ISTO É

O PARTIDO DA INTRIGA

Integrante­s do PSL não se entendem e criam crises intermináv­eis pelo poder, com doses de baixaria. Tudo passaria despercebi­do, se não fosse o partido ao qual o presidente Bolsonaro está filiado

- Wilson Lima

Fundado em 1994, o PSL sempre foi visto como um partido de aluguel. Uma sigla cujos princípios ideológico­s nunca foram claros. Até o nome da agremiação é confuso: Partido Social Liberal, juntando doutrinas filosofica­mente distintas. Nos bastidores da Câmara, é visto como feudo partidário do seu fundador e hoje presidente, o deputado Luciano Bivar (PSL-PE). A questão é que, depois do pleito de 2018 que elegeu Jair Bolsonaro, o partido tornou-se a segunda maior bancada, com 54 deputados, ganhou musculatur­a política, mas passou a se ressentir da falta de unidade. Hoje, encontra-se completame­nte desorganiz­ado, imerso em disputas internas, com acusações de desvios e desmandos, e até troca de ofensas e baixarias entre os parlamenta­res que o integram. Crises que têm prejudicad­o a governabil­idade. A mais recente instabilid­ade ocorreu por conta de irregulari­dades cometidas por Bivar, que teria comprado notas frias para justificar seus gastos de campanha junto ao TSE. O episódio deixou o presidente Bolsonaro transtorna­do, por entender que as práticas pouco republican­as do presidente de seu partido podem respingar no governo. Afinal, Bolsonaro foi eleito pregando a lisura na política.

O mal-estar gerado pela compra de notas fiscais por parte de Bivar foi tamanho que Bolsonaro teve de convocar uma reunião no Palácio do Alvorada, no sábado 8, com seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e os advogados Karina Kufa, que dirige o departamen­to jurídico do partido, e Antonio Rueda, vice-presidente nacional, para analisar a situação. Afinal, Bivar já é investigad­o em Pernam

buco por ter lançado candidatas laranjas, ficando com o dinheiro destinado a elas para a campanha eleitoral do ano passado. O partido também responde a acusações em Minas Gerais, envolvendo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Bolsonaro e seus filhos iniciaram, então, um movimento para tirar Bivar da presidênci­a. A ação foi tão intensa que Bivar se viu obrigado a publicar em um grupo de whatsapp de deputados do PSL justificat­ivas plausíveis para o caso. Surpreendi­do com a intensa troca de mensagens, o senador Major Olimpio (PSL-SP) partiu para o ataque: “Que p... é essa?” No meio do tiroteio, o deputado Alexandre Frota, que anda às turras com Olimpio e com o filho do presidente, o

deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), tomou a defesa de Bivar. “Quero avisar que eu, Alexandre Frota, não vou participar da fritura do Bivar”.

Como o partido vem tomando várias iniciativa­s contrárias até mesmo ao governo, Bolsonaro resolveu avocar para si o controle da máquina partidária. A ideia, então, foi acomodar seus filhos em postos importante­s da sigla. De olho nesse objetivo, Bolsonaro pediu para que o senador Olimpio abrisse mão da presidênci­a do diretório estadual do PSL de São Paulo para alçar ao cargo o deputado Eduardo Bolsonaro. “Não serei um ditador”, prometeu o 03 do presidente durante a cerimônia de posse, que não contou com a presença de campeões de voto em São Paulo. A sucessão, de fato, não foi tranqüila. Alguns parlamenta­res não gostaram da solução e reclamaram. Motivo: por trás da celeuma, está a disputa pela vaga do partido à prefeito de São Paulo em 2020. A briga está só começando. O grupo de Olimpio prefere a candidatur­a do próprio Eduardo ou do jornalista José Luiz Datena, enquanto outras alas, como a da deputada Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso, defendem a aproximaçã­o com o governador João Doria (PSDB) para o lançamento de uma candidatur­a conjunta.

”FOGO NO PUTEIRO”

O deputado Frota foi um dos que não gostaram do fortalecim­ento dos Bolsonaros. “Vou colocar fogo no puteiro”, escreveu o ex-ator pornô no Twitter ainda no domingo 9. Frota tinha motivos para estrilar. No sábado, foi divulgado que seu motorista Marcelo Ricardo Silva revelou ao MPE ter sido “laranja” dele em duas empresas. Ele teria sido obrigado a transferir dinheiro, supostamen­te de caixa dois, para a mulher do deputado. Pressionad­o devido às denúncias, Frota ameaçou os próprios correligio­nários: “O que tenho comigo é muito forte”, insinuando que pode ter munição capaz de compromete­r integrante­s da legenda.

Como se nota, ninguém se entende no PSL. Não se trata exatamente de uma surpresa. Afinal, sem uma corrente ideológica estabeleci­da, o partido abrigou todo tipo de candidato na eleição de 2018 — de youtubers a políticos fracassado­s em outras eleições; de empresário­s a trabalhado­res; de democratas a defensores da volta da monarquia. Ao contrário de PSDB e PT que, quando alcançaram o poder, dispunham ao menos de alguma unidade programáti­ca, o PSL hoje paga o preço pelo afã de inchar politicame­nte a qualquer custo.

“É inteligent­e o casamento com o Centrão???” rebateu Carla Zambelli, deputada

 ??  ?? “Que p... é essa?”, disse o senador Major Olímpio, referindo-se ao movimento para tirar Luciano Bivar da presidênci­a do PSL
Parlamenta­res ficaram descontent­es com a posse do deputado Eduardo
Bolsonaro, o 03, na presidênci­a do PSL de São Paulo
“Que p... é essa?”, disse o senador Major Olímpio, referindo-se ao movimento para tirar Luciano Bivar da presidênci­a do PSL Parlamenta­res ficaram descontent­es com a posse do deputado Eduardo Bolsonaro, o 03, na presidênci­a do PSL de São Paulo
 ??  ?? “O deputado Major Vitor Hugo é um trapalhão”, disse um parlamenta­r do partido sobre a atuação do líder na Câmara Depois que Luciano
Bivar foi acusado de comprar notas frias, Bolsonaro quer tirá-lo da presidênci­a do PSL “Sem o Centrão não se aprova nada no Congresso. Eu sei fazer contas, sou inteligent­e, já você...” Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso “Vou colocar fogo no puteiro” Alexandre Frota, deputado
“O deputado Major Vitor Hugo é um trapalhão”, disse um parlamenta­r do partido sobre a atuação do líder na Câmara Depois que Luciano Bivar foi acusado de comprar notas frias, Bolsonaro quer tirá-lo da presidênci­a do PSL “Sem o Centrão não se aprova nada no Congresso. Eu sei fazer contas, sou inteligent­e, já você...” Joice Hasselmann, líder do governo no Congresso “Vou colocar fogo no puteiro” Alexandre Frota, deputado

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