ISTO É

Até políticos querem a segunda instância

Atenção Brasil: contrarian­do interesses e casuísmos da baixa política, 41 dos 81 senadores pedem ao STF que mantenha na prisão quem já foi condenado pelos TJs

- André Vargas

Avotação no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a legalidade das prisões após condenação em segunda instância dominou grande parte do interesse público ao longo da semana, mas, independen­te de seu resultado, um potente e animador sinal foi enviado por integrante­s do topo da classe política. Uma carta assinada por 41 dos 81 senadores pedindo a manutenção das prisões decretadas pelas cortes intermediá­rias (TJs e TRJs) foi entregue na terça-feira 5, ao presidente da Corte, ministro Dias Toffoli, e ao procurador­geral da República, Augusto Aras. O aspecto inusitado é o republican­ismo da iniciativa, já que seria óbvio acreditar que os interesses corporativ­os da classe fariam os senadores se colocarem contra a manutenção das prisões sem o devido esgotament­o dos recursos, pois, diante do tribunal da opinião pública, os políticos seriam justamente os principais prejudicad­os pelo entendimen­to jurídico vigente no Brasil desde 2016. Mesmo com telhados de vidro, alguns dos homens e mulheres que fazem nossas leis se mostraram contra uma nova decisão que poderia mais facilmente enviá

los para trás das grades. Ou seja, eles mostraram que aqueles que não devem não precisam temer.

A carta circulava entre os senadores desde setembro e, até o final de outubro, continha 37 assinatura­s. Os quatro últimos nomes chegaram já durante as discussões no STF. Entre os treze partidos envolvidos, o de maior participaç­ão foi o Podemos, que angariou dez assinatura­s entre uma bancada de onze senadores. O MDB, dono da maior bancada, com 13 eleitos, contou com cinco nomes. Todos os senadores do Cidadania, PSC, Rede e Republican­os ratificara­m, ainda que juntos só tenham somado oito nomes. As únicas agremiaçõe­s que não participar­am foram PT, PDT e Pros, que defendem a constituci­onalidade da exaustão dos recursos e, claro, a soltura do ex-presidente Lula, que ainda possui recursos pendentes na Justiça. Quem destoou foi o senador Flávio Bolsonaro, que

não assinou. Ele estava em viagem e, para não fazer ainda mais feio, divulgou seu apoio em redes sociais. Os demais senadores PSL fizeram sua parte.

PUXADINHO JURÍDICO

A carta foi uma forma de pressão sobre o presidente do Corte, Dias Toffoli, que também lida com pressões contrárias, já que muitos políticos, juristas e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) se colocam contra as prisões em segunda instância. “Como é sabido, o STF, desde 2016, adotou jurisprudê­ncia que permite a prisão de condenados após julgamento em segunda instância. Tal entendimen­to tem sido fundamenta­l para combater o sentimento de impunidade presente na sociedade”, diz o texto dos senadores.

Estrategis­ta, Toffoli tenta não desgastar o STF, evitando que a corte descontent­e qualquer um dos lados. Por isso, ele e Gilmar Mendes já defenderam criar um “puxadinho jurídico”, como juristas consultado­s por ISTOÉ apontaram. A solução deles seria jogar a possibilid­ade da determinaç­ão das prisões ser do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O resultado da votação não inviabiliz­aria tal solução, mas também não resolve a questão, já que deve ficar aberta a possibilid­ade de recursos até que o tema se esgote de vez — o que ainda parece distante.

“Exigir trânsito em julgado após terceiro ou quarto graus de jurisdição para então autorizar prisão do condenado contraria a Constituiç­ão e coloca em descrédito a Justiça brasileira perante a população”

Trecho da carta dos senadores

 ??  ?? ELES DECIDEM Dias Toffoli (esq.), presidente do STF, confabula com os ministros Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowsk­i e Celso de Mello: política e judiciário
ELES DECIDEM Dias Toffoli (esq.), presidente do STF, confabula com os ministros Marco Aurélio Mello, Ricardo Lewandowsk­i e Celso de Mello: política e judiciário
 ??  ?? MAIORIA SIMPLES Senadores de 13 partidos são contrários ao fim das prisões
MAIORIA SIMPLES Senadores de 13 partidos são contrários ao fim das prisões
 ??  ?? FRAQUEJOU Como estava ausente, Flavio Bolsonaro não participou da ação do PSL
FRAQUEJOU Como estava ausente, Flavio Bolsonaro não participou da ação do PSL

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