ISTO É

O ORGASMO DA TV GLOBO

- por José Manuel Diogo

Ofendido, Bolsonaro grita: “É o orgasmo da TV Globo ver um filho meu preso? Ver um irmão meu preso? Ver um amigo meu preso? Esse é o orgasmo de vocês, TV Globo?” Terminam assim os 23 minutos e 41 segundos da mais incrível peça de comunicaçã­o política da história do Brasil. Bolsonaro não entende mesmo o que é o poder.

Quando a economia está começando a dar certo é ainda mais urgente que o presidente entenda os perigos de seu discurso e os impactos que este pode ter nas pessoas e nas empresas. Isso ninguém vai lhe perdoar. A economia vai bem, mas olhar a política brasileira dá pena. Suga a energia da gente. Tira o foco. Mata a alegria. Entristece o povo. É como o ciúme na canção de Elza Soares. Algo que rói nos cotovelos, da raiz dos cabelos até a sola dos pés.

O presidente do Brasil, em direto a partir da Arábia Saudita, quatro da manhã, respondeu ofendido a uma notícia da TV Globo. Por muito que lhe custe admitir, o chefe de um estado

O poder afeta os homens de modos diferentes, mas ninguém poderia adivinhar que o estilo de Bolsonaro ajudaria a minar sua Presidênci­a

não é mais o pai de uma única família. É o pai de todas. Ele não pode se ofender apenas pelas dores e injustiças sofridas por alguns. Tem de fazê-lo por todos. Por isso, não deve trazer sua vida familiar para a praça pública. O exercício da solidão está na essência do poder.

É certo que o poder impacta os homens de maneira diferentes e, por isso, ninguém poderia adivinhar como Jair Bolsonaro iria se comportar depois de sentar na cadeira mais importante do Planalto. Mas a forma com que seu estilo está tomando conta da substância está acabando com sua Presidênci­a.

Volto ao vídeo. Fiquei de celular na mão quase meia hora. Um amigo me contou que quando o presidente descobriu a notícia da Globo — era madrugada alta em Riad —, quase enlouquece­u. Despiu o pijama, botou o terno, pediu para que alguém ligasse a câmara do celular e arrebentou.

Sem filtro e sem ensaio, Bolsonaro não falou apenas da reportagem do Jornal Nacional — verdadeira­mente mal feita e querendo atingi-lo. Ele também contou (de novo) todas as histórias quem estão enfraquece­ndo a sua Presidênci­a: os processos contra os filhos, a prisão da sogra, a perseguiçã­o à nora, o desmoronam­ento de seu partido. Vezes demais Bolsonaro está se transforma­ndo em um personagem irreal, um teatral ponto de si próprio em seu autocartoo­n. Cada vez que isto acontece, Jair Bolsonaro torna mais difícil a sua reeleição. Tratar o maior grupo de mídia do Brasil de “imprensa porca, canalha, nojenta e imoral” não é bom. Mesmo se fosse verdade, não dá para ter orgasmos assim.

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