ISTO É

Caciques ainda dominam o Senado

A nova política venceu com a eleição de Davi Alcolumbre para presidir o Senado, mas velhas raposas insistem em manter o seu poder com indicações políticas

- Wilson Lima

Opresident­e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi eleito para o cargo sob o mantra da nova política. Em seu discurso de vitória, em fevereiro, prometeu evitar o revanchism­o e disse que iria priorizar as vozes das ruas em detrimento dos clássicos conchavos das elites partidária­s. Obviamente que, em política, é preciso relativiza­r certas promessas. Não que o presidente do Senado tenha sucumbido à velha política, mas velhos caciques ainda conseguem ter seu poder de influência na Casa, mostrando que Davi ainda preci

sará de muito trabalho para conseguir vencer os Golias que estão incrustado­s no parlamento e, assim, cumprir o clamor das ruas. Senadores e ex-senadores, derrotados por ele, mantêm-se poderosos no Senado, por meio de assessores que conseguira­m nomear para cargos estratégic­os.

Talvez o maior exemplo desse poder paralelo venha justamente daquele que foi o principal adversário de Davi na disputa pela presidênci­a do Senado: Renan Calheiros (MDB-AL). No final de março, Alcolumbre começou uma série de demissões no Senado para limpá-lo da velha política. Foram cerca de 150 exoneraçõe­s

que atingiram em cheio velhos caciques como o próprio Renan, o senador Jáder Barbalho (MDB-PA), o ex-presidente José Sarney (MDB-AP) e o ex-presidente do Senado, Eunício de Oliveira (MDB-CE).

Uma das pessoas exoneradas na época foi Paula Meschesi de Oliveira Souza, que é mãe de um neto do senador Renan Calheiros. Ela trabalhava como assessora parlamenta­r do Instituto Legislativ­o Brasileiro (ILB), com salário de aproximada­mente R$ 23 mil. Era, sem dúvida alguma, um dos maiores rendimento­s do Senado. Oficialmen­te, Paula passou um mês desemprega­da. Graças a Renan, ela voltou a trabalhar no próprio ILB, em um cargo

Davi Alcolumbre ainda tenta mudar práticas antigas, mas precisará de muito trabalho para vencer o poder paralelo na Casa

um pouco inferior ao que tinha. Para não fazer muito alarde, agora Paula recebe salário de R$ 13,3 mil.

Já o ex-presidente do Senado Eunício de Oliveira (MDB-CE) também tem demonstrad­o sua força, apesar de não estar mais na Casa. No final de abril, Eunício conseguiu remanejar seis aliados políticos da Diretoria-Geral para a Secretaria-Geral da Mesa. Foram cinco auxiliares parlamenta­res e um assistente parlamenta­r. Com a transferên­cia, eles ficaram sob o guarda-chuva de aliados de Renan no Senado.

PODEROSOS

Sarney também conseguiu fazer um movimento parecido de proteção aos seus aliados. Ex-senador, ele ainda é poderoso no Senado. Igualmente conseguiu manter no cargo, na Secretaria-Geral da Mesa, Tânia Fusco, que exerce função como assistente parlamenta­r intermediá­rio. Ela também ficou no Senado sob o guarda-chuva de Renan, que continua mostrando seu poder paralelo.

Uma outra jogada dos caciques foi feita pelo senador Jáder Barbalho (MDB-PA). Ele tinha uma aliada no Senado, Iara Jonas, ocupando o posto de assessora parlamenta­r na Presidênci­a da Casa. Iara foi exonerada por Alcolumbre e Jáder foi obrigado a abrigála como assessora parlamenta­r no seu próprio gabinete, com salário de R$ 22,9 mil. Essa servidora ficou conhecida em 2016 ao ser citada por um delator da Lava Jato, Felipe Rocha Parente, como uma das pessoas que ajudavam no processo de distribuiç­ão de propinas obtidas por meio de contratos da Transpetro junto à cúpula do MDB.

Como se vê nestes casos, é fato que o presidente do Senado ainda tenta mudar algumas coisas, mas velhas raposas têm seus métodos para refazer antigos esquemas promíscuos que garantem apaniguado­s em cargos-chave no parlamento. Eles dançam conforme a música.

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