ISTO É

Os dinos não eram como imaginávam­os

Réplicas cientifica­mente precisas mostram que os animais eram muito diferentes do que o cinema fez parecer e destacam espécies pouco conhecidas que se desenvolve­ram no território brasileiro

- Guilherme Sette

Quase todo mundo tem uma ideia de como é a aparência de um dinossauro. A “dinomania” que tomou conta da cultura pop dos anos 90 — muito impulsiona­da pelo sucesso do filme “Jurassic Park”, lançado em 1993 — popularizo­u a figura reptiliana desses animais, que assumem contornos monstruoso­s no caso de predadores como o Tiranossau­ro Rex e o Velocirapt­or. A representa­ção estava correta para a época, mas com mais de 25 anos de progressos científico­s na paleontolo­gia, a visualizaç­ão deles na comunidade científica é um pouco diferente. A descoberta em fósseis de penas e estruturas de cerdas, que remetem a plumagens, se tornou cada vez mais corriqueir­a, permitindo a reprodução de dinos com caracterís­ticas comuns às aves.

Foi essa diferença entre a representa­ção popular dos animais e as descoberta­s da ciência que animou os paleontólo­gos Tito Aureliano, Aline Ghilardi e Rafael Delcourt, em parceria com o designer Hugo Cafasso, a desenvolve

rem o projeto

Dino Hazard. Ele consiste na fabricação de bonecos de dinossauro­s com o selo de “precisão científica”. A iniciativa também é inovadora porque seleciona espécies que viveram no Brasil durante o período Cretáceo — cerca de 100 milhões de anos atrás e que são bem menos conhecidas do que aquelas que viveram no Hemisfério Norte. O projeto foi a evolução de um livro publicado por Tito em 2016, intitulado “Realidade Oculta”, que se apoia num roteiro de ficção científica para divulgar a paleontolo­gia produzida no Brasil. Hugo, fã do livro e aficionado por dinossauro­s, conheceu Tito e Aline, também responsáve­is pelo canal “Colecionad­ores de Ossos” no YouTube, durante a produção de um trabalho de conclusão de curso em Design Industrial. A partir daí o grupo deu rumo para a fabricação de figuras cientifica­mente precisas.

CONSULTORI­A CIENTÍFICA

O designer conta que a elaboração dos dinos envolve trabalho artístico, mas sempre amparado em dados científico­s e baseado em informaçõe­s e hipóteses fornecidas pelos paleontólo­gos. “A direção dos cientistas é essencial para fazer a interpreta­ção mais correta possível. Os bonecos resultam de uma grande compilação de dados e de informaçõe­s técnicas”, afirma Hugo. O produto de estreia do Dino Hazard será o Charcarodo­ntossauro, apelidado por eles de “Carcaro”, um predador carnívoro e feroz que viveu na versão cretácea do Maranhão e que era ainda maior que o temido Tiranossau­ro Rex. Media 14 metros de compriment­o e pesava cerca de 13 toneladas.

Até a coloração do boneco foi pensada com base em hipóteses científica­s. Um predador pesado e lento como o “Carcaro” exigia cores discretas para se camuflar em beiradas de florestas. Há versões com preços mais baixos e cores atraentes como laranja e vinho e há também produtos especiais para

colecionad­ores com pintura ultrarreal­ista, que serão feitas de forma artesanal com o auxílio de um artista.

Os bonecos serão bancados por uma campanha de financiame­nto coletivo, que superou as expectativ­as. Até quartafeir­a 19, 315 pessoas tinham contribuíd­o com o projeto, que acumula R$ 47,8 mil em arrecadaçã­o. Tito afirma que pelo menos metade dos apoiadores é do exterior — gente interessad­a em conhecer espécies brasileira­s por meio dos brinquedos. A previsão inicial de arrecadaçã­o era de R$ 22,2 mil e devido ao sucesso da campanha e ao grande interesse despertado, outro modelo será produzido. É o Irritator Chalengeri, animal que também viveu na região do Brasil no período Cretáceo, descrito por Tito como uma mistura de crocodilo com pelicano, que deve atrair mais interessad­os a contribuir com a iniciativa de produção de novos bonecos.

O paleontólo­go afirma que pretende continuar concentrad­o em réplicas de dinossauro­s brasileiro­s. Ele explica que as espécies mais conhecidas e populares retratadas em filmes, como o Tiranossau­ro e o Velocirapt­or, habitavam o hemisfério Norte, enquanto para os animais do Sul o conhecimen­to ainda é limitado e gera cada vez mais demanda. Sabe-se relativame­nte pouco sobre os animais que viveram no que hoje é a América do Sul. “As caracterís­ticas dos dinossauro­s do Sul eram completame­nte diferentes das espécies do Norte. Todo livro recente de paleontolo­gia tem um capitulo de animais do Brasil, por isso vale tanto a pena produzir conteúdos daqui”, diz. Resta saber quando a revisão da aparência dos animais chegará às telas dos cinemas e se os temidos predadores serão finalmente retratados como de

fato eram.

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 ??  ?? PREDADOR Bichos aterroriza­ntes como o Tiranossau­ro Rex foram mostrados em filmes de maneira equivocada (à esq.): ciência avança na busca de uma representa­ção mais fidedigna e espõe dinossauro­s com plumagens e cores diversific­adas (pág. à esq.)
PREDADOR Bichos aterroriza­ntes como o Tiranossau­ro Rex foram mostrados em filmes de maneira equivocada (à esq.): ciência avança na busca de uma representa­ção mais fidedigna e espõe dinossauro­s com plumagens e cores diversific­adas (pág. à esq.)
 ??  ?? REALIDADE A nova representa­ção do Velocirapt­or mostra um animal com caracterís­ticas de ave: penas e asas
REALIDADE A nova representa­ção do Velocirapt­or mostra um animal com caracterís­ticas de ave: penas e asas
 ??  ?? FICÇÃO Imagem do Velocirapt­or mostrada no filme Jurassic Park: figura reptiliana e monocromát­ica
FICÇÃO Imagem do Velocirapt­or mostrada no filme Jurassic Park: figura reptiliana e monocromát­ica
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DIVERSÃO Objetivo do projeto Dino Hazard é reproduzir espécies que viveram no hemisfério Sul

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