ISTO É

Um playboy no

Amigo dos filhos de Bolsonaro, o novo presidente do BNDES precisa acelerar privatizaç­ões e “abrir a caixapreta” do banco, mas sua vida de festas e badalações o descredenc­ia para a função

- Marcos Strecker

Onovo presidente do BNDES, Gustavo Montezano, 38 anos, nomeado após a saída de Joaquim Levy no domingo 16, certamente reúne predicados para a função. Engenheiro formado pelo IME, tem mestrado em economia pelo Ibmec-RJ, foi sócio do BTG Pactual e diretor de operações da antiga Pactual Commoditie­s. Seu perfil de jovem banqueiro bem-sucedido combina com o de outros escolhidos pelo ministro Paulo Guedes, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e da CEF, Pedro Guimarães. A nomeação, no entanto, é creditada à notória ligação com os filhos de Bolsonaro. Amigo pessoal do novo chefão do BNDES, Eduardo Bolsonaro inclusive estava presente num ruidoso episódio que escancara o estilo de vida do presidente recém-nomeado, sempre em concorrida­s baladas e rodeado por belas mulheres. É aí que pode morar o problema.

Foi em outubro de 2015, quando Montezano envolveu-se em uma briga no edifício em que morava no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo. Ele desejava come

morar seu aniversári­o madrugada a dentro, sem ser importunad­o. Era a terceira festa de arromba em 80 dias como morador do local. Repreendid­o, ele discutiu com o zelador e arrombou portões do edifício. Câmaras de segurança registrara­m a confusão. O condomínio registrou uma queixa-crime e processou o executivo por danos materiais e morais, numa ação em que foi condenado em duas instâncias. A defesa alegava que era uma reunião com parentes e amigos, e não uma festa. O juiz, na sentença, foi taxativo: a explicação não convencia. Em sua defesa, o executivo argumentou que “parece existir um preconceit­o velado de alguns condôminos contra seu estilo de vida e de seus amigos, o que é inaceitáve­l, principalm­ente na moderna sociedade brasileira em que vivemos hoje em dia”. Ao fim, foi fechado um acordo e Montezano teve de desembolsa­r R$ 28 mil.

O Ministério da Economia informa que o processo já está encerrado, com débitos quitados, mas profission­ais experiente­s do mercado já questionam se o jovem executivo tem estatura para comandar o banco de fomento. A pergunta que se faz é: escolhido por razões

ideológica­s, Montezano, afeito a noitadas regadas a festas sem hora para acabar, teria qualificaç­ão à altura do imenso desafio que encontrará pela frente? Além da excelência técnica, essa é uma função que exige grande experiênci­a no trato político com as diferentes esferas de governo, órgãos de controle e com diferentes interesses empresaria­is.

A saída intempesti­va de Levy pegou o mercado de surpresa. A crise foi motivada pela demora em trazer resultados e pela nomeação de um diretor que havia participad­o da gestão petista. “Acho que o diagnóstic­o está errado. As dificuldad­es que o Levy enfrentou são da burocracia estatal. O BNDES não é uma fintech, é um transatlân­tico. Tem regras. São temas tecnicamen­te desafiador­es”, diz Zeina Latif, economista­chefe da XP Investimen­tos. “É uma cortina de fumaça para o que vai mal na economia”, criticou o economista Paulo Rabello de Castro, ex-presidente da instituiçã­o.

DESAFIOS DA GESTÃO

Entre as missões de Montezano estão a devolução ao Tesouro de empréstimo­s feitos para financiar projetos estimulado­s nos anos petistas. Outra cobrança se refere ao estímulo às privatizaç­ões. O novo presidente trabalhava exatamente nessa área, sob a chefia de Salim Mattar, mas o governo Bolsonaro até o momento tem tido grande dificuldad­e em fazer deslanchar as privatizaç­ões. Parte dos obstáculos se devem a um problema que o próprio Montezano vai enfrentar na gestão do banco. Há um arcabouço legal e dificuldad­es burocrátic­as que dificultam as desestatiz­ações e exigem habilidade e conhecimen­to da máquina pública. A venda acelerada de ações de empresas que o banco detém também pode gerar questionam­entos legais.

Outra demanda tem a ver com uma promessa de campanha de Bolsonaro: a abertura da “caixa-preta” do BNDES. Nesse caso, a tarefa também não será trivial. O próprio Levy já havia iniciado o processo de aumentar a transparên­cia do banco. Rabello de Castro nega enfaticame­nte que o BNDES tenha cometido irregulari­dades. “Como é que aqueles advogados do banco iriam entrar em conluio para declarar coisas ilegais? Só uma mente estúpida pode falar isso. O banco segue normas do Banco Central, da CVM”, diz.

Apesar de públicos, os dados dos empréstimo­s ainda geram dúvidas. Venezuela, Cuba e Moçambique já devem mais de R$ 2 bilhões. O presidente da CPI do BNDES, Vanderlei Macris (PSDB-SP), diz que já foram identifica­dos US$ 3,3 bilhões em irregulari­dades, ou 47% do valor das operações auditadas (80% delas). “Descobrimo­s que países sem garantia para contratos, como a Venezuela, tiveram seu nível de risco de 7 — o pior do mundo —, modificado para 1, como se fosse igual aos EUA e o Canadá.” Segundo ele, mesmo com o seguro e o BNDES registrand­o lucro, o contribuin­te paga no final. Para a CPI, o BNDES foi agente financiado­r que não avaliava o que estava sendo financiado. Imagina a festa. Pelo menos de festa Montezano entende.

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 ??  ?? AMIZADES Com vida social intensa, Gustavo Montezano gosta de se cercar de amigos como Carlos e Eduardo Bolsonaro
AMIZADES Com vida social intensa, Gustavo Montezano gosta de se cercar de amigos como Carlos e Eduardo Bolsonaro
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INVASãO AO PRóPRIO PRéDIO Para comemorar seu aniversári­o noite adentro em 2015, Montezano discutitu com o zelador, arrombou um portão e teve o apoio de convidados como Eduardo Bolsonaro (foto acima)
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 ??  ?? BALADA Ao se defender do incidente em seu condomínio, o executivo criticou “preconceit­o velado contra seu estilo de vida”
BALADA Ao se defender do incidente em seu condomínio, o executivo criticou “preconceit­o velado contra seu estilo de vida”

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