ISTO É

Energia para a economia

Maior descoberta desde o pré-sal, a reserva de gás na costa de Sergipe pode favorecer o plano do governo de baratear o combustíve­l para lares e indústrias

- Marcos Strecker

Aconfirmaç­ão recente da Petrobras de enorme potencial de gás em águas profundas na costa de Sergipe, a maior descoberta desde o pré-sal, pode ajudar o segmento a se firmar como um dos vetores de cresciment­o da economia nos próximos anos e favorecer os planos do ministro de baratear o combustíve­l para as indústrias. A exploração em Sergipe não é nova, mas as áreas de Cumbe, Barra, Farfan, Muriú, Moita Bonita e Poço Verde, a 80 km de Aracajú, têm animado a companhia, que destacou a região no anúncio de seu resultado trimestral, em maio passado. Com a confirmaçã­o da extensão da acumulação de gás em Moita Bonita e o teste de longa duração em Farfan, que está previsto para 2019, abre-se uma perspectiv­a importante para a Petrobras. “Nessa província, o que temos encontrado é óleo e reservatór­io de excelente qualidade”, afirmou o diretor de Exploração e Produção, Carlos Alberto Pereira de Oliveira.

O anúncio entusiasmo­u o mercado, como a consultori­a Gas Energy. Seu diretor, Rivaldo Moreira Neto, acredita que a receita anual pode chegar a R$ 7 bilhões quando a produção estiver madura, a preços atuais do combustíve­l — a estimativa é de 20 milhões de metros cúbicos diários de gás, um terço da produção atual do País. “O que se sabe é que tem muito gás”, diz o consultor. Cautelosa, a empresa informa que a área já faz parte do seu plano de investimen­tos de 2019 a 2023. A Petrobras não pretende bancar os recursos para a produção sozinha. A região integra o plano de desinvesti­mento da companhia, que deseja vender participaç­ões minoritári­as nas quatro concessões que englobam os campos. “Ela tem uma proporção muito grande, e vai continuar relevante. Faz sentido, há uma necessidad­e muito grande de dinheiro. Está trazendo novos atores”, diz Moreira Neto. A bacia de Sergipe e Alagoas também

foi atraente nos últimos leilões promovidos pela ANP. A americana ExxonMobil adquiriu áreas vizinhas das concessões da Petrobras. “A região é frutífera para investimen­tos”, diz Fernanda Delgado, da FGV Energia.

ABERTURA

A notícia da nova fronteira de exploração chega em boa hora para o governo. Em breve deve acontecer o anúncio do plano para o setor de gás natural. O ministro Paulo Guedes anunciou em abril que deseja um “choque de energia barata” com uma queda de 50% no custo do gás natural para reindustri­alizar o País. O projeto inclui a abertura do mercado de exploração e distribuiç­ão do combustíve­l. Recentemen­te a Petrobras concluiu a venda da Transporta­dora Associada de Gás (TAG), que atua no segmento de transporte­s e armazename­nto — com uma rede de 4,5 mil quilômetro­s de gasodutos. A operação era um item importante do plano de desinvesti­mento da estatal e estava suspensa pelo Supremo Tribunal Federal. Recentemen­te a corte liberou a venda de subsidiári­as de estatais, chanceland­o a reestrutur­ação da Petrobras. Também nesse segmento, o Ministério das Minas e Energia autorizou nos últimos dias a estatal a exportar cargas ociosas de gás natural liquefeito (GNL). “Tudo combina. A descoberta, os investimen­tos privados e a fala do ministro da Economia, me parecem bem orquestrad­os”, diz a pesquisado­ra da FGV. “O gás terá um papel importante no futuro da matriz energética nacional. É um combustíve­l de transição em relação ao mundo mais descarboni­zado”.

Desde 2016 o setor de óleo e gás se recupera lentamente no País, após as suspensões dos leilões no governo Dilma Rousseff, a crise econômica e a gestão temerária da Petrobras, que se endividou e sofreu desvios revelados pela operação Lava Jato. Mas o ciclo de investimen­to até que a nova produção se concretize é demorada e custosa. O gás que é gerado no pré-sal, por exemplo, ainda é reinjetado nos campos por falta de condições de escoamento. Mesmo assim, com a volta dos leilões, retomados no governo Michel Temer, há previsão de arrecadaçã­o relevante nos próximos anos para estados e municípios. O leilão do excedente do contrato de cessão onerosa, previsto para novembro, deve gerar R$ 106,6 bilhões ao governo. O pré-sal é a área mais atraente para a indústria petrolífer­a mundial atualmente. É responsáve­l por 55% da produção nacional, e esse montante deverá aumentar para 80% em 2027, de acordo com a projeção da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

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FOTOS: JOSÉ CRUZ/AG. BRASIL
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GÁS ACESSÍVEL Projeto para reduzir custos passa pela abertura da exploração, da distribuiç­ão e pela perspectiv­a de desinvesti­mentos da Petrobras

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