ISTO É

À venda: bens do tráfico

A decisão de comerciali­zar de imediato itens confiscado­s de traficante­s constitui uma iniciativa louvável do governo

- Fernando Lavieri

Um dos casos mais famosos de apreensão e venda bens, no início do século XXI, foi a comerciali­zação de parte do patrimônio do traficante colombiano, Juan Carlos Abadia, que detinha uma fortuna estimada em US$ 2 bilhões, à época. Entre os itens do traficante vendidos constavam uma lancha de luxo, quadros de pintores renomados, dentre os quais, de seu compatriot­a Fernando Botero, além de mansões. O problema foi a morosidade do trâmite necessário para permitir a transação. Entre a prisão de Abadia e a venda do patrimônio apreendido passou-se um ano. Agora, os bens de criminosos que forem confiscado­s poderão ser vendidos e o

dinheiro revertido em beneficio da sociedade, antes mesmo do trânsito em julgado dos processos.

O presidente da República Jair Bolsonaro assinou, na última segunda-feira 17, uma medida provisória (MP) que agiliza a comerciali­zação e utilização desses bens. Com o fim da burocracia, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) do Ministério da Justiça e Segurança Pública poderá colocar à venda os produtos confiscado­s quase que de maneira imediata.

CINCO ANOS DE ESPERA

Dos 80 mil itens hoje em poder da União, 20 mil poderão ser vendidos desde já. Desde calçados e roupas, passando por joias e veículos de luxo, e até barcos, aeronaves e fazendas. Com a medida, o governo espera arrecadar R$ 100 milhões. Por meio de edital eletrônico, o Senad selecionou sete leiloeiros que ficarão responsáve­is pela guarda, armazenage­m, vistoria, avaliação, exposição, venda, pós-venda e a regulariza­ção do bem. O retorno financeiro dos pregoeiros será de cinco por cento do total arrecadado, pago pelo arrematant­e.

Antes da nova iniciativa do governo, os produtos apreendido­s ficavam guardados por cinco anos, em média, pois a alienação tinha que esperar o fim da tramitação jurídica dos processos movidos contra os traficante­s. Com isso, muitos desses bens perdiam valor de mercado, quando não ficavam deteriorad­os. Para Luiz Roberto Beggiora, Secretário Nacional de Políticas sobre Drogas, todos vão lucrar com a nova legislação. “Com essa medida todos ganham. A União, pois não terá mais os custos com a gestão dos bens, o Judiciário, porque também ficava responsáve­l pelos itens nos estados, e a população, uma vez que o valor arrecadado será revertido para a sociedae. Além disso, o produto não será danificado, pelo longo período de armazename­nto e exposição”, disse.

A cerimônia de assinatura da medida provisória foi realizada no Palácio do Planalto, com a presença de Bolsonaro e do ministro da Justiça, Sergio Moro. Os recursos arrecadado­s com os pregões abastecerã­o o Fundo Nacional Antidrogas (Funad). A intenção é que a verba possa gerar melhorias nas políticas públicas de segurança. Os aportes aos governos estaduais que assinarem o termo de adesão vão ser usados na manutenção e compra de equipament­os de uso das polícias e no atendiment­o aos dependente­s químicos. “São muito itens que estavam sem destinação adequada há anos, e que agora vão ter. O intuito é ajudar a viabilizar o setor de segurança e enfraquece­r o tráfico de drogas. Temos que evitar que acumulem bens fruto do crime”, afirma Beggiora. Agora, para adquirir força de lei, a medida precisa da anuência do Congresso Nacional, em 120 dias. Se tiverem o mínimo de bom senso, vossas excelência­s não ousarão criar maiores obstáculos.

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