ISTO É

LUÍS XVI A PASSEIO NO BRASIL

- por Ricardo Amorim A seguir: José Manuel Diogo, Mario

Fico imaginando Luís XVI, rei francês deposto e decapitado durante a Revolução Francesa (1789-1799), viajando no tempo e no espaço para desembarca­r em Brasília hoje. Ele se sentiria em casa. Encantado com alguns aperfeiçoa­mentos que fizemos em seu sistema de governo, talvez ele até resolvesse se mudar para cá.

Para o monarca, Brasília talvez fosse uma versão moderna, só um pouquinho mais árida, de Versalhes, sede do poder na sua época e para onde as riquezas de toda a França migravam. A incapacida­de da nobreza do Planalto de compreende­r a realidade do resto do País certamente lhe seria familiar.

Logo ele reconhecer­ia a toda poderosa família real, as decisões intempesti­vas do rei e seus príncipes-pimpolhos, e os alegres conselheir­os reais. Provavelme­nte, estranhari­a que o mais influente entre todos viva na Virgínia, nos Estados Unidos.

Diante das lagostas do STF e outras mamatas, o rei guilhotina­do diria: “Nem nós tivemos isso”. É melhor arrumar a casa antes que Robespierr­e apareça

No Congresso, Luís XVI veria a corte, suas mordomias e a convicção de que as regras que valem para os demais não têm de valer para os nobres. No funcionali­smo público, veria uma aristocrac­ia moderna, sustentada pela riqueza produzida pelo povo, mas pouco sensível às suas mazelas.

Seriam as lagostas do STF os famosos brioches da rainha consorte Maria Antonieta? E as dezenas de bilhões de reais pagos anualmente a funcionári­os públicos, inclusive aposentado­s, que independen­te de seus resultados, recebem bônus de desempenho. “Nem nós tivemos isso”, diria. E os auxílios para moradia, creches, paletós, livros, esposas e filhas solteiras pensionist­as e até cachorros com cinco patas: “Como nunca pensamos em algo assim?”

A notícia da falência do setor público por excesso de gastos lhe soaria familiar. A decisão de excluir o funcionali­smo estadual do duro e necessário ajuste da Previdênci­a para evitar que o País colapse, provavelme­nte, mais ainda.

A Revolução Francesa aconteceu há 230 anos, mas a julgar pelo comportame­nto dos políticos e do setor público brasileiro­s, a notícia ainda não chegou a todos por aqui. Seria prudente que chegasse. Mais prudente ainda seria se nossos políticos aprovassem uma Reforma da Previdênci­a ampla, profunda e que atinja com firmeza nossa corte, nossos nobres e nossa aristocrac­ia, antes que o revolucion­ário Robespierr­e e o diligente doutor Guillotin, com seu instrument­o de decapitaçã­o, pensem também em viajar para cá na mesma máquina do tempo.

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