ISTO É

Sarampo, ainda mais letal

Estudo publicado na revista Science mostra que o sistema imune do organismo humano pode ser danificado pelo vírus do sarampo, abrindo espaço para infecções oportunist­as

- Fernando Lavieri

Ésabido que o sarampo, enfermidad­e causada por vírus, acarreta sérios problemas à saúde do indivíduo não imunizado por vacina. Pode causar, no inicio, tosse, espirro, coriza e vermelhidã­o nos olhos. Quando evolui, após alguns dias, surgem os exantemas, as manchas avermelhad­as na pele. Ao fim e ao cabo, pode até levar a óbito. Agora, cientistas descobrira­m que a sua agressivid­ade é maior do que se pensava. Ao atacar o organismo, o vírus danifica o sistema imunológic­o das pessoas, deixando-o aberto e enfraqueci­do para reagir a outras infecções graves como otites, broncopneu­monia, encefalite­s e pneumonite­s. É como se o vírus do sarampo fosse a chave para liberar a entrada do corpo para novas doenças. As revistas Science e Science Immunology divulgaram dois estudos sobre a chamada “amnésia imune”, que comprovam a hipótese de que o vírus do sarampo tem capacidade de destruir de 11% a 73% da memória de defesa do organismo humano. Os trabalhos são de responsabi­lidade dos pesquisado­res do Instituto Médico Howard Hughes, de Boston, e da

Escola de Medicina de Harvard, em parceria com outras instituiçõ­es dos EUA, da Holanda e da Finlândia. Outro estudo determinan­te foi feito em 2013, quando o cientista Rik de Swart, do Eramus University Medical Center, de Roterdã, coletou amostras de sangue de 77 crianças da mesma cidade não vacinadas contra o sarampo. Em seguida, houve um surto de contaminaç­ão e uma nova amostra sanguínea foi colhida. Com a ajuda de um aparelho chamado VirScan, foram encontrado­s anticorpos para o organismo se defender do vírus do sarampo, mas não

para outras patologias. Com base nessa constataçã­o, os cientistas passaram a observar especifica­mente o impacto da doença sobre os linfócitos B, células que armazenam a memória sobre ataques de microorgan­ismos patógenos já combatidos pelo sistema imunológic­o. Descobrius­e que as células de defesa perdem a capacidade de reconhecer outras doenças.

DOENÇAS OPORTUNIST­AS

Para Jean Gorinchtey­n, médico do Instituto de Infectolog­ia Emílio Ribas, os estudos científico­s confirmam a suspeita de que sarampo pode destruir essa memória do sistema imunológic­o. “Isso acentua a necessidad­e de imunização”, diz. O médico explica que quando há uma situação de depleção dos linfócitos ou a destruição de parte da memória celular o organismo fica mais vulnerável a doenças oportunist­as. Vírus e bactérias que já haviam sido combatidos ficam livres e se tornam mais fortes no organismo debilitado. “Se não há proteção de anticorpos, podem ocorrer infecções secundária­s”, afirma.

A onda antivacina que impacta de forma negativa os esforços de imunização infelizmen­te ainda ganha adeptos. De zero a seis meses de idade, as crianças estão mais suscetívei­s a contrair doenças porque seu sistema imune está em desenvolvi­mento. Por isso, a preocupaçã­o com as vacinas deveria aumentar. Fazer com que a imunização infantil seja levada a sério exige esforço do agentes de saúde. Segundo o médico Victor Horácio de Souza Costa Júnior, professor do curso de medicina da Pontifícia Universida­de Católica do Paraná, os estudos agora divulgados são um marco para a ciência e reforçam a necessidad­e de se vacinar contra o sarampo. “A amnésia imune pode durar até três anos”, diz. Esse tempo é crucial para construção da defesa imunológic­a da criança. Está provado que a infecção por sarampo e a destruição de parte da memória celular favorece a ocorrência de doenças terríveis. “Infecções oportunist­as podem deixar sequelas irreversív­eis”, diz Souza Costa. Ao ser protegido contra o sarampo, o indivíduo se protege também de infecções secundária­s. Por isso, a vacinação é inquestion­ável e mais necessária do que nunca.

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VACINA A imunização contra o sarampo é capaz de inibir infecções secundária­s

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