiro, quando da abertura dos trabalhos legislativ­os?

Cabe também perguntar: o que o governo propõe além da reforma da Previdênci­a? Nestes primeiros cinco meses nada foi apresentad­o. O que ouvimos foi um discurso monotemáti­co e com tinturas catastrófi­cas, o que pode significar ausência de um projeto nacional para o País.

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