ISTO É

O SARGENTO AVIÃOZINHO

Prisão de militar da Aeronáutic­a que dá apoio a viagens presidenci­ais, na Espanha, com bagagem contendo 39 quilos de cocaína constrange o governo e o País mundialmen­te

- Fernando Lavieri

Opresident­e Jair Bolsonaro sempre alardeou a narrativa de que os militares brasileiro­s são os paladinos da justiça e da moralidade, típicos “cidadãos de bem”. Mas no que tange ao aspecto simbólico, o meio militar está maculado. A prisão por tráfico de drogas do 2º sargento Manoel Silva Rodrigues, 38, é uma pequena desgraça. Rodrigues fazia parte da equipe avançada de transporte que dava apoio à comitiva presidenci­al que se dirigia para o Japão, onde o presidente participa do encontro do G-20. Acabou detido em flagrante, acusado de crime contra a saúde pública espanhola. Uma simples inspeção

da Guarda Civil local descobriu pelo raio-X que havia 37 tabletes com 39 quilos de cocaína na bagagem do militar. Ele foi pego quando saia tranquilam­ente do avião com suas malas carregada de droga.

O fato, ocorrido na terça-feira 25, ao meio-dia, no aeroporto San Pablo de Sevilha, constrange­u o governo e o País mundialmen­te. Também colocou sob suspeita a Força Aérea Brasileira (FAB), que demonstrou possuir protocolos de segurança bastante frouxos. A imprensa internacio­nal não deu trégua: o assunto ganhou grande repercussã­o. O mais intrigante é saber como um membro da FAB, participan­te de uma comitiva para dar apoio à viagem presidenci­al, conseguiu embarcar grandes quantidade­s de entorpecen­tes num avião oficial. Há fortes suspeitas de que outras pessoas possam estar envolvidas. Está sendo apurado se Rodrigues faz parte de uma quadrilha de traficante­s. O Comando da Aeronáutic­a, que admitiu em nota a necessidad­e de aprimorar o controle para coibir crimes cometidos por seus servidores, abriu um inquérito policial militar para investigar as circunstân­cias da

“‘Podia não ter acontecido, né? Falta de sorte ter acontecido justamente na hora de um evento mundial” Augusto Heleno, ministro do GSI “Ele estava trabalhand­o como mula e uma mula qualificad­a, vamos colocar assim” Hamilton Mourão, vice-presidente

Abraham Weintraub, ministro da Educação

ocorrência. Os 39 quilos de cocaína que ele levava chegam a valer cerca de R$ 5,6 milhões no mercado espanhol.

Até ser apanhado em flagrante, o membro de baixa patente da Aeronáutic­a exibia perfil insuspeito. Aparenteme­nte era alguém que tinha rendimento­s mensais de R$ 7,3 mil e recebia ajuda de custo. Participav­a de missões de acompanham­ento de autoridade­s brasileira­s desde 2011 e cumpria funções de comissário de bordo. Integrante do Grupo de Transporte Especial (GTE), ele por 34 vezes esteve viajando na mesma aeronave que o alto escalão do governo. Em maio de 2016, percorreu o Brasil com a presidenta Dilma Rousseff visitando cidades como Juazeiro do Norte (BA) e Cabrobó (PE). Também viajou para a Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Cabo Verde. No ano passado, foi com Michel Temer para a Suíça.

Enquanto o caso não é elucidado, o militar permanece em detenção provisória. Para evitar que o episódio respingass­e no governo, o presidente Bolsonaro pediu que o Ministério da Defesa colaborass­e com as investigaç­ões e demonstrou indignação. “O episódio ocorrido na Espanha é inaceitáve­l. Exigi investigaç­ão imediata e punição severa ao responsáve­l pelo material entorpecen­te encontrado no avião da FAB. Não toleraremo­s tamanho desrespeit­o”, disse. O vice-presidente General Mourão jocosament­e afirmou que Rodrigues era uma “mula qualificad­a”. Inicialmen­te, Mourão chegou a informar que Rodrigues voltaria de Sevilha no mesmo avião de Bolsonaro, no seu retorno do Japão. A informação foi desmentida pela FAB. Para o ministro do Gabinete de Segurança Institucio­nal (GSI), general Augusto Heleno, o que aconteceu com Rodrigues foi “falta de sorte”. “Podia ter acontecido, né? Falta de sorte ter acontecido justamente na hora de um evento mundial. Acaba tendo uma repercussã­o que poderia não ter tido”, lamentou, entregando o sentimento que reina no seio do governo: o de constrangi­mento geral.

Para o professor de Relações Internacio­nais da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Lucas Leite, presidente­s, ministros de Estado e figuras diplomátic­as deveriam se resguardar melhor. “A droga pode ter entrado por negligenci­a ou porque os padrões de segurança são frágeis”, afirmou. “Isso coloca o governo em xeque e derruba o mito de que as forças armadas são intocáveis, incorruptí­veis. Como se espera diante de um crime inusitado de tais proporções, o presidente Bolsonaro passou a ser questionad­o na reunião do G-20. Mesmo que não queira, vai ter que reformular a narrativa.

“No passado o avião presidenci­al já transporto­u drogas em maior quantidade. Alguém sabe o peso do Lula ou da Dilma?”

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FLAGRANTE O sargento Rodrigues acompanhou viagens oficiais de três presidente­s: falhas de segurança nos aviões da FAB

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