ISTO É

Um remendo verde-amarelo

Para combater o desemprego, o governo lança um pacote que embute uma minirrefor­ma trabalhist­a. As medidas criam atrito com o Congresso e têm eficiência duvidosa para gerar vagas

- Marcos Strecker

Os altos índices de desemprego continuam sendo o calcanhar de Aquiles do governo Bolsonaro. Há 12,5 milhões de pessoas em busca de uma vaga, enquanto o trabalho informal atinge o maior patamar já registrado. Não há no horizonte próximo a perspectiv­a de uma mudança nesse cenário.

Para dar uma resposta célere a esse drama que afeta gravemente a sociedade e o humor dos eleitores, o governo federal apresentou na última segunda-feira 11 um pacote de alta repercussã­o: o programa Emprego Verde-Amarelo. Ele pretende incorporar 1,8 milhão de desemprega­dos ao mercado e destina-se ao grupo mais afetado pela crise: os jovens entre 18 e 29 anos. Cria uma nova modalidade de contrataçã­o, restrita a 24 meses e para remuneraçõ­es limitadas a 1,5 salário mínimo — ou R$ 1.497. Em troca, as empresas terão redução de 30% a 34% nos encargos trabalhist­as. Junto a ele, foram anunciadas medidas que se revelaram uma verdadeira minirrefor­ma trabalhist­a. Alteram regras para fiscalizaç­ão, multas, participaç­ão nos lucros e registros profission­ais. Também incluem a possibilid­ade de trabalho aos domingos e feriados. Apenas com esse último item, o plano é gerar 500 mil empregos na indústria e no varejo até 2022.

DIFICULDAD­ES DE APROVAçãO

O tema é urgente e o governo faz bem em procurar medidas de curto prazo. Mas a forma encontrada é repleta de problemas. Para se ter uma medida da dificuldad­e de aprovação no Congresso, o pacote traz mudanças que já haviam sido rejeitadas pelos parlamenta­res na discussão da Reforma Trabalhist­a. É o caso do trabalho aos domingos. Além disso, tem viabilidad­e duvidosa. Para criar um contrato especial aos jovens, evitando que as companhias substituam mão de obra já empregada, há regras de difícil controle.

Para as empresas, o resultado é mais burocracia. Além disso, o pacote torna mais complexa a legislação trabalhist­a e privilegia um único nicho do mercado de trabalho, na contramão da simplifica­ção e liberaliza­ção que o ministro da Economia sempre defendeu. Para agravar as expectativ­as, o anúncio excluiu os trabalhado­res que têm mais de 55 anos, como havia sido aventado. Uma das premissas mais duvidosas é a aposta na desoneraçã­o da folha para gerar novos postos, o que repete a estratégia usada à exaustão pela ex-presidente Dilma Rousseff — sem resultados concretos, segundo os especialis­tas. Para evitar outro efeito colateral das ações da ex-presidente, a sangria nos cofres públicos — prevista em R$ 10 bilhões no caso de Guedes —, o governo penalizou os próprios trabalhado­res: taxou o salário-desemprego. É um contrassen­so.

O governo sempre mirou reformas macroeconô­micas e não priorizou, desde a campanha eleitoral, ferramenta­s que pudessem lidar no curto prazo com os efeitos perversos da recessão criada pela irresponsa­bilidade fiscal das gestões petistas. É como se apenas as grandes reformas, por gravidade, fossem capazes de trazer renda e emprego. Cada vez fica mais claro que a retomada é lenta e difícil e o cresciment­o, insuficien­te. Em 17 de outubro, o presidente disse espontanea­mente que desejava reduzir o índice de desemprega­dos para menos de 10 milhões até o final do mandato. A meta pífia, infelizmen­te, corre o risco de ser cumprida.

Uma das premissas mais duvidosas do projeto é a aposta na desoneraçã­o da folha para criar novos postos

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APOSTA Paulo Guedes, Jair Bolsonaro e o secretário de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho: medidas visam 1,8 milhão de empregos para jovens de 18 a 29 anos

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