HONG KONG SE REBELA
Após protesto com dois milhões de pessoas, a chefe do Executivo, Carrie Lam, pró-Pequim, recua em nova lei de extradição. Agora os manifestantes pedem a sua renúncia
Cinco anos separam a “Revolução dos Guarda-Chuvas”, que ocorreu em 2014, dos protestos que desde o último dia 9 tomaram as ruas de Hong Kong. No movimento anterior, também conhecido como “Occupy Central”, milhares se manifestaram contra uma proposta de reforma eleitoral que daria à China mais poderes para interferir na eleição do governo. Como resultado, os líderes do protesto foram presos e, apesar das sucessivas tentativas da China de se impor, as ruas respiraram um pouco de paz. Recentemente, no entanto, a fúria voltou à antiga colônia britânica, dessa vez com tanta força no último domingo 2 milhões de pessoas
saíram às ruas - que foi capaz de fazer o governo pró-Pequim recuar. A gota d’água foi um projeto de lei que propunha modificar a lei de extradição e permitir o inédito envio de fugitivos à China. Na prática, isso significaria menos liberdade a Hong Kong e mais submissão ao Partido Comunista da China, uma vez que as pessoas seriam julgadas por uma corte controlada politicamente. Diante da pressão popular e dos pedidos por sua renúncia, Carrie Lam, chefe do Executivo de Hong Kong, se desculpou publicamente, dizendo que ouviu o povo “em alto e bom som”. Ela afirmou que o projeto foi suspenso e que o governo pretende ouvir as diferentes visões da sociedade. E foi clara: não pretende deixar o cargo.
A China, por sua vez, foi a favor do recuo da mandatária e se pronunciou por meio de um comunicado do portavoz do Ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang: “Apoiamos, respeitamos e compreendemos esta decisão”. A crise representa um avanço de Hong Kong na tentativa de impor à China o desejo de autonomia. O território, atualmente Região Administrativa Especial da China, funciona sob o regime “um país, dois sistemas”, e já se mostrou refratária ao poder de Pequim. Levantamentos da Universidade de Hong Kong mostram que caiu para 38% o número de cidadãos que têm “orgulho de serem cidadãos da China”, contra 47% em 1997. Além disso, 55% das pessoas de 18 a 29 anos veem negativamente o governo chinês, enquanto apenas 13% o enxergam de maneira positiva. Na segunda-feira 17, em plena efervescência política, o ativista Joshua Wong, um dos principais líderes do movimento dos Guarda-Chuvas, foi solto após cumprir pena de três anos de prisão por acusações relacionadas aos protestos de 2014. Ele, assim como os manifestantes, comemorou o recuo do projeto de lei, mas continua exigindo a renúncia de Carrie Lam.