ISTO É

A FESTA DAS BALEIAS

Avistament­os da espécie jubarte próxima da costa se tornam rotineiros e indicam que a população do mamífero cresce e que ele percorre novas rotas em busca de alimento

- Vicente Vilardaga

Nunca se viram tantas baleias jubarte circulando pelo litoral brasileiro. Todos os anos, durante o inverno, elas migram da região das ilhas Geórgia do Sul, na Antártida, em direção ao arquipélag­o de Abrolhos, no litoral da Bahia, para se acasalar e procriar, em uma viagem que chega a 18 mil quilômetro­s. Neste ano, porém, elas têm se comportado de maneira diferente. Continuam em busca do mesmo destino, mas estão circulando em regiões mais próximas da costa, provavelme­nte em busca de alimentos. Parecem também ter viajado mais cedo — se costumavam ser vistas entre junho e agosto, nesta temporada elas começaram a aparecer em maio. Em São Paulo, passaram a entrar nos canais de Santos e São Sebastião, algo raro, e no Rio de Janeiro uma canoísta fotografou uma jubarte saltando a cerca de dez metros de distância em torno das Ilhas Tijucas, em frente ao Quebra-mar da Barra da Tijuca.

A jubarte é uma baleia sem dentes, que se alimenta de pequenos crustáceos, como o krill e chega a atingir 16 metros de compriment­o e a pesar 30 toneladas. Trata-se de um bicho pacífico e inteligent­e que se orienta pelo som e só se incomoda quando há muito barulho e confusão ao seu redor. Conta com um par de barbatanas que parecem asas e que impulsiona­m seus saltos. “Há uma quantidade absurda de baleias passando pelo litoral de São Paulo neste ano, muito mais do que nos anos anteriores”, afirma Julio Cardoso, fundador da ONG Baleia À Vista, que concentra suas observaçõe­s no litoral Norte, em torno de Ilhabela. Cardoso se dedica à observação de baleias e golfinhos desde 2004, mas até 2015 só viu cinco jubartes em ação na região. Em 2017, seus avistament­os de barco começaram a crescer e ele contabiliz­ou 18 espécimes. No ano passado, o número passou para 42 em toda a temporada. E, em 2019, até agora, já foram 54. Se forem incluídas baleias avistadas a partir de um ponto fixo de observação instalado num morro de cerca de 60 metros de altura, na praia de Borrifos, o número chega a 192.

CAÇA PROIBIDA

No século passado, dezenas de milhares de jubartes foram mortas impiedosam­ente em torno das ilhas Geórgia do Sul por baleeiros. A população da espécie chegou a ser reduzida a três mil baleias. Até que a caça fosse proibida, em 1987, ficaram perto da extinção. De lá para cá, porém, a população voltou a crescer e hoje é estimada em 20 a 30 mil espécimes. As jubartes vistas bem próximas da costa, segundo Cardoso, são animais jovens e curiosos que estão criando suas próprias rotas migratória­s para deleite dos observador­es da fauna. A boa notícia é que essa festa das baleias só deve se intensific­ar daqui para frente.

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 ??  ?? ESPETÁCULO Canoísta vê jubarte a dez metros de distância: animal chega a colocar dois terços de seu corpo para fora da água
ESPETÁCULO Canoísta vê jubarte a dez metros de distância: animal chega a colocar dois terços de seu corpo para fora da água

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