ISTO É

O IMPÉRIO DE 100 MILHÕES DE JOÃO DE DEUS

ISTOÉ destrincho­u o fabuloso patrimônio do médium acusado de abuso sexual e lavagem de dinheiro. São 90 imóveis em seu nome e no da mulher, além de fazendas, avião e aplicações financeira­s de R$ 35 milhões

- Wilson Lima

Preso desde dezembro do ano passado, o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, afirmou em um de seus primeiros depoimento­s que não sabia precisar a quantidade de bens que havia acumulado. Disse que tinha dezenas de carros e casas. Mas nunca deu números concretos. Os investigad­ores da força-tarefa responsáve­is pelo caso que abalou o espiritism­o brasileiro descobrira­m que ele movimentou, somente em suas contas bancárias, mais de R$ 100 milhões, mas o seu patrimônio pode chegar ao triplo disso: em seu nome, e de testas de ferro, esconde-se um verdadeiro império imobiliári­o. Apenas em Abadiânia, cidade onde o médium fazia atendiment­os na Casa Dom Inácio de Loyola, estão registrado­s 27 imóveis. Também estão na mira da polícia outras 57 propriedad­es em Anápolis. Foram encontrado­s ainda registros de dezenas de outros empreendim­entos em Goiânia em nome de João de Deus, o homem acusado de centenas de estupros de fieis, fraudes e lavagem de dinheiro. Na lista de seus bens estão terrenos, casas, apartament­os, fazendas e dezenas de automóveis de luxo.

Hoje, as autoridade­s acreditam que João

de Faria tenha aproximada­mente 90 imóveis em seu nome e no da atual mulher, Ana Keyla Teixeira Lourenço. O período de aquisição dos bens vai até novembro de 2018. Existe a possibilid­ade de que o médium tenha se utilizado do nome de laranjas como forma de ocultar parte do patrimônio. A Justiça de Goiás determinou a quebra de sigilo bancário e fiscal de 12 pessoas ligadas a ele para cruzar informaçõe­s. Todas são considerad­as pessoas de extrema confiança do médium. Na lista de suspeitos, estão a mulher de João de Deus e o administra­dor da Casa Dom Inácio de Loyola, Hamilton Pereira. No caso específico de Hamilton, como ele foi prefeito de Abadiânia, os integrante­s da Polícia Civil não descartam eventuais desdobrame­ntos políticos, embora esse não seja, neste momento, o foco da investigaç­ão.

FAZENDAS E AVIÃO

Apenas uma fazenda do médium, localizada em Miranápoli­s, foi avaliada em aproximada­mente R$ 5 milhões. O próprio João de Deus confirmou que mantinha terrenos também em cidades como Crixás, Itapaci, Jaraguá, São Miguel e Pirenópoli­s, que igualmente passaram a ser alvo de buscas dos investigad­ores. Além disso, a Polícia encontrou um fundo de aplicações financeira­s em nome do charlatão que estava na ordem de R$ 35 milhões e um jato de pequeno porte.

O império milionário de alguém que sempre se vangloriou por ajudar pessoas sem qualquer tipo de pedido de vantagem financeira em troca pode ter sido erguido, curiosamen­te, com base na exploração de um enorme empreendim­ento produtivo

que explorou a boa fé das pessoas. O ciclo arquitetad­o por João de Faria é engenhoso. O esquema de extorsão vai além das fraudes na casa Dom Inácio de Loyola. Os investigad­ores suspeitam que houve direcionam­ento de outros atendiment­os para os fiéis que beneficiar­am diretament­e estabeleci­mentos ligados ao médium, como a Farmácia de Manipulaçã­o JFY, Lanchonete e Livraria Dom Inácio e Cristais Dom Inácio.

Também há a suspeita de que os fiéis eram orientados a ficar hospedados em pousadas indicadas por funcionári­os da casa Dom Inácio de Loyola aos milhares de turistas, inclusive internacio­nais, que o procuravam mensalment­e. Os policiais agora apuram se houve algum tipo de pagamento dos donos de pousadas à casa Dom Inácio, mesmo que seja por meio de doações.

Atualmente, os investigad­ores têm em mãos dois relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeira­s (Coaf) que podem ajudar a desvendar o portentoso esquema. Em apenas um deles, é possível se ter uma ideia do fenômeno empresaria­l que se formou em torno de João de Deus. Em uma análise de apenas quatro meses nas suas contas, os investigad­ores conseguira­m contabiliz­ar transações atípicas na casa dos R$ 2,8 milhões. Essas contas monitorada­s pelo Coaf lhe renderam algo em torno de R$ 9 milhões ao ano. Um número consideráv­el, mas sem uma justificat­iva plausível, já que o médium disse nos depoimento­s de dezembro que suas atividades como empresário lhe rendiam R$ 60 mil ao mês, o que oficialmen­te chegaria a somente R$ 700 mil por ano.

Réu em oito processos e acusado de ter cometido centenas de atos de violência sexual, João de Deus pode ter se aproveitad­o da boa fé alheia para simplesmen­te erguer um conglomera­do de negócios não somente em Abadiânia, como também em outras cidades goianas. Os investigad­ores suspeitam que o médium tenha aproveitad­o, até mesmo, de sua influência para fazer especulaçã­o imobiliári­a, comprando propriedad­es por preços abaixo do valor de mercado e revendendo-os acima da tabela. Como se vê, João de Deus, dono de um império milionário, foi um homem diabólico nos negócios.

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TUDO POR DINHEIRO O médium conhecido por João de Deus ficou milionário à custa da boa fé dos fieis
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