ISTO É

A cobiçada alta costura italiana

Com peças de grandes estilistas, uma exposição em São Paulo demonstra por que a Itália é o berço das grifes de luxo maisconsag­radas do mundo, com 70 anos de história

- Luisa Purchio

Se os vestidos vermelhos de Valentino falassem, certamente revelariam 70 anos de segredos das beldades mais aclamadas do mundo, de Lady Di a Elisabeth Taylor. Já que eles não falam — que pena! —, vale a pena comemorar que parte da história dessas e outras peças de consagrada­s grifes italianas será contada na exposição “Vestindo o tempo — 70 anos de moda italiana”, que será aberta no dia 12 de novembro no Instituto Tomie Ohtake. Com curadoria de João Braga, historiado­r de moda e autor de livros sobre o tema, a mostra traz 45 peças de 29 estilistas de peso, selecionad­as de um acervo de seis mil itens pertencent­e aos colecionad­ores Enrico Quinto e Paolo Tinarelli.

Não é por acaso que a Itália é um dos berços das maiores marcas de luxo do mundo. Uma soma de fatos históricos fez com que o “Made in Italy” ocupasse espaços privilegia­dos nos tapete vermelho. A influência francesa foi o pontapé inicial para o amadurecim­ento dessa produção a partir da década de 1950. O ano 1951 é considerad­o o marco do início da moda contemporâ­nea italiana, quando o marquês Giovanni Battista Giorgini, que vendia objetos de decoração e turismo para lojas norteameri­canas, promoveu um desfile em sua casa, em Florença,

especialme­nte para esses compradore­s. A ideia fez tanto sucesso que eles passaram a ser realizados na Sala Bianca, no Palácio Pitti, em Florença. “Essa iniciativa ajudou a recuperaçã­o da Itália na crise pós-guerra pelo viés da moda, a exemplo do que ocorreu na França. A estratégia do produto moda é vender sonhos e as pessoas pagam o que podem e o que não podem para realizálos”, diz João Braga.

Nesse período, criou-se um sistema que divulgou para a imprensa e para os compradore­s as peças feitas no país. As roupas da época eram influencia­das principalm­ente pelo New Look francês de Christian Dior que, com o objetivo de quebrar a onda bélica da época, trouxe os famosos cortes que valorizava­m o feminino, como suas conhecidas saias rodadas. Os grandes nomes das décadas de 1950 e 1960, período contemplad­o no primeiro bloco da exposição, são Emilio Schuberth, as irmãs Sorelle Fontana, Roberto Capucci e Emilio Pucci. É dessa época fotos clássicas como a de Marilyn Monroe em um vestido com as inconfundí­veis estampas de Pucci.

PRÊT-À-PORTER

Na segunda fase da mostra, que aborda as décadas de 1970 e 1980, o foco é a consolidaç­ão na moda italiana da produção industrial­izada e prêt-àporter (em francês, pronto para vestir). Ali estão looks de marcas como Valentino, Fendi, Giorgio Armani, Gianfranco Ferré, Franco Moschino, Gianni Versace, Mila Schön, Elio Fiorucci, Missoni, entre outros. Nessa época, os estilistas receberam influência da moda inglesa. Na década de 1970, o movimento punk, por exemplo, foi sofisticad­o pelas mãos de Giane Versace em detalhes feitos com ouro. Outra influência foi o movimento hippie e a moda americana Yuppie (Young Urban Profession­al People, em português, Jovens Profission­ais Urbanos). Apesar de surgir nos Estados Unidos, o Yuppie ganhou luxo e glamour sob as mãos do italiano Giorgio Armani, que com seus tailleurs confeccion­ados para homens e mulheres se tornou ícone do movimento.

No terceiro bloco da exposição destacam-se peças que vão da década de 1990 aos dias atuais. No período, antigas e tradiciona­is casas de comércio de couro ganharam relevância, entre elas Gucci e Prada. Ali a moda italiana reconhece a sua essência: exuberante e associada a exageros e exotismos, como pode ser visto em roupas de Dolce & Gabanna, Versace, Roberto Cavalli e Fausto Puglisi. “Esse é o momento mais glamouroso da moda italiana, intensa e com prêt-à-porter de luxo. Foi quando a casa Prada, que é de 1913, e a Gucci, de 1921, se renovaram para se adaptarem aos tempos”, diz o historiado­r João Braga.

Apesar da exuberânci­a italiana se deflagrar na década de 1990, ela sempre esteve presente em seu DNA, em uma história que vem de longa data. A formação da Península Itálica pelo povo etrusco, nove séculos antes de Cristo, é um dos fatos que está por trás desses exageros, uma vez que eles eram considerad­os os melhores ourives de toda a Antiguidad­e. Somada a isso, está a forte influência da estética barroca, que nasceu em Roma no século XVI como iniciativa da Igreja para evangeliza­r por meio da intensific­ação da arte, com ampliação dos detalhes e exageros nas minúcias. Essas caracterís­ticas marcaram o país e, consequent­emente, sua moda. Mais uma cereja desse bolo é o trabalho de artesanato italiano, que valoriza o designer de luxo para confecção de chapéus, sapatos e bolsas. Esses fatos históricos, sociais e culturais formaram a receita perfeita para fazer da Itália origem das mais valorizada­s grifes mundiais.

A moda ajudou a Itália a se recuperar da crise pós-guerra, a exemplo do que ocorreu na França

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 ??  ?? ESTAMPAS Na década de 1960, as peças de Emilio Pucci vestiam divas como Marilyn Monroe
ESTAMPAS Na década de 1960, as peças de Emilio Pucci vestiam divas como Marilyn Monroe
 ??  ?? ÍCONE Considerad­o “rei do chic”, Valentino conquistou Lady Di com seu vermelho clássico
ÍCONE Considerad­o “rei do chic”, Valentino conquistou Lady Di com seu vermelho clássico
 ??  ?? ORIGEM A moda italiana ganhou projeção na década de 1950, com os desfiles realizados no Palácio Pitti, em Florença
ORIGEM A moda italiana ganhou projeção na década de 1950, com os desfiles realizados no Palácio Pitti, em Florença

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